Brasileiro não vai ficar sem gasolina por causa disso, diz presidente do Ibama sobre Foz do Amazonas

Brasileiro não vai ficar sem gasolina por causa disso, diz presidente do Ibama sobre Foz do Amazonas

Petrobras tenta perfurar poços na área, dentro da chamada Margem Equatorial

Porto Velho, Rondônia - O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, afirmou em entrevista ao GLOBO que a decisão sobre a exploração de petróleo na região conhecida como bacia da Foz do Amazonas, na chamada Margem Equatorial, pela Petrobras, será da equipe técnica, mesmo com pressões políticas, e ressaltou que o licenciamento ambiental é obrigatório para este tipo de projeto.

Sem fazer críticas à Petrobras ou à nova presidente da empresa, Magda Chambriard, Agostinho disse que as empresas respeitam regras no mundo republicano. Para o presidente, a não exploração, ou demora em explorar o local, não vai deixar os brasileiros sem combustível e ressaltou que as demais regiões de pré-sal também tem alta capacidade de produção.

— A discussão política pode existir, é natural. Mas a obrigatoriedade do licenciamento não é um mero capricho, é uma previsão legal. O Ibama é responsável pelo licenciamento de petróleo e o licenciamento é obrigatório. Nenhuma empresa vai fazer um projeto sem licenciamento, não é um cabo de força. Em um mundo republicano é assim, e a Petrobras sabe disso. Em mundo republicano, as pessoas respeitam as regras e as instituições.

O Ibama, assim como o Ministério do Meio Ambiente, chefiado por Marina Silva, estão em meio a pressões do Ministério de Minas e Energia, de Alexandre Silveira, de um lado e, do outro, da Petrobras. Magda Chambriard, fez uma forte defesa de ampliação da produção de petróleo, logo que assumiu a empresa e defendeu o aumento da atividade de exploração para ampliar reservas.

O governo estima que declínio da produção a partir de 2030 pode deixar o Brasil mais perto de perder a condição de autossuficiente.

O que é a Margem Equatorial

A Margem Equatorial vai do Amapá ao Rio Grande do Norte e inclui as bacias marítimas de Foz do Amazonas, Pará-Maranhão, Barreirinhas, Ceará e Potiguar. No entanto, a polêmica para o licenciamento ambiental pelo Ibama se concentra na Foz do Amazonas. No início de 2023, o instituto negou o primeiro pedido da Petrobras para explorar a áreas. Em maio daquele ano, a empresa pediu uma reconsideração e desde então os técnicos do órgão analisam o pedido.

Margem Equatorial — Foto: Editoria de Arte

A presidente da Petrobras ainda sugeriu que se o impasse entre Minas e Energia e Meio Ambiente continuar, o presidente Lula teria de ser o “árbitro”.

Rodrigo Agostinho destacou ainda que existem outros projetos da Petrobras com pedidos de licenciamento em análise, um deles que pode liberar a exploração de até 2 mil poços de pré-sal entre as bacias de Campos e Santos. Ele afirmou que a liberação da região é um processo complexidade e não há prazo definido.

Gasolina

– A Foz do Amazonas está como prioridade, mas não é a única, temos listas enormes. O que não acontece no Ibama é conceder uma licença sem critério técnico. O pedido político pode acontecer, mas a licença obedece critérios técnicos. Entra na fila e temos prioridades, igual pronto-socorro.

E completou:

– A opinião pública não sabe que existe um mundo além da Foz do Amazonas, eu tenho uma lista de coisas aqui que são tão relevantes para a produção de petróleo quanto essa. O brasileiro não vai ficar sem gasolina por causa disso.

O presidente do Ibama explicou que poços próximos a cidades maiores tem uma logística para combater vazamentos, que podem acontecer com certa rotina. No caso da Bacia de Foz, a base para a equipe de apoio a um acidente está a 800 km de distância, em Belém do Pará. De acordo com o órgão ambiental, a região tem fortes correntes marítimas, que influenciam diretamente os rios amazônicos.

– O Ibama faz análise técnica, o Ibama não discute quando o Brasil vai parar de explorar petróleo. É uma região com pouca infraestrutura, cidades pequenas, você tem um problema de falta de estudos na região. É diferente você explorar o pré-sal que está de frente a cidade do Rio de Janeiro ou a cidade de Santos – disse Agostinho.

