Ucrânia denuncia massacre de civis em cidades ocupadas por tropas russas

Ucrânia denuncia massacre de civis em cidades ocupadas por tropas russas

Imagens mostram corpos nas ruas de Bucha, próximo a Kiev, após retirada dos militares da Rússia, que nega relatos; autoridades dos EUA e Europa condenam 'crimes de guerra' e pedem investigação

Porto Velho, RO
— O governo ucraniano denunciou neste domingo um "massacre deliberado" de civis em áreas que haviam sido ocupadas pelo Exército russo na região de Kiev, em particular na cidade de Bucha, a 37 quilômetros da capital. 

As denúncias, que se seguiram à divulgação de imagens de corpos em roupas civis nas ruas, causaram indignação entre as autoridades dos Estados Unidos e da Europa, que condenaram as mortes como "crimes de guerra" e pediram investigações internacionais. A ONU também falou de "possíveis crimes de guerra" e pediu investigações. A Rússia negou as acusações.

Jornalistas da agência AFP viram 20 corpos, todos em trajes civis, nas ruas de Bucha. Um dos corpos tinha as mãos amarradas pelas costas. Jornalistas da Reuters também viram corpos nas ruas e em uma fossa coletiva. 

As forças russas se retiraram da região ao redor de Kiev após Moscou afirmar que terminara a primeira fase da guerra e que iria se concentrar "na libertação" de áreas no Leste, onde atuam os separatistas pró-Moscou, e no Sul. 

Tropas ucranianas já tinham reconquistado algumas áreas e reocuparam as restantes das quais os russos se retiraram.

— Todas essas pessoas foram baleadas — disse o prefeito de Bucha, Anatoly Fedoruk, à AFP. — Estas são as consequências da ocupação russa.

Fedoruk disse também que cerca de 300 moradores foram mortos durante ocupação da cidade. Neste domingo as autoridades anunciaram a descoberta de uma fossa coletiva com mais de 70 corpos. 

Segundo a procuradora-geral ucraniana, Iryna Venediktova, ao todo foram encontrados corpos de 410 civis nos territórios da região de Kiev ocupados pelos russos, sendo que 140 foram examinados pelos peritos forenses.

O Ministério da Defesa da Ucrânia postou um vídeo exibindo três corpos em roupas civis à beira da estrada em Bucha, um deles com as mãos amarradas atrás das costas.

“Civis estavam sendo executados arbitrariamente, alguns com as mãos amarradas nas costas”, escreveu o ministério em um tuíte.

O vídeo mostra caminhões desviando de corpos na estrada. Em seguida, apresenta um post do conselheiro sênior da Presidência da Ucrânia, Mikhailo Podolyak.


"Região de Kiev. O inferno do século XXI. Os corpos de homens e mulheres que morreram com as mãos amarradas. Os piores crimes do nazismo estão de volta à Europa. Isso foi feito deliberadamente pela Rússia", tuitou ele.

Uma equipe do New York Times contou seis corpos vestidos em roupas civis nas ruas e calçadas de Bucha, mas o jornal disse não ter conseguido verificar de forma independente as afirmações do Ministério da Defesa da Ucrânia de que as pessoas teriam sido executadas. 

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de "genocídio" e responsabilizou seus líderes pelos crimes cometidos em território ucraniano.

— Quero que todos os líderes da Federação Russa vejam como estão cumprindo suas ordens. Esse tipo de ordens. Esse tipo de cumprimento. E há uma responsabilidade comun. Por esses assassinatos, por essa tortura, pelos braços arrancados pelas explosões, pelos disparos na nuca — disse ele.

Em um post na rede social Telegram, o Ministério da Defesa da Rússia classificou como "fake news" as denúncias de supostas atrocidades cometidas pelos militares do país e tachou as imagens e fotografias de corpos de "mais uma provocação" do governo ucraniano. 

Moscou pediu uma reunião do Conselho de Segurança da ONU nesta segunda-feira para discutir o tema. Em ocasiões anteriores, o Kremlin sempre negou que suas forças tenham civis como alvo.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu ao G7, grupo que reúne sete das maiores economias do mundo, que imponha novas sanções "devastadoras" a Moscou. Ele disse já ter pedido ação ao Tribunal Penal Internacional (TPI).

"Ainda estamos reunindo e procurando corpos, mas o número já chegou às centenas. Há cadáveres nas ruas (de Bucha). Eles mataram civis enquanto estavam lá e quando estavam deixando as aldeias e cidades", disse o ministro no Twitter.
'Soco no estômago'

As reações internacionais às acusações ucranianas foram imediatas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, se disse "profundamente impactado" pelas imagens e pediu uma investigação independente em comunicado. 

