Campanhas de Lula e Bolsonaro intensificam contatos com diplomatas estrangeiros

Campanhas de Lula e Bolsonaro intensificam contatos com diplomatas estrangeiros

Representantes dos dois principais candidatos e da terceira via aumentam troca de informações, debatendo riscos e preocupações

Porto Velho, RO -  As duas principais campanhas presidenciais reforçaram, nas últimas semanas, uma disputa por contatos com diplomatas de outros países. Embaixadores estrangeiros também intensificaram a troca de informações com os representantes de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL) e dos candidatos da terceira via. 

O objetivo, de um lado, é buscar informações sobre o processo eleitoral brasileiro; do outro, conseguir dar o recado das campanhas aos principais países que observam o Brasil com interesse e preocupação.

As eleições brasileiras são um tema cada vez mais forte nos meios diplomáticos. Entre os países cujos representantes pediram reuniões com as campanhas estão Estados Unidos, Reino Unido, Espanha, França e Alemanha. 

Na quarta-feira, a embaixadora em Brasília indicada pelo presidente Joe Biden, Elizabeth Bagley, tratou do assunto durante sabatina no Senado americano. Diante dos ataques de Bolsonaro ao sistema de votação, ela disse que as instituições brasileiras estão preparadas para superar as dificuldades que podem ocorrer durante o processo eleitoral.

Na outra mão, os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP), Carla Zambelli (PL-SP) e Bia Kicis (PL-DF) estiveram recentemente num almoço com cerca de 14 embaixadores estrangeiros no qual, segundo confirmou ao GLOBO um dos participantes, “buscaram deixar bem claro que o governo não é golpista, e sim democrático”.

Já aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como o senador Jaques Wagner (PT-BA), têm conversado com embaixadores e defendido a necessidade de ampliar o número de observadores internacionais — até agora, os únicos confirmados são da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Como informou a coluna de Lauro Jardim, Wagner se reuniu recentemente com os representantes dos Estados Unidos e da França, com o intuito de criar uma espécie de cerco internacional pró-legalidade do processo eleitoral brasileiro. 

Na semana passada, o secretário de Relações Internacionais do PT, Romênio Pereira, teve conversas nas embaixadas de Reino Unido, Japão, Ucrânia, Rússia e Bulgária. Em todos os encontros, ele expressou a confiança nas urnas eletrônicas e defendeu que haja observadores internacionais, “porque, em todo momento, o presidente questiona o resultado”.

— Diferentemente do que aconteceu na última eleição americana, quando o Brasil foi um dos últimos a reconhecer a vitória de Biden, acho que no Brasil, seja o resultado que for, ele será reconhecido imediatamente por mais de 90% dos líderes mundiais, reduzindo o risco de contestação interna — aponta o secretário do PT, que já foi recebido em mais de 70 embaixadas.

Do lado bolsonarista, Kicis e Zambelli, no recente almoço com embaixadores estrangeiros, falaram sobre as observações que integrantes das Forças Armadas fizeram sobre o processo eleitoral, que consideram importantes, e sobre dúvidas em torno das urnas eletrônicas. 

Houve uma clara intenção de explicar esses questionamentos, mas, ao mesmo tempo, afirmar que elas são democratas e não golpistas. As duas deputadas também frisaram que suas posições não representam “uma ameaça à institucionalidade”. Estavam presentes representantes de embaixadas europeias, latino-americanas e de Washington.


Representantes das embaixadas têm a tarefa de traçar cenários em caso de reeleição de Bolsonaro, de retorno do ex-presidente Lula ao Palácio do Planalto ou de uma vitória de um outro candidato que consiga romper a polarização. Nas conversas, os diplomatas abordam a preocupação com a instabilidade no período eleitoral e buscam saber planos dos candidatos à Presidência sobre temas diversos como comércio exterior, meio ambiente, economia e a implementação da tecnologia 5G de telefonia celular. Outros temas são propostas para a Amazônia e a política ambiental, mercado de câmbio, inflação e política de preços da Petrobras.

Espuma e tigres de papel

A partir dessas conversas, embaixadas repetem como um mantra o discurso de que, apesar das declarações que flertam com práticas antidemocráticas do presidente Bolsonaro, as instituições brasileiras estão funcionando plenamente. A avaliação é que o que ocorre no país é mais consequência de uma campanha acirrada do presidente em busca de votos e da reconquista de eleitores que o elegeram em 2018.

Um funcionário do governo Bolsonaro que costuma falar com representantes estrangeiros disse que é natural o interesse pelo Brasil, que é um país importante. Ele disse que a mensagem passada a esses interlocutores é a de que há muita “espuma” interna” e que tudo faz parte do jogo político. O governo tentaria,assim, desdramatizar o que aparece “na mídia”.

Principal conselheiro de Lula na área internacional, o embaixador Celso Amorim, que foi chanceler e ministro da Defesa dos governos petistas, disse que, em conversas com diplomatas estrangeiros, costuma fazer análises gerais, sem ouvir perguntas específicas sobre ameaças às eleições:

— Não estou preocupado. Obviamente, ninguém pode ficar 100% seguro, mas estou confiante que essas ameaças são todas tigres de papel. Isso vai se dissipar, porque seria um golpe absurdo — disse.

Na semana passada, o encarregado de negócios da embaixada americana, Douglas Konnef, reuniu-se com o presidente do União Brasil e pré-candidato ao Planalto, deputado Luciano Bivar. Na conversa, Bivar relatou ao diplomata americano sua preocupação com os ataques que vêm sendo feitos às instituições democráticas no país.

— O Brasil de hoje não é o mesmo de 1964. Temos instituições sólidas e as defenderemos com todo o empenho necessário — disse Bivar.


Fonte: O GLOBO

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