‘Brasil será nossa joia da coroa fora da Noruega’, diz executivo da petroleira Equinor

‘Brasil será nossa joia da coroa fora da Noruega’, diz executivo da petroleira Equinor

Philippe Mathieu, vice-presidente de Exploração e Produção Internacional da companhia diz que mercado brasileiro está no centro da estratégia da empresa, que deve gerar cem mil postos de trabalho com projetos em óleo e gás

Primeira operadora internacional de um campo do pré-sal, o de Bacalhau, a norueguesa Equinor se prepara para mudar o patamar de sua operação no Brasil. O projeto na Bacia de Santos começa a produzir no ano que vem. Em outra frente, a empresa aposta no mercado de gás com o Campo de Raia, na Bacia de Campos, que vai responder por 15% da demanda no país.

Juntos, os dois projetos devem responder por cem mil empregos, entre diretos e indiretos. Além disso, a empresa fará, na próxima semana, uma cerimônia de inauguração do projeto de Mendubim, no Rio Grande do Norte, o segundo de energia solar no país.

Segundo Philippe Mathieu, vice-presidente de Exploração e Produção Internacional da Equinor, o investimento não é à toa. A petroleira acaba de passar por uma revisão de portfólio. Saiu de países como Nigéria e Azerbaijão e está aumentando investimentos nos mercados de maior potencial, como o Brasil. “O Brasil não é só óleo e gás para nós, mas um dos poucos países em que atuamos onde estamos desenvolvendo a gama completa de nossa estratégia, um portfólio de energia.” A empresa tem operações principalmente nos EUA e no Reino Unido, além de projetos em outros países, como Angola e Argentina.

Leia a seguir trechos da entrevista:

Qual é o peso do Brasil na produção de petróleo da Equinor?

Se você considerar a produção atual de petróleo, a da Noruega soma 1,2 milhão de barris por dia. A área internacional tem 700 mil barris. E para 2030 vamos produzir 800 mil. O interessante é que vamos aumentar a produção em 15%, mas o fluxo de caixa vai aumentar em 50%.

A razão para isso é que estamos elevando o patamar do portfólio, saindo de países com ativos mais maduros e incluindo projetos de nova geração. O Brasil é muito importante, provavelmente um dos países onde vamos ter maior crescimento do nosso negócio. 

Descrevo o Brasil como a joia da coroa do nosso portfólio internacional fora da Noruega, uma joia que está em construção. Temos uma boa colaboração com a Petrobras no Campo de Roncador, operamos o Campo de Peregrino. Bacalhau (no pré-sal da Bacia de Santos) está sendo construído, começa a produzir em 2025, e Raia (de gás) entra em operação em 2028.

Qual será o cenário quando os projetos começarem a operar?

Quando tivermos os projetos em operação, o Brasil será o mais importante no nosso portfólio internacional, quando começarmos a produzir em Raia, em 2028.

A razão pela qual escolhemos fazer esses investimentos foi pela estabilidade regulatória, o fato de ter uma indústria que pode apoiar as operações. Estamos falando de offshore em águas profundas, que é o que sabemos fazer. E Raia vai contribuir para prover gás ao Brasil, com 15% da demanda do país. Além de ajudar a desenvolver o mercado de gás no Brasil, impulsionando a indústria.

Bacalhau é o primeiro projeto do pré-sal que tem um operador estrangeiro. Como tem sido a experiência?

Estamos trazendo a experiência com o que já fizemos na Noruega. Temos a colaboração com a Petrobras em Roncador e estamos descobrindo os desafios operacionais. Tem sido uma jornada: trazer o conhecimento da Noruega e adaptar ao contexto brasileiro.

Quantos empregos esses projetos vão criar?

Bacalhau e Raia vão criar 50 mil vagas cada.

Projeto de Mendubim, no Rio Grande do Norte, o segundo da empresa de energia solar no país — Foto: Divulgação Scatec

E quais são as perspectivas de contratação aqui?


O mercado está aquecido. Esperamos que, por nossa estratégia, a forma como fazemos negócios, sejamos um empregador atraente para quem queira estar conosco. Medimos performance não só sobre o que você entrega, mas como entrega. Isso reforça a importância da cultura e dos valores da empresa.

Estão concluindo a montagem de módulos do FPSO de Bacalhau em Cingapura. Como veem o cenário para o setor naval aqui?

Vemos a possibilidade de desenvolver parte dos contratos de fornecimento aqui, é parte do compromisso de conteúdo local. Mas, como reflexão, seria interessante pensar não só na construção de novas plataformas, FPSOs, mas no descomissionamento (desmobilização quando chega ao fim da vida útil) de instalações offshore. Isso representa um mercado que está crescendo, é algo que está sendo discutido na Noruega com fornecedores, e é oportunidade de negócios.

Mesmo com esses projetos em curso, ainda há interesse em participar de leilões aqui?

Sim, é justo dizer que temos muito para administrar no momento. Nosso foco principal é conciliar os campos de Peregrino, Roncador, Bacalhau e Raia. Mas é um jogo de longo prazo, então a resposta é sim.

Nos últimos anos, as grandes petroleiras diziam ter a ambição de se tornar empresas de energia. Esse discurso parece ter perdido força. O que explica a mudança de direção?

É o que temos visto nos últimos anos. Isso foi provocado pelo começo da guerra na Ucrânia, que teve sérias repercussões na Europa. Sem o gás russo no mercado, houve aumento do preço do gás e da energia. De repente, a preocupação em torno da energia não era em impacto climático, mas em segurança energética e preço viável.

Isso provocou uma abordagem mais balanceada, no sentido do que é necessário para a transição do sistema global de energia. O que se traduziu em algumas mudanças na estratégia das empresas. Saíram de “estamos focados em lidar com questões climáticas, investir em renováveis e talvez reduzir óleo e gás no portfólio” para algo como “vamos focar um pouco mais em óleo e gás e reduzir um pouco as ambições em fontes renováveis.” Vimos a área de renováveis ser afetada por inflação, quebra na cadeia de suprimentos e aumento de custos em geral, o que tornou os projetos mais desafiadores.

Mudaram de estratégia?

Não mudamos. Seguimos com a crença de que precisamos contribuir para a transição energética. Desde o início tentamos criar equilíbrio, uma linha clara de onde queremos ir e nos ajustar à realidade do mercado. A estratégia segue a mesma, o foco é gerar valor.

O que temos tido é flexibilidade. Há alguns anos, nosso foco era mais em eólica offshore, mas, com a crise, vimos que estava desafiador encontrar projetos atraentes, temos sido mais cautelosos e enfatizado renováveis onshore (em terra). O Brasil se encaixa nisso. Temos um projeto solar, Apodi, e vamos inaugurar outro semana que vem, Mendubim, no Rio Grande do Norte. O futuro é sobre transição energética.


Fonte: O GLOBO

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