O que é o Novo Start, o último tratado de controle de armas entre EUA e Rússia, suspenso por Putin

O que é o Novo Start, o último tratado de controle de armas entre EUA e Rússia, suspenso por Putin

Acordo permitia que países verificassem quantidade de ogivas nucleares implantadas em mísseis e é considerado bem-sucedido

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou nesta quinta-feira que o seu país suspenderá a sua participação no “Novo Start”, o último tratado de controle de armas remanescente entre a Rússia e os EUA. O tratado tem o objetivo de reduzir o número de armas nucleares que cada país possui.

A suspensão acontece após reclamações do governo americano de que a Rússia se recusava a permitir a entrada de inspetores em seu território. Após o anúncio russo, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a saída russa do acordo é “irresponsável”.

Putin disse que, embora não vá retirar completamente a Rússia do tratado, não permitiria mais que os países da Otan (aliança militar do Ocidente) inspecionassem o arsenal de seu país. O governo russo diz que não é apropriado autorizar inspeções enquanto os países enfrentam tensões relacionadas à guerra na Ucrânia.

1. O que é o tratado Novo Start?

O Novo Start (Novo Tratado de Redução de Armas Estratégicas, na sigla em inglês) limita o número de ogivas nucleares que os EUA e a Rússia podem instalar em mísseis ou armamentos como veículos ou aeronaves, deixando-as prontas para serem usadas.

O tratado foi assinado em 2010 pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e pelo então presidente da Rússia, Dmitry Medvedev, e entrou em vigor no ano seguinte, em substituição ao tratado Start, que vigorou de 1994 a 1999.

O tratado permite que inspetores americanos e russos assegurem que o outro lado está cumprindo suas obrigações. Um componente crucial do tratado eram as 18 visitas a instalações por ano para verificar o número de ogivas. Além disso, o acordo permitia o monitoramento remoto e por satélite.

As inspeções presenciais no âmbito do acordo foram suspensas em março de 2020 por causa da pandemia de Covid-19. Em 2021, o tratado foi prorrogado por cinco anos, após o antecessor de Biden, Donald Trump, pressionar a Rússia sem sucesso para renegociá-lo.

Havia negociações marcadas para ocorrer no Egito em novembro passado relacionadas à retomada das inspeções, mas a Rússia as adiou e nenhum dos lados estabeleceu uma nova data.

2. O tratado deu certo?

Sim. O tratado tornou mais simples o processo de contagem de ogivas nucleares em comparação ao tratado Start e facilitou as inspeções. O processo de checagem era considerado muito minucioso: uma equipe de inspeção poderia saber quantas ogivas há em cada míssil em uma base escolhida ao acaso, por exemplo.

Juntos, EUA e Rússia detêm cerca de 90% das armas nucleares do mundo. Os dois países reduziram os seus arsenais nucleares aos limites acordados até o prazo de 2018, estabelecido no tratado.

Os EUA tinham 1.420 ogivas implantadas e 659 sistemas de lançamento estratégico implantados em 1º de setembro de 2022, de acordo com o Departamento de Estado. Já a Rússia tinha 1.549 ogivas implantadas, atribuídas a 540 lançadores estratégicos implantados.

O tratado não limita o número de ogivas nucleares operacionalmente inativas que podem ser armazenadas, um número na casa dos milhares.

O valor do Novo Start também ia além dos termos do próprio tratado. O seu regime de verificação, concentrado na contabilização de ogivas, ia além do que era possível no passado, oferecendo condições melhores para futuros tratados.

3. Por que as inspeções pararam?

As inspeções nucleares na Rússia foram inicialmente suspensas devido à pandemia de Covid-19. Os EUA dizem que a Rússia se recusou a retomá-las em agosto de 2022 por causa das crescentes tensões sobre a guerra na Ucrânia.

Uma tentativa de reiniciar as negociações no Cairo em novembro falhou depois que a Rússia decidiu adiá-las.

O embaixador da Rússia nos EUA, Anatoly Antonov, disse no início de fevereiro que seu país “continua comprometido com os objetivos do novo tratado Start”, mas considera “injustificado, inoportuno e inapropriado convidar militares dos EUA para nossas instalações estratégicas”, enquanto as duas nações estão em lados opostos do conflito na Ucrânia.

Em 21 de fevereiro, Putin anunciou que a Rússia suspendia sua participação no tratado.

4. Qual é a situação de outros acordos de controle de armas?

Em 2019, Donald Trump retirou os EUA do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), assinado em 1987 pelo presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, e pelo líder soviético, Mikhail Gorbachev. Em 2020, ele saiu do Tratado de Céus Abertos, sob o qual mais de 30 nações concedem umas às outras acesso ao espaço aéreo para o objetivo de coletar informações sobre atividades militares.

O governo Biden decidiu não entrar novamente no Tratado de Céus Abertos por preocupações de que Moscou não tomava medidas para cumprir o acordo.

4. O que esperar agora?

A Rússia várias vezes insinuou que pode vir a usar armas nucleares no conflito na Ucrânia, mas sempre deu um passo atrás em seguida e emitiu declarações para acalmar as tensões.

EUA e Rússia têm sistemas de verificação para assegurar que as suas armas não serão usadas acidentalmente, após quase ter havido alguns acidentes durante a Guerra Fria.

Os EUA várias vezes sugeriram que, se a Rússia usar armas nucleares na Ucrânia, a resposta será muito dura, possivelmente com envolvimento direto de forças da Otan contra os soldados russos no campo de batalha.


Fonte: O GLOBO

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