Rodrigo Agostinho disse ainda que a Petrobras é cliente número um do Ibama e que dezenas de licenciamentos são liberados todos os anos.

Desmatamento especulativo

Em outra frente, o Ibama fiscaliza, combate e pune crimes ambientais. As equipes de polícia ambiental monitoram as denúncias de desmatamento ilegal, ou queimadas, por exemplo. Para Agostinho, parte dos produtores rurais tem promovido o que chama de “desmatamento especulativo”, derrubando a vegetação mais intensamente agora já esperando por um combate mais forte da atividade ilegal, ou engessamento das leis. O Cerrado está entre os biomas que mais tiveram perda vegetal.

– O que a gente percebe é que muito produtor pensa o seguinte ‘se eu não desmatar agora, não posso desmatar mais daqui a pouco’. Como um desmatamento especulativo. Além disso, a maior parte do lucro dos produtores é revertido em mais terras. Temos tido mais dificuldade no Cerrado, as pessoas estão expandindo a fronteira agrícola. É onde eu tenho hoje maior estoque de desmatamento.

A maior parte do desmatamento no Cerrado, porém, é legal e autorizado pelos governos estaduais.

Garimpos e indígenas

Rodrigo Agostinho afirma que ainda há muitos casos de garimpos ilegais e que a fiscalização se torna mais difícil com a atuação de facções criminosas na floresta. Ano passado, o Ibama trabalhou em 109 terras indígenas, incluindo aldeias Ianomâmis.

– Quando chegamos lá, a estimativa era de que existiam mais de 30 mil garimpeiros. Reduziu significativamente, mas as pessoas ainda estão trabalhando escondido, garimpando em área já desmatada, ou à noite, quando os helicópteros já não conseguem identificar. Mudaram as estratégias.

A terra indígena mais desmatada da Amazônia legal, de acordo com o Funai, é a Apyterewa. Por lá, no ano passado, o Ibama encontrou mais de 50 mil cabeças de gado.

— A gente está enfrentando o crime organizado. Os fiscais são recebidos com tiro de fuzil. O crime organizado urbano está usando o crime organizado ambiental para lavagem de dinheiro. Estão lavando dinheiro de droga no garimpo, na madeira ilegal, na pesca ilegal.

Agrotóxicos

Agostinho lamentou ainda a nova lei que enfraquece o poder do Ibama na fiscalização de alimentos e agrotóxicos. Ele disse que os agricultores esperam respostas rápidas, para temas complexos. A lei foi aprovada no Congresso Nacional e teve o veto do presidente Lula derrubado.

O projeto de lei, apelidado de "PL do Veneno" por ambientalistas, define que o Ministério da Agricultura é o órgão com a palavra final para liberar e fiscalizar os produtos registrados que tenham composição química alterada. As mudanças na fórmula de defensivos agrícolas ocorrem com frequência no mercado. Além disso, a lei estabelece que o Ibama tem que responder ao pedido de liberação do produto em até 30 dias,

– As pessoas querem uma solução mágica, fazer um projeto de lei para estabelecer prazos para o Ibama e a Anvisa. Corre-se o risco da equipe rejeitar um produto justamente porque não conseguiu uma posição sólida a tempo. Tem produtos que chegam aqui eu são conhecidos da indústria, outros são novos.

Greve

Parte dos servidores do Ibama estão em movimento de greve desde o início do ano, por melhores remunerações e contratação de mais profissionais. O Ibama chegou a ter mais de 6.200 funcionários quando foi criado, há 35 anos, e hoje tem algo em torno de 2.500. A maior parte dos servidores se aposentou ou deixou o serviço e as vagas não foram recompostas.

– Nossa estrutura está muito aquém, estamos falando de um país que tem 20% da biodiversidade do mundo. Já temos um primeiro concurso para áreas administrativas, de 460 vagas e existe a sinalização de um grande concurso pelo Ministério de Gestão e Inovação.

Rodrigo Agostinho disse, porém, que nenhuma atividade do órgão foi paralisada, mas os servidores têm feito análises de licenciamentos ou autorizações, por exemplo, no maior prazo possível, diminuindo a velocidade de trabalho na instituição. O presidente do Ibama destaca, porém, que as emergências como queimadas e desmatamentos são atendidas prontamente.


Fonte: O GLOBO

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