As lições sobre a gestão de elenco do Flamengo que Ceni deixou e Paulo Sousa começa a utilizar

As lições sobre a gestão de elenco do Flamengo que Ceni deixou e Paulo Sousa começa a utilizar

Ex-treinador, hoje no São Paulo, adversário deste domingo, teve dinâmica diferente com lideranças sem abrir mão de conceitos e disciplina

Porto Velho, RO - O Flamengo inicia hoje uma sequência difícil pelo Campeonato Brasileiro, que tem o São Paulo de Rogério Ceni como primeiro adversário, às 16h, no Maracanã. E ao rever o técnico que deu ao clube seu último título relevante, justamente o torneio nacional de 2020, volta à tona um parâmetro que deixa o atual treinador rubro-negro, Paulo Sousa, em desvantagem.

Internamente, um dos motivos para que a implementação de um novo sistema de jogo tenha sofrido resistência do elenco do Flamengo foi a falta de habilidade do português ao lidar com as estrelas da equipe. 

Ex-jogador e acostumado à cultura do futebol brasileiro, Ceni teve essa preocupação logo de início. Aproximou-se das lideranças, entendeu os relacionamentos do grupo e, a partir de então, implementou suas ideias.

Já Paulo Sousa até tentou dar mais leveza ao dia a dia diante de novas exigências disciplinares. Só que, entre jogadores, funcionários e direção, ficou claro o choque cultural, que o levou a impor as ideias e a exercer seu comando de forma muito vertical, sem tanto espaço para trocas com os atletas. 

Até para se firmar no futebol brasileiro, o português tem se preocupado em ser didático nas explicações à imprensa. Ao grupo, às vezes não é tão detalhista.

Um dos exemplos é a forma como promoveu mudanças e escolheu seus jogadores titulares. Sempre com um discurso que priorizava o grupo, fez testes, observou comportamentos com atletas diferentes e em funções distintas. Quando foi dizer quem jogava, porém, não deu muita explicação.

O caso mais emblemático foi o dos goleiros. Hugo caiu nas graças de Paulo Sousa e do preparador Paulo Grilo. E, desde que o time principal começou a jogar, foi o preferido. Diego Alves, que fez história no Flamengo nos últimos anos, não ouviu satisfações por ter sido barrado.

A leitura mais ruidosa do ambiente levou alguns jogadores a questionarem não as ideias, mas a metodologia do novo treinador. Andreas Pereira foi um que não entendeu bem a falta de sequência e o apelo do técnico para o torcedor poupá-lo de críticas, quando durante os jogos era retirado na primeira falha. 

Com Ceni, havia também uma espécie de resistência a cumprir certas determinações táticas. Houve episódios de questionamentos vindos de Gabigol e até Pedro. Mas em uma etapa de trabalho com os conceitos mais consolidados para todos.

O entendimento é o de que, com Paulo Sousa, esse confronto ocorreu cedo demais, justamente pela comunicação mais truncada. E pelo desconhecimento da cultura do futebol brasileiro. Mesmo assim, há relatos de que, em outros trabalhos, na seleção da Polônia e na Europa, o português tenha enfrentado dificuldade semelhante com outros elencos mais estrelados.

No Flamengo, foi necessário que a direção indicasse respaldo ao técnico depois do fim do Campeonato Estadual. O vice de futebol, Marcos Braz, admitiu internamente ao Conselho Diretor que houve dificuldades de adaptação. 

O clube pensou em três meses de prazo para os primeiros resultados e desempenhos convincentes. E o tempo se esgotou. Mesmo assim, houve percepção de melhora na equipe. Na sexta-feira, Braz voltou a dar declarações públicas de apoio a Sousa.

— O Flamengo tem técnico. Falei que, se tivesse um paraquedas, eu me jogava junto com o Ceni. A gente, quando está com um técnico, tem total respaldo. E não é de agora — disse o dirigente, citando o ex-treinador.

Novas lideranças, como David Luiz e o próprio Gabigol, também fizeram gestos de apoio dentro e fora do campo. Não era raro observar gols comemorados apenas entre os atletas, sem irem até o treinador. Recentemente, Gabi teve essa preocupação. E o próprio Paulo Sousa buscou mais a aproximação. Chamou jogadores para explicar especificamente o que deseja e evitar rusgas durante as partidas.

Dois atletas que subiram de produção quando se entenderam melhor com as ideias do treinador foram Bruno Henrique e Éverton Ribeiro. O primeiro, fora do clássico hoje por conta de uma inflamação no joelho, passou a atuar mais aberto do lado esquerdo, só que melhorou nas obrigações defensivas. Já Ribeiro cresceu muito quando mudou de lado e, como meia direita, teve liberdade de criar e até voltar a marcar gols.

AUSÊNCIAS EM SÉRIE

O camisa 7 deve ter sequência hoje. Para o lugar de Bruno Henrique, Sousa tem como opções Pedro, Marinho e Lázaro, que é o favorito. Na defesa, ainda há ausências. Pablo já se recuperou de lesão e tem treinado com o grupo, mas ainda não está 100% fisicamente. Já Rodrigo Caio iniciou transição e pode voltar em maio. 

Fabrício Bruno e Gustavo Henrique, os últimos lesionados, ainda não retornam, assim como Matheuzinho. Arão deve ser mantido na defesa com David Luiz e Filipe Luis. Na lateral direita, Rodinei inicia o jogo.<SW>

Após o São Paulo, o Flamengo encara o Palmeiras e o Athletico, testes para avaliar a evolução de Paulo Sousa e de sua gestão de elenco.


Fonte: O GLOBO

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