PL das Fake News: bolsonarismo pauta redes sobre regulação de plataformas, e governo Lula busca unificar discurso

PL das Fake News: bolsonarismo pauta redes sobre regulação de plataformas, e governo Lula busca unificar discurso

Campanha de desinformação articulada por apoiadores do ex-presidente domina a discussão sobre o projeto e vira entrave para o Planalto

Porto Velho, RO - Após o adiamento da votação do Projeto de Lei (PL) das Fake News, apoiadores da proposta, que tem sido defendida pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), terão como desafio ampliar sua participação no debate da regulação de plataformas nas redes sociais. Em diferentes momentos da tramitação do PL, o tema acabou pautado pelo bolsonarismo, que lançou mão de uma campanha de desinformação contra a proposta.

O cenário desfavorável ao campo que quer a aprovação do projeto é apontado em um levantamento de pesquisadoras do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio e do Centro de Administração e Políticas Públicas da Universidade de Lisboa. Críticos ao PL tiveram engajamento superior: foram 50 vezes mais visualizações em seus vídeos do YouTube, quase oito vezes mais interações nas publicações do Facebook, e cinco vezes mais engajamento nas postagens do Instagram.

A análise englobou três momentos: as expectativas com a votação pela urgência do PL, entre 18 e 28 de abril; a entrada das big techs no debate, após a aprovação da urgência para a votação do PL, entre 28 de abril e 2 de maio; e o adiamento da votação do PL 2630, entre 2 e 6 de maio. No YouTube, que registrou a maior diferença entre os campos, conteúdos contrários à aprovação do PL somaram 4,8 milhões de visualizações, ante apenas 84 mil visualizações de postagens favoráveis ao texto.

Para Letícia Capone, pesquisadora da PUC-RJ e professora substituta de Comunicação da UFRJ, os números indicam que perfis contrárias à proposta, sobretudo de bolsonaristas, conseguiram manter uma narrativa constante, concisa e unificada nas redes antes e após o adiamento de sua votação, a de que o PL se traduziria em “censura”. Em mais de 93% das publicações de perfis de extrema-direita com o termo “2630”, referência ao número do projeto, a palavra “censura” foi mencionada.

A alegação falsa também foi usada pelo Telegram, que disparou um texto contra o PL aos seus usuários. A plataforma precisou fazer uma retratação após determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

— Existe um alinhamento da argumentação central, que é o de atribuir censura colando o termo ao próprio nome do PL — acrescenta.

Já o campo favorável à aprovação do PL, que incluiu o governo, se posicionou de forma fragmentada, com dificuldades de articular uma narrativa dominante sobre a pauta. Uma reação só ocorreu após a campanha explícita das big techs contra a regulamentação, o que ajudou a unificar o discurso, em meio aos questionamentos às ações das plataformas de redes sociais. O maior destaque foi a crítica à decisão do Google em estampar um link de uma nota contra o PL na capa de sua página de busca.

— Houve dificuldade do campo em se articular e se organizar em torno dessas publicações. O campo progressista só entra depois que as plataformas começam a se posicionar contra o PL — pontua Capone.

Um ponto destacado pelas pesquisadoras é que o perfil do presidente Lula mencionou, no período, o combate às fake news de modo genérico, sem associação com o projeto de lei. A defesa da proposta, no governo, partiu principalmente do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, e do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom), Paulo Pimenta. Não houve, porém, uma “articulação de mensagem”.

O governo discute como promover convergência na comunicação e contribuir no debate do tema, mas o entendimento é o de que se trata de um projeto do Congresso. A avaliação é que a mentira em tom alarmista é mais mobilizadora nas redes do que a defesa do texto, pela forma como funcionam os algoritmos, e que unificar o discurso vai contribuir para esse enfrentamento.

Na semana passada, a defesa do PL ganhou o apoio de fã-clubes de artistas, como os das cantoras Anitta, Juliette, Luísa Sonza, Pabllo Vittar, nas redes. A própria cantora Juliette compartilhou o slogan da campanha batizada de “contra fake e hate” e focada no combate a discursos de ódio. 

A participação de artistas em debates políticos também foi observada ao longo do governo Bolsonaro e nas eleições do ano passado. O objetivo é atingir segmentos que não costumam se envolver nessas discussões e mobilizar os mais jovens.


Fonte: O GLOBO

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