Em entrevista à CNN neste domingo, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que imagens de um grande número de ucranianos mortos em Bucha após a retirada da Rússia foram um "soco no estômago":

— Esta será a realidade diária enquanto a brutalidade da Rússia contra a Ucrânia continuar — afirmou.

De sua parte, a secretária de Relações Exteriores britânica, Liz Truss, disse estar "chocada com as atrocidades em Bucha e em outras cidades da Ucrânia".

"Relatos de que forças russas atacaram civis são abomináveis. O Reino Unido está trabalhando com outros para apoiar a investigação de crimes de guerra" pelo TPI, disse Truss no Twitter neste domingo. "Os responsáveis serão responsabilizados."

O TPI já tinha aberto uma investigação sobre possíveis crimes de guerra cometidos na Ucrânia, com alguns líderes ocidentais, incluindo o presidente dos EUA, Joe Biden, chamando o presidente russo, Vladimir Putin, de "criminoso de guerra".

O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, disse que "Putin e seus apoiadores vão sentir as consequências" de suas ações, enquanto o vice-chanceler e ministro da Economia, Robert Habeck, disse ao jornal Bild que "este terrível crime de guerra não pode ficar sem resposta". 

A ministra da Defesa alemã, Christine Lambrecht, defendeu que é hora de a União Europeia (UE) cogitar a interrupção das importações de gás da Rússia. A própria Alemanha vem sendo contrária a essa medida porque a UE depende em 40% de seu consumo do gás russo.

O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, também condenou as "atrocidades perpetradas pelo Exército russo", no mesmo tom do chanceler da França, Jean-Yves Le Drian, que falou em "abusos maciços".

"A UE ajudará a Ucrânia e as ONGs a reunir as provas necessárias para [realizar] ações perante os tribunais internacionais", alertou Michel.

A Human Rights Watch (HRW), por sua vez, divulgou um comunicado dizendo ter encontrado "vários casos de forças militares russas cometendo violações das leis de guerra" em regiões controladas pela Rússia, como Chernihiv, Kharkiv e Kiev.

A HRW, com sede em Nova York, referiu-se a Bucha em seu comunicado, para o qual disse ter entrevistado dez pessoas, incluindo testemunhas, vítimas e moradores locais.

— Os casos que documentamos representam crueldade e violência indescritíveis e deliberadas contra civis ucranianos — disse Hugh Williamson, diretor da HRW para Europa e Ásia Central. — Estupro, assassinato e outros atos violentos contra pessoas sob custódia das forças russas devem ser investigados como crimes de guerra.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, também acusou soldados russos de plantarem minas e outras armadilhas enquanto se retiravam do Norte da Ucrânia.

— Eles estão deixando para trás um desastre completo e muitos perigos... Primeiro, os ataques aéreos podem continuar. Segundo, eles estão plantando minas em todo o território, casas, equipamentos e até nos corpos das pessoas que mataram", disse Zelensky no sábado em mensagem de vídeo. — Estamos avançando com cuidado, e todos que retornam a esta área também devem ter cuidado.

Enquanto as forças russas pareciam se retirar do Norte, uma série de explosões foi ouvida na manhã de domingo no histórico porto de Odessa, no Mar Negro, onde foram atingidos uma refinaria e três depósitos de combustíveis, segundo um comunicado russo.

As forças russas se retiraram das áreas do Norte, e Moscou parece estar se concentrando no Leste e no Sul da Ucrânia, onde já controla grandes áreas e continua o cerco a Mariupol, no litoral do Mar de Azov, onde pelo menos 160 mil pessoas estão confinadas sem eletricidade e enfrentando escassez de água, comida e remédios.

Neste domingo, a Ucrânia denunciou um ataque russo a um hospital em Rubishne, na região de Luhansk, com um morto e três feridos.

— Qual é o objetivo das forças russas? Eles querem tomar Donbass e o Sul da Ucrânia. — disse Zelensky no vídeo. — Qual é o nosso objetivo? Defender nossa liberdade, nosso território e nosso povo.

Mas o conselheiro presidencial ucraniano, Mikhailo Podolyak, alertou nas redes sociais que "sem armas pesadas, não seremos capazes de expulsar" a Rússia.

Vladislav Nazarov, oficial do comando regional sul da Ucrânia, afirmou que o ataque não provocou vítimas.


Fonte: O GLOBO

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