Análise foi feita a partir do projeto Vota Aí!, uma parceria das universidades estaduais de Campinas (Unicamp) e do Rio de Janeiro (Uerj)
Porto Velho, Rondônia - No ano em que o Rio Grande do Sul viveu a maior tragédia climática da história do país em extensão territorial, o debate sobre desenvolvimento sustentável tomou conta dos planos de governo dos candidatos a prefeito do país — o tema está presente em 82% deles. A análise foi feita a partir do projeto Vota Aí!, uma parceria das universidades estaduais de Campinas (Unicamp) e do Rio de Janeiro (Uerj). Utilizando ferramentas de inteligência artificial, as instituições mapearam 14,5 mil programas apresentados este ano ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Na avaliação de uma das pesquisadoras do projeto Nara Salles, do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp, a boa notícia de o tema estar na pauta política é que o debate ocorre num momento de eventos climáticos cada vez mais extremos e frequentes. A pesquisadora pondera, contudo, que o assunto pode não estar aprofundado, uma vez que tópicos como agricultura, infraestrutura e meio ambiente foram todos agrupados em “desenvolvimento sustentável”, que tem ainda propostas para tratamento adequado do lixo e políticas para rios urbanos e prevenção a enchentes.
— Essa abordagem pode ter um caráter eleitoral, já que esse é um tema do debate público, e os candidatos se sentem na obrigação de incluir propostas de infraestrutura e agricultura ambientalmente respaldadas, mas o fato de essa preocupação existir já é algo positivo — avalia Salles, que elaborou o estudo com Argelina Maria Cheibub Figueiredo, pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj.
No primeiro capítulo da série Cidades Resilientes, publicada pelo GLOBO no domingo, uma avaliação dos planos dos candidatos a prefeitos de todas as capitais mostra que eles são superficiais quando se trata de plano de prevenção a enchentes.
Salles ressalta que não dá para garantir que o assunto apareceu com força nos planos de governo por conta da crise no Sul, mas ela apostaria que sim:
— É um tema que ganhou prevalência nacional e está presente em grande volume, em todos os estados.
O estado do Rio de Janeiro — que vive desafios ambientais que vão desde ocupações irregulares em áreas de risco nas regiões Metropolitana e Serrana até o engolimento do continente pelo mar em São João da Barra — é o que mais tem planos tratando de questões de desenvolvimento sustentável (88,27%). No Rio Grande do Sul, a questão apareceu em 79,23%.
Em outra frente, o tema da segurança pública, uma das maiores preocupações do eleitorado brasileiro em 2024 segundo as pesquisas, aparece em quase metade (43,5%) dos planos analisados pelo Vota Aí!. No Rio, esse patamar foi o mais alto do país (65%), seguido do Amazonas (52,7%) e de São Paulo (52,2%).
Os candidatos São Paulo aparecem com destaque também no quesito proteção e bem-estar animal. De acordo com o Vota Aí!, o tópico aparece em 34,28% dos programas paulistas, o maior índice do país para o tema. Já em política para idosos e desenvolvimento econômico, o estado surge como o segundo e terceiro mais preocupado com as questões; eles estão em 23% e 55% dos planos, respectivamente.
Direitos humanos
No recorte da análise por partido, feito a pedido do GLOBO, o Vota Aí! mostrou que o PT se destaca em relação ao seu principal concorrente, o PL, com mais propostas dedicadas a políticas contra violência à mulher, relacionadas à igualdade racial e por direitos LGBTQIAP+.
Ainda assim, esses tópicos não estão sequer em metade dos programas petistas. De acordo com o levantamento, 31% dos candidatos da sigla do presidente Lula têm planos para combater a violência contra a mulher, por exemplo — PSOL tem uma abordagem maior, alcançando 42% dos planos de governo de seus postulantes. No PL, são apenas 18%. PRTB e Novo têm os piores índices nesse tema: 13%.
Já igualdade racial e direitos LGBTQIAP+ são abordados em menos de 5% dos planos de governo do país. Mesmo nos partidos de esquerda, são minoria as candidaturas que citam esses temas. No PT, equivalem a 10% e 14%, respectivamente. Já no PL, esses índices caem para 1,7% e 2,2%.
— Numa eleição municipal, as pessoas estão discutindo a cidade. Inevitavelmente, os partidos vão passar pelos sistemas de educação, saúde, muita coisa vai ser compartilhada, mesmo que de perspectivas diferentes. Mas a margem para diferenciar (um plano do outro) são esses temas aproveitados pelo PT — afirmou Salles.
A compilação de dados mostra que em temas defendidos pelo PL, como a segurança pública, a diferença no volume de abordagem em relação ao PT é pequena: 48% contra 45% entre bolsonaristas e petistas respectivamente. Na saúde, a diferença cai para um ponto, 77% e 76%.
