Atirador que matou 10 em Buffalo, nos EUA, teve como alvo bairro moldado por décadas de segregação racial

Atirador que matou 10 em Buffalo, nos EUA, teve como alvo bairro moldado por décadas de segregação racial

Payton S. Gendron afirmou que o motivo de atacar a área foi sua alta concentração de moradores negros; palco do tiroteio, mercado simboliza vitória dos residentes do Lado Leste

Porto Velho, RO – que o suspeito do ataque que matou dez no sábado disse ser sua razão para atacar a área – é resultado direto de décadas de segregação e de racismo sistêmico, de acordo com décadas de pesquisa.

Uma análise da Universidade de Michigan, com base em dados do censo de 2010, descobriu que a área metropolitana entre Buffalo e Niagara Falls era a sexta mais segregada do país quando classificada especificamente pela distribuição de residentes negros e brancos.

A segregação também é uma causa fundamental, segundo especialistas, de por que os esforços para trazer um renascimento econômico a Buffalo pouco fizeram pelos moradores negros. Um relatório da Universidade de Buffalo em 2021 descobriu que as condições de vida dos moradores negros da cidade, em medidas de saúde, moradia, renda e educação, melhoraram pouco e, em alguns casos, diminuíram nos 30 anos anteriores.

India Walton, enfermeira e ativista comunitária que quase derrotou Byron Brwon, o prefeito democrata que está no quinto mandato em Buffalo nas eleições do ano passado, chamou a cidade de “segregada por design” ao reagir ao tiroteio no Twitter.

“Nosso governo não pode impedir coisas que ele realmente causa”, escreveu ela.

De fato, como muitas grandes cidades americanas, Buffalo carrega uma cicatriz reveladora de segregação de longa data: uma rodovia construída nas décadas de 1950 e 1960 que corta diretamente um bairro negro, separando essas comunidades e sufocando o desenvolvimento econômico nas décadas seguintes.

Essa rodovia, a Via Expressa Kensington, fica a cerca de duas quadras do supermercado Tops, onde pelo menos 10 pessoas foram baleadas e mortas no sábado. Também perto do local do tiroteio está a City Honors High School, uma escola de ensino médio regularmente classificada como uma das melhores do país e que tem lutado para melhorar a quantidade de matrículas desproporcionalmente baixa de negros.

A destruição causada pela construção da Via Expressa Kensington incluiu a demolição da Humboldt Parkway, um espaço público arborizado projetado pelo lendário arquiteto Frederick Law Olmsted. Ele foi descrito como a “espinha” do bairro de classe média negra que estava surgindo na época.

A poluição da via expressa, que ajudou a dar aos moradores de subúrbios majoritariamente brancos fácil acesso ao centro da cidade, causou danos de longo prazo à saúde das pessoas que moram perto dela. 

A estrada também afastou os moradores negros do Lado Leste de instituições comunitárias importantes, como bancos e mercearias, de acordo com um relatório de 2018 do centro de estudos Partnership for the Public Good.

A própria existência do mercado Tops foi uma vitória duramente conquistada para os moradores do Lado Leste. O bairro é um deserto de comida, e os moradores vinham fazendo campanha por um estabelecimento como o Tops há mais de uma década quando ele finalmente abriu em 2003, de acordo com o jornal local The Buffalo News.

A escassez de opções ajudou a fazer do Tops um estabelecimento de bairro. Muitas famílias estavam fazendo compras para seus jantares de domingo lá quando o tiroteio começou. O suposto atirador disse em seu manifesto que, além de visar a área pela sua população negra, ele pesquisou os dias e horários em que o Tops estava mais movimentado.

* Colaboraram William K. Rashbaum e Alexandra E. Petri


Fonte: O GLOBO

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