Putin acusa Ocidente de desencadear 'guerra' contra a Rússia

Putin acusa Ocidente de desencadear 'guerra' contra a Rússia

Após o breve discurso do presidente, milhares de militares desfilaram na emblemática Praça Vermelha da Moscou, com bandeiras russas e soviéticas.

Porto Velho, RO - O presidente Vladimir Putin adotou um tom agressivo e militar, habitual desde que sua invasão na Ucrânia começou há quase 15 meses, para acusar o Ocidente de tentar desmembrar a Rússia em um discurso para marcar o 78º Dia da Vitória. 

A festa que celebra o triunfo soviético sobre os nazistas na Segunda Guerra Mundial, contudo, neste ano esteve com segurança reforçada após um suposto ataque de drones contra o Kremlin no dia 3, apesar de o mandatário afirmar que o mundo está diante de um "ponto de inflexão".

A demonstração de poderio na habitual parada militar na Praça Vermelha foi menor que nos últimos anos, incluindo a utilização de um só tanque — um T-34 vintage, que restou do conflito que terminou em 1945 — menos blindados e lança-mísseis. A demonstração aérea de aviões e helicópteros também foi suspensa sem maiores esclarecimentos. O centro esvaziado da capital, outrora lotada nas comemorações de 9 de maio, contrastava com o grande volume de militares nas ruas e com o tom adotado por Putin:

—A civilização está novamente em um ponto de inflexão. Uma guerra real foi desencadeada contra nossa pátria — afirmou o presidente, perante soldados e políticos russos, incluindo centenas que lutaram na Ucrânia, em um discurso de aproximadamente 10 minutos.

Buscando reforçar o apoio público vacilante à sua operação militar especial, nome usado pelos russos para o conflito que se prolonga, Putin disse que as tropas na linha de frente têm o futuro da Rússia nas mãos. Na lapela de seu paletó, o presidente usava uma fita de São Jorge, emblema militar do império czarista recuperado tanto pelos soviéticos quanto pelo Kremlin desde que chegou ao poder — símbolo vetado em algumas ex-repúblicas soviéticas.

— Estamos orgulhosos dos participantes da operação militar especial, de todos aqueles que lutam na linha de frente (...). Nada é mais importante agora que a tarefa militar de vocês. A segurança do país depende, hoje, de vocês — disse ele para uma Praça Vermelha, fechada para cidadãos comuns. — O futuro do nosso Estado e do nosso povo depende de vocês — completou, lançando mão do nacionalismo.

Desde que chegou ao poder em 1999, Putin transformou o Dia da Vitória em uma das bases ideológicas de seu governo e motivador de nacionalismo. A União Soviética perdeu 27 milhões de pessoas naquilo que os russos chamam de Grande Guerra Patriótica e a data ainda é bastante simbólica para muitos no país.

Apesar da participação popular reduzida em comparação com outros anos, uma série de ex-líderes soviéticos desembarcaram em Moscou. O quórum de atuais mandatários de antigas repúblicas da URSS também foi um dos mais altos dos últimos anos: entre eles, os chefes de governo de Bielorrússia, Cazaquistão, Armênia, Quirguistão, Turcomenistão, Uzbequistão e Tajiquistão.

Putin criticou as "elites ocidentais globalizadas", acusando-as de "provocar conflitos sangrentos" e de conspiraram para sua aniquilação total:

— O objetivo deles, e não há nada de novo aqui, é conseguir o colapso e a destruição de nosso país, destruir os resultados da Segunda Guerra Mundial e, finalmente, quebrar o sistema de segurança global e o direito internacional, estrangular qualquer centro de desenvolvimento soberano — afirmou Putin.

Após afirmar que seu país é alvo de uma "conspiração internacional" e que "qualquer ideologia supremacista é criminosa", o presidente afirmou ironicamente que para os russos não há "povos hostis, nem no Ocidente nem no Oriente". Segundo ele, "como a grande maioria de pessoas do planeta, queremos ver um futuro de paz, liberdade e estabilidade".

O desfile militar ocorreu logo após o discurso de Putin, e o desânimo explica-se também pelas ameaças de sabotagem após o ataque contra o Kremlin na semana passada — os russos acusam os ucranianos, que por sua vez classificam o ato como uma sabotagem de Moscou para justificar ataques aéreos mais fortes contra o território ucraniano. Na segunda-feira, 35 drones foram lançados contra Kiev. Houve novos ataques nesta terça.

Com as tropas e centenas de milhares de reservistas nas linhas de frente, desfiles militares foram suspensos em 24 cidades pelo país, algumas delas a milhares de quilômetros da Ucrânia, como na Sibéria. Em outro sinal de que o apoio popular à operação diverge da retórica presidencial, os desfiles do chamado Regimento Imortal também foram cancelados pelo país, marcha cidadã que começou em 2012 com a bênção das autoridades porque buscava inicialmente retratar os pais e avós que sofreram perdas nas guerras.

O desfile coincide também com um momento importante da guerra, em que os ucranianos se preparam para lançar uma contraofensiva nesta primavera boreal (outono no Hemisfério Sul). Sinalizando que aprenderam com erros anteriores, os russos ergueram uma linha de defesa de 800 a 900 quilômetros para evitar avanços de Kiev.

A expectativa inicial era que os avanços ucranianos acontecessem ainda em abril, algo que não ocorreu. Agora, alguns analistas afirmam que os planos podem ser adiados para o início do verão no Hemisfério Norte, em meio a declarações vindas da alta cúpula ucraniana de que os ataques podem ficar aquém do esperado pelo Ocidente — documentos do Pentágono vazados no mês passado também indicam que os ucranianos enfrentam dificuldades.

Ausência sentida também foi a da China, que não enviou nenhum representante de alto nível para as celebrações em Moscou, apesar da relação cada vez mais próxima entre os dois — e da crescente dependência russa de Pequim frente ao crescente isolamento internacional. Em sua fala, contudo, o presidente russo fez uma menção a um tema sensível para o país vizinho:

— Recordamos e honramos as conquistas dos soldados chineses na luta contra o militarismo japonês — afirmou ele.


Fonte: O GLOBO

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