Horas
depois, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais usou
as suas redes sociais para rebater a crítica, embora sem mencionar Lira
ou mesmo o episódio
Porto Velho, RO. O
presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), elevou o tom
das críticas contra o ministro-chefe da Secretaria de Relações
Institucionais, Alexandre Padilha (PT), e afirmou nesta quinta-feira
(11) que o petista é seu "desafeto pessoal" e "incompetente".
As
declarações foram dadas à imprensa em um evento do agronegócio no
Paraná, um dia após o plenário da Câmara ter aprovado a manutenção da
prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), suspeito
de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco
(PSOL-RJ).
Lira foi questionado por jornalistas sobre a tese de
que ele teria saído enfraquecido após a votação na quarta (10). Como a
Folha de S.Paulo mostrou, a avaliação de parlamentares é que o
presidente da Casa saiu enfraquecido, uma vez que seus principais
aliados encabeçaram as articulações pela derrubada da detenção.
"Essa
notícia hoje, que você está tentando verbalizar, porque os grandes
jornais fizeram, foi vazada do governo e basicamente do ministro
Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, incompetente. Não existe
partidarização, eu deixei bem claro que ontem a votação é de cunho
individual, cada deputado é responsável pelo voto que deu. Não tem nada a
ver", disse Lira.
Horas depois, o ministro-chefe da Secretaria
de Relações Institucionais usou as suas redes sociais para rebater a
crítica, embora sem mencionar Lira ou mesmo o episódio. Padilha publicou
um vídeo no qual é elogiado por Lula, que fala que ele tem o "cargo
mais espinhoso do governo".
"Ter ouvido isso ontem, publicamente,
do maior líder político da história do Brasil, é sempre uma honra para
toda a equipe do Ministério das Relações Institucionais. Agradecemos e
estendemos esse reconhecimento de competência ao conjunto dos ministros e
aos líderes, vice-líderes e ao conjunto do Congresso, sem os quais não
teríamos alcançado os resultados elogiados pelo presidente Lula, com a
aprovação da agenda legislativa prioritária para o governo e para o
Brasil", escreveu o ministro.
Lula já havia dito na semana passada que Padilha é o "cara que rói o osso" e que "tem a função mais difícil do governo".
Desde
o fim do ano passado, Lira tem criticado a atuação de Padilha, o
principal articulador do Executivo no Congresso Nacional. Ele chegou a
levar essas queixas ao próprio Lula (PT) e a indicar que, sem a troca do
ministro, a pauta do governo na Câmara não avançaria.
Desde
então, o diálogo entre os dois foi rompido -Lira, agora, trata
diretamente com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, após acordo firmado
com o presidente.
Em fevereiro, em um sinal de pacificação, Lira
e lideranças da Câmara foram recebidos pelo mandatário no Palácio da
Alvorada. O encontro contou com a participação de Padilha. No entanto, a
relação permaneceu tensa entre os dois.
Nesta quinta, o
presidente da Casa também criticou o que considera "vazamento" do
governo federal à imprensa, classificando isso como "lamentável".
"É
lamentável que integrantes do governo interessados na estabilidade da
relação harmônica entre os Poderes fiquem plantando essas mentiras,
essas notícias falsas que incomodam o parlamento. E depois, quando o
Parlamento reage, acham ruim", disse Lira.
Segundo relatos de
líderes da Casa feitos à reportagem, Lira se incomodou com o que
considerou uma interferência do Executivo na votação na Câmara no caso
da prisão de Brazão. A interlocutores ele teria se queixado
especificamente de declarações públicas de Padilha de que o governo
orientaria sua base pela manutenção da detenção.
Um aliado do
presidente da Câmara afirmou ainda que ele deverá reagir nos próximos
dias para dar um recado ao governo. Nesta quinta, o próprio Lira indicou
que o governo pode enfrentar dificuldades. "Vai pegar fogo essa
semana", disse.
O chefe da Casa negou ainda que o caso tenha
influência nas votações, na base aliada do governo e nas eleições para
presidência da Câmara, que, segundo ele, só será tratada a partir de
setembro.
Aliado do parlamentar, o líder da União Brasil, Elmar
Nascimento (BA), foi um dos principais articuladores para derrubar a
prisão. Ele é tido como um dos mais cotados para suceder Lira em 2025.
O
presidente da Câmara disse ainda que o resultado da votação evidencia
que a Casa "está incomodada com algumas interferências do Judiciário em
seu funcionamento".
O caso da prisão de Brazão ocorreu em meio a
um clima de revolta com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal)
Alexandre de Moraes. Nos bastidores, deputados defendiam mandar um
recado ao ministro por ver violações de prerrogativas de parlamentares
em decisões recentes.
Ao ser questionado se o resultado da
votação serviu para dar recado ao STF, Lira disse que "ninguém dá recado
a poder nenhum". "Os deputados votaram de acordo com a sua consciência,
o resultado do painel transcreveu o que aqueles deputados pensavam. É
importante que acima de tudo a gente preze pelo devido processo legal,
respeito às leis, instituições e principalmente os Poderes."
O
presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), comentou a reação de
Lira e os ataques a Padilha. "Ninguém é perfeito, mas ninguém também é
tão mau assim", disse. "A gente tem que conviver com as divergências e
eu espero que a relação do parlamento com o Executivo, especialmente com
essa peça-chave que é o ministro Alexandre Padilha, possa ser a melhor
possível."
Pacheco disse que tem simpatia pelo ministro e que ele
é competente. "Da parte do Senado, nós vamos buscar ter o melhor
relacionamento possível com o governo e com o próprio ministro Padilha."
Fonte: Folhapress