Martín Fernandez: o copo meio cheio na liga de clubes

Martín Fernandez: o copo meio cheio na liga de clubes

Analisadas de perto, as diferenças entre o que querem um e outro grupo são muito menores do que já foram um dia

Porto Velho, RO - A indústria do futebol brasileiro está diante de uma bifurcação: ou segue o caminho de todos os países onde o futebol é importante, ou continua abraçado aos exotismos que causam dano a jogadores, técnicos, clubes grandes, clubes pequenos e até à seleção brasileira, em troca de gerar benefício para os suspeitos de sempre. 

Não se trata aqui de considerar a criação de uma liga para organizar o Campeonato Brasileiro a solução para todos os problemas. As bases sobre as quais esse edifício será erguido são tão ou mais importantes.

É tentador querer ver o copo meio vazio quando o noticiário sobre as negociações a respeito da criação da liga descrevem tapas na mesa, bravatas e o uso de termos como “emboscada”. Natural: o idioma corrente no futebol profissional — no Brasil e em qualquer parte do mundo, incluindo o civilizado, vide Superliga europeia — continua sendo a desconfiança. 

Mas alguns dias depois da reunião em São Paulo que resultou no embrião de uma liga, é possível sim ver o copo meio cheio. Os envolvidos na discussão pelo menos já demonstraram que não querem quebrar o copo.


Hoje os clubes da Série A estão divididos em dois blocos. Um com seis integrantes — Flamengo, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos e Bragantino — concentra mais PIB. O outro, com os demais 14 — América-MG, Atlético-MG, Athletico-PR, Atlético-GO, Avaí, Botafogo, Ceará, Coritiba, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Internacional e Juventude — tem mais representatividade nacional. 

O simples fato de haver duas correntes, e não vinte, pode ser visto como avanço. Até outro dia, o Campeonato Brasileiro deveria ter, na cabeça de cada dirigente e cada torcedor, vinte regulamentos diferentes.

Analisadas de perto, no detalhe, as diferenças entre o que querem um e outro grupo são muito menores do que já foram um dia. A julgar pelo que dizem seus dirigentes, tanto em público quanto em conversas reservadas, os modelos defendidos são semelhantes, com ajustes a serem feitos aqui e ali. 

Também é saudável que, dentro de cada bloco, estejam clubes que até outro dia se engalfinhavam publicamente por qualquer bobagem. Sinal de que, quando algo maior está em jogo, as picuinhas que pautam debates idiotas nas redes sociais são deixadas de lado.

A atual geração de dirigentes de clubes está diante da oportunidade de criar um calendário decente, estabelecer critérios mais justos de distribuição de receitas e trazer o futebol brasileiro para o presente. Poucas vezes as condições foram tão favoráveis — até a CBF, que sempre sabotou essas iniciativas, agora está a favor.

Se essa chance for desperdiçada, é melhor nos contentarmos de vez com torneios estaduais enormes, times desfalcados por causa das seleções, clubes grandes esfolados com 75 jogos por temporada e pequenos sem ter o que fazer na maior parte do ano.

Outro patamar

Ainda não foram inventados termos para qualificar a campanha em curso com o objetivo de derrubar Paulo Sousa do cargo de técnico do Flamengo. Faria bem a instituição se demonstrasse publicamente que não faz parte disso.


Fonte: O GLOBO

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