Choque econômico de Milei dá sinais positivos, mas política trava avanços, dizem especialistas

Choque econômico de Milei dá sinais positivos, mas política trava avanços, dizem especialistas

 Presidente da Argentina completa um ano no cargo nesta terça-feira (10)


Presidente argentino, Javier Milei - REUTERS/Ammar Awad

Porto Velho, RO - O presidente argentino Javier Milei completa nesta terça-feira (10) seu primeiro ano à frente da Casa Rosada.

Em 2023, durante a campanha eleitoral, o economista libertário vendeu como seu principal objetivo a promoção de uma “terapia de choque” na economia do país.

Economistas ouvidos pela CNN apontam que as medidas adotadas lançam perspectivas positivas para o futuro da Argentina, e isso pode ser visto com a diminuição da diferença entre o câmbio oficial e o paralelo, além da disparada da bolsa argentina.

“Já é possível ver sinais positivos de atividade econômica, com o FMI projetando crescimento de 5% para a economia argentina”, ressalta Roberto Luis Troster, sócio da Troster & Associados.

A velocidade da mudança, porém, esbarra em questões políticas, como a falta de maioria governista no Congresso, e nos efeitos colaterais das medidas, escancarado pelo aumento da pobreza no país.

Em um primeiro momento, o efeito da política de Milei foi uma desaceleração da economia argentina, mas com o tempo, espera-se recuperação por parte do indicador, à medida que as demais variáveis econômicas vão se ajustando.Camilo Tiscornia, diretor da C&T Asesores Económicos, vê a questão cambial com olhos positivos.

“Hoje os diferentes tipos de câmbio têm uma diferença entre si de cerca de 5%, sendo que anteriormente era próximo dos 200%”, afirma Tiscornia.

Os principais alvos de sua administração passariam a ser o elevado déficit público, a inflação de três dígitos – o que por consequência deixa os juros fortemente elevados no país — e o câmbio depreciado.

Mirar nas contas públicas, por tanto, seria um primeiro passo para controlar os demais problemas.

“A questão fundamental para o controle inflacionário foi a eliminação do déficit fiscal, pois permitiu ter um maior controle sobre a emissão monetária e também facilitou o ingresso de divisas no mercado argentino, uma vez que também ajudou a controlar o câmbio e aumentar as reservas do Banco Central do país”, avalia Tiscornia.

“Essas medidas fiscais foram necessárias para levar a disparada na confiança nesses quesitos da economia argentina”, conclui o economista.

O índice Merval, principal indicador da bolsa da Argentina, valorizou-se ao longo dos últimos 12 meses.

Para Lima, da Ouro Preto Investimentos, o otimismo do mercado reflete a aprovação de reformas estruturais nos últimos meses, com destaque para a retomada de confiança dos investidores internacionais na agenda de Milei.

Reflexo disso foi a mudança da classificação de risco do país pela Fich Ratings, que elevou em novembro a nota de longo prazo de “CC” para “CCC”.

“A desregulamentação econômica, retirada de subsídios e possível dolarização são medidas vistas como atrativas para aumentar a previsibilidade econômica. A confiança dos investidores também é impulsionada pelo suporte de nomes respeitados no setor financeiro e pelo potencial de uma economia mais aberta, o que torna a Argentina mais competitiva”, pontua.


Custo das reformas

Luis Troster ressalta que o choque promovido “tem um custo social muito elevado”, que se reflete na pobreza crescente do país. O desemprego no país também acompanhou o ritmo de alta no período.

Ainda assim, o mercado tem visto com bons olhos o que chama de um “mal necessário” que deve ser resolvido no longo prazo, segundo Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.

“O custo social das reformas é significativo. No entanto, essas políticas são vistas como um ‘mal necessário’ para corrigir os desequilíbrios econômicos acumulados ao longo de décadas”, diz Lima.

Para o especialista, a reversão dos índices sociais dependerá do êxito das reformas promovidas por Milei para estabilizar a economia e atrair investidores — além da capacidade de o governo implementar políticas redistributivas no futuro.

“Embora o impacto inicial das reformas continue sendo severo, a promessa de crescimento sustentável pode melhorar as condições socioeconômicas no longo prazo, mas isso exigirá paciência e apoio político contínuo”, conclui.

Sem maioria no Legislativo argentino, Milei tem dificuldade para fazer o processo andar no ritmo radical que prometia durante a campanha.

“Embora tenha iniciado reformas estruturais para estabilizar a economia, os desafios políticos e sociais, como resistência Legislativa e impacto desigual das medidas, acabou desacelerando o progresso”, pontua o analista da Ouro Preto Investimentos, que destaca o câmbio ainda fortemente depreciado do país como um dos pesos que ainda carrega.

Fonte: CNN Brasil

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