Rússia e Ucrânia mostram abertura para retomar negociações de paz, e Kiev rejeita qualquer acordo que inclua concessões territoriais

Rússia e Ucrânia mostram abertura para retomar negociações de paz, e Kiev rejeita qualquer acordo que inclua concessões territoriais

Após fim da resistência em Mariupol, forças russas intensificam ataques no Leste para tentar tomar Donetsk e Luhansk

Porto Velho, RO
— Rússia e Ucrânia deram sinais dos últimos dias de que podem retomar as negociações para chegar a um cessar-fogo e interromper os conflitos.

No domingo à noite, o principal negociador da Rússia, Vladimir Medinsky, disse em entrevista que a Rússia está disposta a retomar o diálogo, mas que a iniciativa de continuá-lo está com Kiev.

— De nossa parte, estamos prontos para continuar o diálogo — disse Medinsky à TV da Bielorrússia. —Congelar as negociações foi inteiramente iniciativa da Ucrânia. A bola está completamente do lado deles

No sábado, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, sugeriu que seu governo estava disposto a retomar as negociações com a Rússia, contanto Moscou não executasse os soldados ucranianos que se renderam em Mariupol, cidade portuária no Sudeste que sucumbiu na semana passada após semanas de férrea resistência.

Ainda assim, a Ucrânia descartou qualquer acordo de cessar-fogo que inclua concessões territoriais a Moscou.

“A guerra deve terminar com a restauração completa da integridade e soberania territorial da Ucrânia”, disse o chefe de gabinete presidencial da Ucrânia, Andriy Yermak, em um post no Twitter neste domingo.

No sábado, Mykhail Podolyak o principal negociador da Ucrânia nas negociações de paz, agora paralisadas, também descartou fazer concessões territoriais à Rússia:

— A guerra não vai parar. Será apenas colocada em pausa por algum tempo— disse Podolyak em entrevista no gabinete presidencial fortemente vigiado. — Eles vão começar uma nova ofensiva, ainda mais sangrenta e em grande escala. 

Qualquer concessão à Rússia não é um caminho para a paz, mas uma guerra adiada por vários anos. A Ucrânia não comercializa nem a sua soberania, nem territórios e nem os ucranianos que vivem neles.

Pedidos recentes para um cessar-fogo imediato vieram do secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e do primeiro-ministro italiano, Mario Draghi.

A questão da soberania será um dos principais de conflito nas negociações. Não há indicações de que a Rússia pretenda abrir mão do domínio áreas que conquistou durante a guerra, como a própria cidade de Mariupol e Kherson. Além disso, Moscou exige ainda que a Ucrânia reconheça a a soberania russa sobre a Península da Crimeia, anexada militarmente em 2014.

Neste domingo, o presidente polonês, Andrzej Duda, disse ao Parlamento da Ucrânia que ceder até "uma polegada" do território do país seria um golpe para todo o Ocidente e garantiu o forte apoio de Varsóvia à sua candidatura à União Europeia.

— Apareceram vozes preocupantes, dizendo que a Ucrânia deveria ceder às exigências do (presidente Vladimir) Putin. Somente a Ucrânia tem o direito de decidir sobre seu futuro — declarou Duda, o primeiro líder estrangeiro a se dirigir pessoalmente aos legisladores ucranianos desde a invasão russa em 24 de fevereiro.

A batalha de Donbass

A discussão sobre a retomada de negociações acontece enquanto a Rússia intensificou seu ataque na região leste de Donbass e parou de enviar gás para a Finlândia em sua mais recente resposta às sanções ocidentais e ao aprofundamento de seu isolamento internacional.

As últimas forças ucranianas se renderam na siderúrgica de Azovstal, em Mariupol, na sexta-feira. Não se sabe se ainda há soldados que não depuseram armas, mas eles constituiriam uma minoria absoluta.

O fim dos combates em Mariupol, a maior cidade que a Rússia conquistou, dá ao presidente russo Vladimir Putin uma rara vitória após uma série de contratempos em quase três meses de combate. A Rússia agora trava uma grande ofensiva em Luhansk, uma das duas províncias de Donbass.

Forças ucranianas e russas entraram em conflito perto da cidade de Sievierodonetsk, último reduto ucraniano em Luhansk, disseram autoridades militares e analistas neste domingo.

As forças russas tentaram romper as defesas da cidade de quatro direções, mas foram repelidas, de acordo com Serhiy Haidai, chefe da administração militar ucraniana em Luhansk. Os russos recuaram para suas posições anteriores, mas continuaram a disparar morteiros em áreas residenciais da cidade, danificando sete casas, escreveu Haidai no aplicativo de mensagens Telegram.

Analistas militares dizem que a Rússia está tentando controlar Sievierodonetsk para que possa avançar rumo à cidade de Kramatorsk, a oeste. Lá fica a sede do comando militar da Ucrânia no leste, onde a Rússia concentra sua ofensiva após não conseguir conquistar Kiev no início do confronto.

O Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), um órgão de pesquisa de Washington que acompanha o conflito, disse no sábado que as forças russas "intensificaram os esforços para cercar e capturar Sievierodonets;

Em um post anterior no domingo, Haidai disse que as forças da Guarda Nacional da Ucrânia destruíram uma peça de artilharia pesada, um Pion, que as tropas russas usaram para bombardear Sievierodonetsk e destruir uma ponte que ligava a cidade de Lysychansk na outra lado do rio Seversky Donets

Haidai disse que propagandistas russos se jactavam dando informações sosbre a localização da arma, permitindo que os defensores da cidade a mirassem com mais precisão.

“O castigo veio rápido”, escreveu ele.

Os militares ucranianos disseram que também destruíram veículos russos e uma ponte flutuante sobre o rio Siverskiy Donets, perto da cidade de Serebrianka, que fica a cerca de 32 quilômetros a oeste de Sievierodonetsk. Uma declaração militar ucraniana descreveu o plano russo de cruzar o rio como “missão impossível”.

O rio de mil quilômetros de extensão, que nasce na Rússia e serpenteia a sudeste pelo Donbasss, apresentou um obstáculo natural significativo à ofensiva russa. Algumas das maiores perdas da guerra da força de invasão até agora ocorreram durante uma tentativa de cruzar o rio no início deste mês.

Em discurso à noite, Zelensky afirmou que as forças russas destruíram 1.873 instituições educacionais na Ucrânia desde que invadiram em fevereiro. Ele descreveu a perda como sendo em uma “escala colossal”.

Interrupção no fornecimento de gás

A empresa estatal russa de gás Gazprom informou no sábado ter interrompido as exportações de gás para a Finlândia, que recusou as exigências de Moscou de pagar em rublos pelo gás russo depois que países ocidentais impuseram sanções pela invasão.

A Finlândia disse estar preparada para o corte dos fluxos russos. O país se inscreveu junto com seu vizinho nórdico Suécia na quarta-feira para se juntar à aliança militar da Otan, embora esteja enfrentando resistência da Turquia, membro da organização.

As nações ocidentais também aumentaram o fornecimento de armas para a Ucrânia. No sábado, Kiev recebeu outro grande impulso quando o presidente dos EUA, Joe Biden, assinou um projeto de lei para fornecer quase US$ 40 bilhões em ajuda militar, econômica e humanitária.

Putin chama a invasão de "operação militar especial" para desarmar a Ucrânia e livrá-la de nacionalistas radicais anti-russos. A Ucrânia e seus aliados descartaram isso como um pretexto infundado para a guerra, que matou milhares de pessoas na Ucrânia, deslocou milhões e destruiu cidades inteiras.


Fonte: O GLOBO

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