Famílias mergulham na dor após morte de 11 recém-nascidos em hospital do Senegal

Famílias mergulham na dor após morte de 11 recém-nascidos em hospital do Senegal

Sobrecarregado pela Covid, sistema de saúde em crise vê dramas semelhantes ocorrerem em outras cidades do país

Porto Velho, RO -
Três semanas atrás, Ramata Gueye morreu após dar à luz um filho, Mohamed, aos sete meses de gravidez. Na quinta-feira, seu marido, El Hadj Gueye, ainda de luto, soube que Mohamed foi um dos 11 bebês mortos por um incêndio em uma ala neonatal de um hospital. 

O casal estava tentando ter um bebê há sete anos, disse Moustapha Cisse, primo do pai, que estava entre os familiares atordoados com os bebês mortos reunidos em frente ao hospital na cidade senegalesa de Tivaouane.

— É de partir o coração vê-lo perder sua esposa e, agora, seu filho — disse Cisse. — Não posso nem olhar nos olhos dele. Se ele tivesse outros filhos, talvez, mas era seu único filho.

A sorte não foi diferente para Diali Kaba, cuja filha de duas semanas estava na ala neonatal. Ela foi acordada na quinta-feira pela mãe, quando soube do incêndio.

As duas mulheres correram para o hospital juntas e Kaba foi autorizada a entrar para descobrir se seu filho estava entre as vítimas, enquanto sua mãe esperava ansiosamente do lado de fora.

Alguns minutos depois, Kaba emergiu em lágrimas. Sua filha estava entre os mortos. As duas mulheres se abraçaram, ambas chorando, até que Kaba foi ajudada a entrar em um carro e levada para casa em luto.

Curto-circuito

O prefeito de Tivaouane, Diop Sy, informou à rádio RFM que um curto-circuito causou o incêndio que, na noite de quarta-feira, espalhou-se em menos de cinco minutos. Ele disse que duas enfermeiras que escaparam não conseguiram salvar os bebês em suas incubadoras. Entre estes, todos morreram. Três outros bebês foram salvos, segundo Sy.

O presidente Macky Sall declarou três dias de luto nacional. Sall, que também está ocupando o cargo de presidente interino da União Africana, vai encurtar sua viagem a uma cúpula da UA na Guiné Equatorial para retornar ao Senegal nesta sexta-feira, disse seu escritório.

A tragédia ocorre em meio a preocupações existentes sobre o estado dos hospitais do país, que foram atingidos por uma série de incidentes mortais. Nesta quinta-feira, o ministro da Saúde do país, Abdoulaye Diouf Sarr, foi demitido.

O ministro do Interior, Antoine Felix Abdoulaye Dione, disse que Sall ordenou uma investigação sobre o incêndio, bem como uma auditoria das unidades neonatais em todo o país.

"Pedimos que todas as medidas necessárias sejam tomadas para evitar que uma tragédia semelhante aconteça novamente em nosso país", disse um comunicado da coalizão de oposição Yewwi Askan Wi em reação às mortes em Tivaouane.

Crise sistêmica

— Este é o plano de Deus ou são apenas os hospitais do Senegal que estão falhando? Precisamos levar essa questão ao governo — disse Cisse.

Quatro bebês morreram em um incêndio em um hospital na cidade de Linguere, no Norte, no ano passado, e uma mulher e seu bebê morreram em abril, depois que um hospital lhe negou uma cesariana durante um trabalho de parto prolongado.

Especialistas em saúde pública alertaram que muitos hospitais africanos subfinanciados e com falta de pessoal foram sobrecarregados além de suas capacidades pela pandemia de Covid, nos últimos dois anos, deixando-os incapazes de manter padrões de segurança aceitáveis.

O Senegal tem uma grande disparidade entre as zonas urbanas e rurais nos serviços de saúde. O incêndio nesta quarta-feira também ocorre semanas após três parteiras serem condenadas pela morte de uma mulher grávida que esperou em vão por uma cesariana na cidade de Louga. 

A equipe se recusou a atender Astou Sokhna , alegando que a cirurgia não havia sido agendada. A mulher morreu em 1º de abril, 20 horas depois de sua chegada na unidade de saúde. A criança não resistiu.

Amadou Kanar Diop, especialista em risco e segurança que inspecionou a unidade incendiada esta semana, disse que as paredes estavam carbonizadas e os funcionários de plantão pareciam estar sobrecarregados.

— Pode-se ver que eles usaram vários extintores de incêndio — disse ele à Reuters.

Tivaouane, localizada a cerca de 120 km da capital, Dakar, é um movimentado centro de transporte rodoviário e cidade sagrada que atrai peregrinos muçulmanos de todo o país da África Ocidental.


Fonte: O GLOBO

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