Os investidores estrangeiros ampliaram ainda mais as posições compradas
em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contrato, cupom cambial e
swap), que atingiram o pico histórico US$ 70,3 bilhões
Tirando altas pontuais e bem limitadas na abertura dos negócios e no início da tarde, o dólar à vista operou em baixa no restante do pregão. Com mínima a R$ 5,2198 por volta das 15h45, a divisa encerrou o pregão em queda de 0,47%, cotada a R$ 5,2439 - ainda nos maiores níveis desde março de 2023. Apesar do refresco hoje, o dólar acumula valorização de 4,56% em abril.
Uma vez mais, houve giro forte no mercado de dólar futuro, com o contrato para maio movimentando mais de US$ 18 bilhões. Ontem, os investidores estrangeiros ampliaram ainda mais as posições compradas em derivativos cambiais (dólar futuro, mini contrato, cupom cambial e swap), que atingiram o pico histórico US$ 70,3 bilhões, segundo dados da B3. Já os fundos locais mantêm posições vendidas de US$ 8,5 bilhões.
"Hoje é um dia de ressaca, sem agenda relevante. A moeda brasileira se valoriza, em uma correção que era amplamente esperada após a alta muito forte do dólar na segunda e na terça-feira", afirma o economista André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, para quem os fatores que levaram ao estresse no mercado de câmbio nos últimos dias ainda não se dissiparam.
Galhardo lembra a fala de ontem do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, chancelando a expectativa de cortes de juros apenas no segundo semestre e de forma parcimoniosa, após dados fortes de varejo nos EUA. As tensões geopolíticas seguem no radar, embora Israel não tenha até o momento retaliado o Irã pelos ataques a solo israelense no fim de semana.
"Os elementos principais que levaram à depreciação do real foram externos. O dólar subiu também contra moedas fortes. O real já é geralmente uma moeda mais sensível, mas acabou ficando mais volátil com a divulgação da mudança da meta fiscal de 2025", diz Galhardo, em referência ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias (PLDO), apresentado pelo governo na última segunda-feira.
As atenções se voltaram ao longo da tarde à participação do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento da XP Investimentos, em Washington. Em meio a especulações de que o BC poderia intervir novamente no câmbio para amenizar o movimento de depreciação do real nos últimos dois dias, Campos Neto afirmou que a autarquia não reage a movimentos de reprecificação do prêmio de risco brasileiro com intervenções no mercado cambial.
Campos Neto também passou um recado mais duro em relação à política monetária, abrindo espaço para que a curva de juros passasse a espelhar desaceleração do ritmo de corte da Selic de 0,50 ponto para 0,25 ponto em maio. Ele disse que o BC "não tem medo de fazer o necessário" para fazer a inflação à meta e que já tentou "mostrar isso ao mercado".
No que foi interpretado como uma sinalização de que o BC pode não seguir o forward guidance de corte da taxa Selic em 0,50 ponto na "próxima reunião", Campos Neto afirmou que, dentro de vários cenários, pode haver um quadro de aumento de incerteza e estresse global que levaria o BC a alterar seu cenário-base.
Para Galhardo, da Remessa Online, a perspectiva de que o BC mire em uma taxa Selic terminal mais perto de 10% pode mitigar pressões mais fortes sobre a moeda brasileira. "Essa é a percepção que fica com a fala do Campos Neto. Isso garante um juro real ainda expressivo e impede altas mais fortes do dólar", dia Galhardo, que, por ora, projeta Selic termina em 9,50%, mas com viés para 9,75%. "Vejo o câmbio numa faixa entre R$ 5,00 R$ 5,15, trabalhando mais perto do limite superior da banda em abril e com queda gradual em maio e junho. Vamos encerrar o primeiro semestre com dólar orbitando R$ 5,00".
por Estadao Conteudo