Com cenário externo ruim, maior intervenção do governo em empresas abertas traz mais riscos

Com cenário externo ruim, maior intervenção do governo em empresas abertas traz mais riscos

Para o mercado, ano passado foi marcado por dados positivos, diminuição do risco-país e alta nas ações. Agora, maior percepção de risco afasta investidores e torna a renda fixa mais atrativa

Para Vitor Sousa, analista da corretora e gestora Genial Investimentos, o aumento da intervenção do governo em empresas abertas, estatais ou não, como Eletrobras, a mineradora Vale e a Petrobras, que se intensificou desde o início deste ano, é um “balde de água fria” para investidores em ações.

O ano passado, primeiro ano do novo governo, foi marcado por dados positivos do mercado financeiro. Reagindo a vitórias da ala mais pragmática da política econômica, com a aprovação do novo arcabouço fiscal e o avanço da Reforma Tributária, o risco-país caiu e as cotações das ações subiram.

Nas palavras de Sousa, “o Brasil estava bom no relativo”, na comparação com outros mercados, já que a inflação estava elevada nos Estados Unidos e a Europa vem lidando com a guerra entre Rússia e Ucrânia na sua vizinhança.

Agora, o lado externo piorou neste primeiro trimestre, com a perspectiva de que os juros seguirão elevados nos EUA por mais tempo – o que atrai os fluxos globais de investimento financeiro para o mercado americano.

O problema é que a intervenção do governo mexe no que estava bom, segundo Sousa. Com a taxa básica de juros (a Selic, hoje em 10,75% ao ano) em queda desde agosto e empresas com bons desempenhos operacionais, seria o momento de investir.

– É uma Bolsa barata, com as empresas até entregando um operacional bom e com um processo de corte de juros. Era para estar todo mundo indo para lá, mas não observamos isso – disse Souza.

A maior percepção de risco, também por causa de uma piora na sinalização de equilíbrio das contas do governo, tem elevado as taxas de juros dos títulos de dívida pública de longo prazo. Ou seja, há um incentivo para que os investidores deixem as ações de lado e invistam em renda fixa.

Segundo Lívio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG, uma metodologia desenvolvida pela equipe de consultores para analisar a taxa de câmbio, desagregando os efeitos entre externos e domésticos, mostra que as componentes internas pioraram junto com as de fora.

Numa analogia com o mercado financeiro como um todo, Ribeiro, que também é pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), explicou que a componente doméstica poderia estar com uma dinâmica positiva, mitigando o quadro externo ruim:

– O Brasil pode perder uma oportunidade, quando o mundo está favorável e o país faz besteira, ou, como no momento atual, quando o mundo não está favorável, o Brasil está tornando a sua vida mais difícil.

Além disso, a piora de perspectiva para o mercado financeiro contribui para um clima de incerteza na economia real. Ano passado, os investimentos caíram 3%, conforme os dados do Produto Interno Bruto (PIB), do IBGE.

Para Ribeiro, o aumento da intervenção do governo nas empresas, combinado com a transição para o novo sistema de impostos que será construído pela Reforma Tributária, pode manter o quadro desfavorável para investir.


Fonte: O GLOBO

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