Guerra na Ucrânia, alta do diesel e Covid na China fazem frete disparar mais de 100%

Guerra na Ucrânia, alta do diesel e Covid na China fazem frete disparar mais de 100%

Transportes rodoviário, marítimo e internacional viram seus custos aumentarem, e pressão deve chegar ao consumidor final

Porto Velho, RO - A disparada no preço do petróleo, a guerra na Ucrânia e o aumento dos casos de Covid na China criaram uma “tempestade perfeita” para o custo do frete no Brasil, que já vinha sob pressão desde o ano passado. 

Transportes rodoviário, marítimo e internacional viram seus custos aumentarem em mais de 100%, o que, segundo empresas e especialistas, será inevitavelmente repassado ao preço final dos produtos ao consumidor.

No frete por caminhões, a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) autorizou semana passada uma alta de 11% a 14% no piso mínimo de referência. Foi consequência do reajuste de 24,9% no preço do diesel nas refinarias praticado pela Petrobras.

Mas, segundo Francisco Pelucio, presidente da NTC&Logística, seria necessária alta entre 29% no frete, no caso de cargas fracionadas, e 39% em cargas completas, para cobrir o aumento de custos após o reajuste do diesel.

De acordo com Luís Resano, diretor-executivo da Associação dos Armadores de Cabotagem (Abac), o preço do óleo combustível (bunker) por tonelada —que chegou a passar de US$ 1 mil por tonelada neste mês — está na faixa de US$ 900, um avanço de 50% em relação aos US$ 600 cobrados entre o fim do ano passado e início deste ano.

—É variação muito elevada e isso será repassado para as cargas. Muitas empresas estão revisando os contratos incluindo cláusulas de reajustes adicionais, tendo como base o preço de US$ 600 por tonelada do bunker — explica Luís Resano, diretor-executivo da Associação dos Armadores de Cabotagem (Abac), lembrando que a sobretaxa é essencial por causa do tempo de duração do transporte, que pode levar até 60 dias.
‘Ninguém segura’

O presidente de uma empresa de transporte marítimo lembra que a situação é crítica, pois o combustível representa o segundo maior item de despesa, atrás da mão de obra. Para ele, dependendo do tipo de carga e contrato, as altas podem oscilar de 7% a 18%.

No transporte marítimo internacional, o preço médio do frete global por contêiner subiu 111% desde março do ano passado, segundo a Freightos Baltic Index. Passou de US$ 4,4 mil por contêiner, em média, em março do ano passado para US$ 9,4 mil em março deste ano, em um movimento que começou com a retomada da economia.

Em alguns casos, o frete marítimo teve alta de 300%, segundo o diretor comercial da Asia Shipping, Rafael Dantas. Ele cita o caso de um contêiner do Brasil para a América do Norte, que passou de US$ 2 mil para US$ 8 mil:

— Todos os clientes sentiram o repasse, ninguém segura. Isso acaba impactando o consumidor final, principalmente porque Brasil é mercado de curto prazo. Geralmente, as exportações são semanais, mensais ou trimestrais.

Segundo Luciana Medeiros Tajima, da companhia de transportes Fox Brasil, o impacto do aumento do frete será repassado aos clientes e, no caso das cargas por rodovia, o efeito é imediato:

Na Cacau Show, o diretor de Expansão de Canais Daniel Roque conta que o frete tem sido desafiador, pois, embora a companhia tenha malha logística estruturada e parte da frota própria, os parceiros estão sendo afetados. Além disso, os caminhões precisam ser resfriados para manter a qualidade dos chocolates.

— Temos negociado a longo prazo com parceiros porque (o aumento de preços dos combustíveis) está impactando a cadeia toda. A frota própria ajuda, por enquanto, não fizemos repasse.

Há quatro anos, a Predilecta Alimentos investiu em transportadora própria, a Transpredi, responsável hoje por 50% da logística. A empresa diz que o frete desta forma gera grande economia. Com isso, a cada ano a frota, atualmente de 200 caminhões, é ampliada e renovada. A empresa considera estratégia importante para ter preços competitivos e minimizar o reflexo nas gôndolas.

Fernando Valente Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), pondera que a escalada dos preços dos combustíveis gera necessidade de repasse, mas, por outro lado, traz oportunidades do ponto de vista global.

— Com a alta de preços generalizada, tem sites asiáticos que querem ter produção nacional para fugir do frete. Isso pode ser uma oportunidade para o Brasil, de ter mais players, de maior regionalização, investimento de inovação.


Fonte: O GLOBO

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