'Pelo amor de Deus, esse homem não pode continuar no poder': em discurso, Biden ataca Putin e diz que mundo vive 'batalha pela democracia'

'Pelo amor de Deus, esse homem não pode continuar no poder': em discurso, Biden ataca Putin e diz que mundo vive 'batalha pela democracia'

Líder americano afirma que Rússia 'ameaça Europa com décadas de guerra', e defende medidas adotadas contra o Kremlin, especialmente as sanções; 'vocês não são nossos inimigos', diz ao povo russo

Porto Velho, RO -
No discurso que marcou o fim de uma viagem voltada a reforçar a aliança internacional contra a Rússia por sua invasão da Ucrânia, o presidente americano, Joe Biden, centrou suas críticas contra o líder russo, Vladimir Putin, afirmando que ele "sufoca" a democracia e, no final de sua fala, sugeriu que gostaria de vê-lo longe do Kremlin.

— Teremos um futuro diferente, mais brilhante, enraizado na democracia e princípios, na esperança e na luz. Pelo amor de Deus, esse homem não pode continuar no poder — disse Biden em Varsóvia, capital da Polônia.

Por meses, a Rússia afirma que a pressão internacional contra o país é uma tentativa de "mudança de regime", algo que a Casa Branca sempre negou. No começo do mês, o secretário de Estado, Antony Blinken, disse que "o povo russo deve decidir quem vai liderá-lo", seguindo a linha de evitar falar em mudança.

Após a declaração de Biden neste sábado, uma autoridade do governo americano reiterou essa posição, afirmando que, no discurso, a intenção do líder americano foi defender que "Putin não pode ter permissão para exercer poder sobre os vizinhos ou a região, e não estava discutindo o poder de Putin na Rússia, ou uma mudança de regime".

Mas, apesar da negativa, a fala de Biden, combinada a uma postura mais dura nos últimos dias em relação à Rússia, acabou sugerindo que Washington pode passar a questionar — direta ou indiretamente — a legitimidade de Vladimir Vladimirovich Putin à frente do governo desde 2000.

Em resposta às declarações, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a mudança no poder "não é algo a ser decidido pelo sr. Biden", acrescentando que "o presidente da Rússia é eleito pelos russos".

Ao longo do pronunciamento, no Castelo Real de Varsóvia, Biden lembrou de eventos que marcaram o fim da chamada Cortina de Ferro no Leste Europeu, o bloco formado por países socialistas que desmoronou nos anos 1980, além do próprio fim da União Soviética, em 1991. Evocando uma linguagem usada por líderes em Washington naquela época, disse que a "batalha pela democracia" não foi concluída com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e que a invasão russa é um sinal disso.

— Essa batalha não será vencida em dias ou semanas. Nós precisamos estar prontos para uma longa luta pela frente — disse Biden, diante de uma audiência que tinha, além de poloneses, representantes da comunidade ucraniana. — Toda geração precisou derrotar inimigos morais da democracia.

'Fracasso estratégico'

Além do apoio aos ucranianos, destacado na frase "nós estamos com vocês", dita logo no início do discurso, Biden destinou uma série de ataques a Putin, apontado por ele como o responsável pela guerra e por "sufocar" a democracia dentro e fora de seus país. Ele colocou em xeque o discurso oficial do Kremlin de que a chamada "operação militar especial", nome dado pelos russos à invasão, está sendo um sucesso.

— Essa guerra já é um fracasso estratégico para a Rússia — afirmou Biden. — Mas ele, Putin, pensou que os ucranianos se renderiam e não lutariam. Em vez disso, as forças russas encontraram um adversário à altura.

Em sua viagem à Europa, Biden tentou reforçar a ideia de que está ao lado dos ucranianos na defesa contra a invasão russa, muito embora os EUA e seus aliados da Otan, a principal aliança militar do Ocidente, não se comprometam com ações diretas na Ucrânia — no caso, para evitar um possível embate direto com as forças de Putin, o que poderia escalar o conflito militar para além das fronteiras ucranianas.

Biden acusou o líder russo, a quem havia chamado de "carniceiro" horas antes do discurso, de ignorar o diálogo diplomático com o Ocidente, dizendo que "não há uma justificativa ou provocação para a decisão russa pela guerra" e que isso pode ser um sinal de algo bem mais sombrio para todo o continente.

— Isso não passa de um desafio direto à ordem internacional em vigor desde o final da Segunda Guerra Mundial e ameaça com o retorno a décadas de guerras que devastaram a Europa antes do estabelecimento dessas regras. Não podemos voltar a essse estado. Não podemos — declarou.

Uma das motivações para a invasão citadas pelo Kremlin é a expansão da Otan rumo ao seu território, o que o governo russo vê como uma ameaça existencial. Essa foi uma das bases dos argumentos russos apresentados antes do conflito, considerados como "inconsistentes" pelos governos ocidentais.

— Um criminoso quer mostrar a ampliação da Otan como um projeto imperial voltado à desestabilização da Rússia. Nada está mais distante da realidade do que isso. A Otan é uma aliança defensiva, nunca teve como objetivo derrotar a Rússia — disse Biden.

Na mesma fala, ele disse que a aliança permanece unida, e alertou para que o líder russo "sequer pense em tocar em um centímetro" do território da aliança.

O presidente americano listou a série de sanções, até certo ponto sem precedentes, adotadas contra a Rússia, incluindo controles sobre o fluxo de capitais, sobre o mercado financeiro e mesmo sobre a movimentação de pessoas. 

Os impactos, destacou, começam a ser sentidos em todos os setores da economia — nesta parte, chegou a afirmar que a cotação do dólar chegou a 200 rublos, mas, na realidade, ela permaneceu abaixo dos 90 rublos durante a semana.

— Antes da invasão, a Rússia era a 11ª economia do mundo. Logo não estará nem nas 20 maiores — afirmou. Apesar de projeções iniciais mostrarem uma possível queda de 9% no PIB russo em 2022, não há como prever tal queda no ranking.

O presidente americano também declarou que não considera o povo russo como inimigo dos EUA.

— Sempre falei direta e honestamente: povo da Rússia, vocês não são nossos inimigos. Me recuso a acreditar que vocês aceitam o assassinato de crianças inocentes e avós, ou que aceitam hospitais, escolas, maternidades sendo atacadas por mísseis russos e bombas — concluiu.


Fonte: O GLOBO 

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