Ucrânia estima em mais de R$ 2,5 trilhões o impacto econômico da guerra em seu território

Ucrânia estima em mais de R$ 2,5 trilhões o impacto econômico da guerra em seu território

Kiev calcula que tropas russas tenham danificado pelo menos 24 mil quilômetros de estradas

Porto Velho, RO - A Ucrânia começa a medir o impacto econômico causado pela invasão russa, iniciada em 24 de fevereiro. Consciente de que as organizações internacionais — e em particular a União Européia— começam a destinar fundos para a reconstrução do país, mesmo com o conflito ainda em curso, o governo da Ucrânia já está traçando seus primeiros números. 

Uma estimativa do Ministério da Economia, em conjunto com a prestigiada Escola de Economia de Kiev, mostra um custo entre 532 bilhões e 566 bilhões de euros nestes quase três meses de guerra.

O cálculo inclui os danos gerados direta e indiretamente, uma vez que são estimados a diminuição do Produto Interno Bruto (PIB), a suspensão de investimentos, a queda de mão de obra e o custo extra na Defesa. Essas perdas representam cerca de três vezes e meia o PIB da Ucrânia, que é de 155 bilhões de euros.

Paralelamente às estimativas de perdas globais na esfera econômica, as autoridades mantêm aberto o chamado projeto Rússia Pagará. Graças a isso, elas calculam os danos às infraestruturas que o conflito está deixando em todo país desde a primeira hora da invasão. 

A última atualização, datada de quinta-feira, chega a 91 bilhões de euros. Um terço corresponde aos 31 bilhões de euros de perdas detectadas em edifícios residenciais, 28 bilhões em estradas (com 24 mil quilômetros danificados) e 10 bilhões em 219 indústrias e fábricas. Os danos nas casas bombardeadas se estendem por 38,6 milhões de metros quadrados.

Quanto às cidades, Mariupol se destaca acima de todas as outras. Os estragos da guerra deixam perdas no valor de 9,4 bilhões de euros nesta cidade às margens do Mar de Azov. Neste caso, dada a impossibilidade de recolher informação in loco, o método de cálculo assenta essencialmente na análise de imagens de satélite, explica Max Nefiodov, co-chefe do programa Rússia Pagará e ex-vice-ministro da Economia.

Os estragos, claro, também estão em aeroportos, portos, igrejas, estações de trem, hospitais, escolas, creches...

Além de possíveis crimes de guerra ou violações de direitos humanos, as informações e dados que estão sendo reunidos servirão para reivindicar ressarcimento a Moscou, como indica o nome do programa.

—Temos certeza de que, mesmo que não seja um processo rápido, a Rússia vai pagar — diz Nefiodov em entrevista realizada pelo aplicativo Zoom.

A Ucrânia, acrescenta ele, seguirá o modelo da reivindicação feita após a invasão do Kuwait pelo Iraque em 1990 e cujo montante de 50 bilhões de euros não foi pago até janeiro deste ano.

O projeto Rússia Pagará persegue três objetivos, detalha o ex-vice-ministro. Em primeiro lugar, que o governo e os cidadãos, doadores ou investidores saibam sempre como está o país. Em segundo lugar, acelerar a recuperação com a distribuição dos fundos necessários à medida que forem necessários em cada região. E terceiro, entrar em litígios para recuperar o que foi perdido.

Além da Escola de Economia de Kiev, outras instituições colaboram no cálculo geral dos prejuízos — como o gabinete do presidente, o Ministério da Economia, o Ministério das Infraestruturas e o Ministério das Comunidades e Territórios em Desenvolvimento, entre outros.

As fontes para os cálculos são muito diversas: a mídia, o próprio governo, câmaras municipais, autoridades regionais, testemunhas, páginas de internet, grupos de redes sociais ou imagens de satélite e drones. 

Os números são aproximados, reconhecem, porque as circunstâncias atuais impedem uma avaliação mais exaustiva. Apesar de tudo, explica Nefiodov, eles nunca diferem mais de 10% das estimativas feitas pelo Banco Mundial.

Dança e comércio

Na rua, os cidadãos lidam com a dura realidade enquanto tentam recuperar sua vida anterior. Na Praça da Prefeitura de Borodianka, a 50 quilômetros de Kiev, 50 pessoas dançam ao som de música ao vivo em meio ao tremular de bandeiras nacionais. Muitos estão vestidos com as tradicionais camisas locais bordadas com fios de várias cores. É a técnica conhecida como vishivanka, celebrada todo dia 19 de maio.

Enquanto isso, outros 50 vizinhos compram em um mercado montado no mesmo local. Os ambulantes foram convidados pelo prefeito para reanimar a economia o mais rápido possível. Na barraca de Sergei, de 32 anos, protegida do sol com um pano nas cores azul e amarelo da bandeira ucraniana, pode-se comprar quase tudo: de conservas a produtos de higiene.

— Temos mais clientes do que antes da guerra porque as lojas estão fechadas, mas quem vem comprar leva menos coisas — explica.

Ao lado de Sergei está Svletana, 35 anos. Mais pessimista, ela deixa de atender a repórter assim que vê um cliente chegar para perguntar o preço de um queijo.

— É difícil trabalhar aqui — diz a mulher, apontando com cara de pesar para o prédio de nove andares, destruído por uma bomba.

É verdade que muitos compradores não estão lá, porque em Borodianka, de 13 mil habitantes antes da guerra, e outras cidades ao redor de Kiev que foram ocupadas por um mês pelas tropas russas, a maioria da população ainda não retornou.


Fonte: O GLOBO

Postar um comentário

Please Select Embedded Mode To Show The Comment System.*

Postagem Anterior Próxima Postagem