O projeto Vota Aí! pode ser acessado gratuitamente e permite que o cidadão compare dois planos de governo a partir de palavras-chaves de interesse do eleitor.
Fonte: O GLOBO
Moradores em rua alagada pela enchente no município de Eldorado do Sul (RS) em maio deste ano — Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Na avaliação de uma das pesquisadoras do projeto Nara Salles, do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Unicamp, a boa notícia de o tema estar na pauta política é que o debate ocorre num momento de eventos climáticos cada vez mais extremos e frequentes. A pesquisadora pondera, contudo, que o assunto pode não estar aprofundado, uma vez que tópicos como agricultura, infraestrutura e meio ambiente foram todos agrupados em “desenvolvimento sustentável”, que tem ainda propostas para tratamento adequado do lixo e políticas para rios urbanos e prevenção a enchentes.
— Essa abordagem pode ter um caráter eleitoral, já que esse é um tema do debate público, e os candidatos se sentem na obrigação de incluir propostas de infraestrutura e agricultura ambientalmente respaldadas, mas o fato de essa preocupação existir já é algo positivo — avalia Salles, que elaborou o estudo com Argelina Maria Cheibub Figueiredo, pesquisadora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj.
No primeiro capítulo da série Cidades Resilientes, publicada pelo GLOBO no domingo, uma avaliação dos planos dos candidatos a prefeitos de todas as capitais mostra que eles são superficiais quando se trata de plano de prevenção a enchentes.
Salles ressalta que não dá para garantir que o assunto apareceu com força nos planos de governo por conta da crise no Sul, mas ela apostaria que sim:
— É um tema que ganhou prevalência nacional e está presente em grande volume, em todos os estados.
O estado do Rio de Janeiro — que vive desafios ambientais que vão desde ocupações irregulares em áreas de risco nas regiões Metropolitana e Serrana até o engolimento do continente pelo mar em São João da Barra — é o que mais tem planos tratando de questões de desenvolvimento sustentável (88,27%). No Rio Grande do Sul, a questão apareceu em 79,23%.
Em outra frente, o tema da segurança pública, uma das maiores preocupações do eleitorado brasileiro em 2024 segundo as pesquisas, aparece em quase metade (43,5%) dos planos analisados pelo Vota Aí!. No Rio, esse patamar foi o mais alto do país (65%), seguido do Amazonas (52,7%) e de São Paulo (52,2%).
Os candidatos São Paulo aparecem com destaque também no quesito proteção e bem-estar animal. De acordo com o Vota Aí!, o tópico aparece em 34,28% dos programas paulistas, o maior índice do país para o tema. Já em política para idosos e desenvolvimento econômico, o estado surge como o segundo e terceiro mais preocupado com as questões; eles estão em 23% e 55% dos planos, respectivamente.
Direitos humanos
No recorte da análise por partido, feito a pedido do GLOBO, o Vota Aí! mostrou que o PT se destaca em relação ao seu principal concorrente, o PL, com mais propostas dedicadas a políticas contra violência à mulher, relacionadas à igualdade racial e por direitos LGBTQIAP+.
Ainda assim, esses tópicos não estão sequer em metade dos programas petistas. De acordo com o levantamento, 31% dos candidatos da sigla do presidente Lula têm planos para combater a violência contra a mulher, por exemplo — PSOL tem uma abordagem maior, alcançando 42% dos planos de governo de seus postulantes. No PL, são apenas 18%. PRTB e Novo têm os piores índices nesse tema: 13%.
Já igualdade racial e direitos LGBTQIAP+ são abordados em menos de 5% dos planos de governo do país. Mesmo nos partidos de esquerda, são minoria as candidaturas que citam esses temas. No PT, equivalem a 10% e 14%, respectivamente. Já no PL, esses índices caem para 1,7% e 2,2%.
— Numa eleição municipal, as pessoas estão discutindo a cidade. Inevitavelmente, os partidos vão passar pelos sistemas de educação, saúde, muita coisa vai ser compartilhada, mesmo que de perspectivas diferentes. Mas a margem para diferenciar (um plano do outro) são esses temas aproveitados pelo PT — afirmou Salles.
A compilação de dados mostra que em temas defendidos pelo PL, como a segurança pública, a diferença no volume de abordagem em relação ao PT é pequena: 48% contra 45% entre bolsonaristas e petistas respectivamente. Na saúde, a diferença cai para um ponto, 77% e 76%.
O projeto Vota Aí! pode ser acessado gratuitamente e permite que o cidadão compare dois planos de governo a partir de palavras-chaves de interesse do eleitor.
Fonte: O GLOBO
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POLÍTICA