BC fala em aumento da incerteza sobre as contas públicas e defende executar metas fiscais já estabelecidas

BC fala em aumento da incerteza sobre as contas públicas e defende executar metas fiscais já estabelecidas

Ata do Copom também diz que 'esmorecimento' pode elevar juro de equilíbrio da economia

O Banco Central avaliou nesta terça-feira que aumentou a incerteza sobre as contas públicas diante da discussão dentro do governo Lula sobre a mudança da meta fixada para o ano de 2024, de zerar o déficit fiscal. Afirma que isso já vem pressionando as taxas de juros futuras, que servem de base para os empréstimos bancários. E defendeu seguir as metas já estabelecidas.

"O Comitê vinha avaliando que a incerteza fiscal se detinha sobre a execução das metas que haviam sido apresentadas, mas nota que, no período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco", afirma o Banco Central.

A informação consta na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros da economia brasileira foi reduzida de 12,75% ao ano para 12,25% ao ano. Este foi o terceiro corte seguido na taxa Selic, que começou a recuar em agosto deste ano.

"Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas", defende o BC.

No documento a autoridade monetária reafirma que os cortes acontecerão em meio ponto nas "próximas reuniões". Com isso, ao considerar as reuniões de dezembro e janeiro, a Selic ficará em 11,25%.

O BC também afirma que o "esmorecimento" no esforço de reformas estruturais e, também, da disciplina fiscal, em conjunto com outros fatores, têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia. A taxa neutra é aquela que não reduz e nem aumeta a inflação. Na prática, é como se os juros precisasem estar mais altos para reduzir a inflação.

"O Comitê reforçou a visão de que o esmorecimento no esforço de reformas estruturais e disciplina fiscal, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade," afirma o BC.

Queda da inflação

A redução dos juros reflete a queda dos índices de inflação no país e também a melhora das expectativas. De acordo com o Boletim Focus, o mercado financeiro estima que o IPCA vai encerrar o ano em 4,63%, dentro do limite de tolerância da meta (4,75%). Para 2024, a projeção está em 3,91%, e, para 2025, em 3,5%, também dentro da margem.

Ao justificar a decisão na última semana, o BC destacou que o Copom entende que “essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025", diz o texto.

O mercado financeiro estima que a Selic irá terminar 2024 em 9,25% e chegará ao final de 2025 em 8,75%. O risco de alteração da meta fiscal do ano que vem, com um enfraquecimento do arcabouço fiscal, pode fazer com que o BC seja mais conservador ao cortar a Selic a partir de janeiro.

Houve uma piora no que o BC chama de “desancoragem” da expectativa de inflação para anos seguintes. Ou seja, um distanciamento das projeções do nível de preços da meta de 3% (a partir de 2024).

Esse fator de preocupação, segundo o Banco Central, requer um “contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação” dos arcabouços fiscal e monetário no país.

A projeção de inflação do Copom está em 3,6% para 2024, aumento de 0,1 ponto em relação aos 3,5% projetados na reunião anterior.

Cenário externo

Roberto Campos Neto, presidente da instituição, e os oito diretores avaliam em unanimidade que há aumento da incerteza no cenário global, citando diretamente a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas.

Outro movimento mencionado pelo BC é como o aperto monetário global pode trazer pressões sobre o câmbio e impactar a inflação no Brasil. O foco de atenção é a taxa de juros nos EUA.

Quando o juro americano sobe, o capital internacional tende a se deslocar com mais força para lá, saindo de países emergentes como o Brasil. A consequência direta é no câmbio, com a desvalorização da moeda brasileira e aumento dos preços de ativos cotados em dólar.

“O Comitê avalia que houve um progresso desinflacionário relevante, em linha com o antecipado pelo Comitê, mas ainda há um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da inflação à meta, o que exige serenidade e moderação na condução da política monetária”, cita a Ata do Copom.


Fonte: O GLOBO

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