Ucrânia aprova recrutamento de presidiários pelo Exército em troca de anistia por crimes

Ucrânia aprova recrutamento de presidiários pelo Exército em troca de anistia por crimes

Medida, que exclui presos por crimes graves, foi aprovada pelo Parlamento ucraniano com 279 votos a favor

O Parlamento da Ucrânia aprovou, nesta quarta-feira, um projeto de lei que permite que presidiários que cumprem pena no país sejam recrutados pelas Forças Armadas em troca de anistia pelos seus crimes. A medida, que exclui detentos presos por uma série de crimes graves, ocorre em um momento em que Kiev tenta mobilizar mais soldados para lutar contra a Rússia.

O texto foi aprovado em segunda leitura no Parlamento com 279 votos a favor. Ficam excluídos do recrutamento condenados por delitos graves, como homicídio, violência sexual e atentados contra a segurança nacional, segundo comunicou a deputada Olena Shulyak, aliada do presidente Volodymyr Zelensky.

A Ucrânia tenta desesperadamente repor suas fileiras em um momento em que o conflito no front é favorável às tropas russas e suas forças acumulam derrotas e baixas em suas fileiras. O país tenta lidar com a pressão de famílias que esperam o reconhecimento dos corpos de seus entes queridos, esperando por identificação em necrotérios lotados ou em zonas inacessíveis do campo de batalha.

Oficialmente, o governo ucraniano não divulga o número de soldados desaparecidos em ação — termo que, muitas vezes, é utilizados para militares mortos e não identificados. Em fevereiro, em uma rara declaração, Zelensky estimou que o número de soldados mortos em 31 mil. Estimativas dos EUA sugerem que 70 mil soldados ucranianos tenham morrido até agosto.

A moral das tropas ucranianas também diminuiu ao longo de dois anos de guerra, com uma série de derrotas impostas pelas forças russas. Soldados envelhecidos e esgotados pela rotina excruciante do front tentam manter as posições. O governo tenta criar alternativas para ampliar o recrutamento. Em abril, reduziu a idade mínima para o alistamento obrigatório, de 27 para 25 anos — idades consideradas altas para os padrões internacionais de nações em guerra.

Em abril, Kiev suspendeu a prestação de serviços consulares a seus cidadãos homens entre 18 e 60 anos, no exterior, como forma de pressionar para que retornem ao país e se juntem às forças de defesa e também ajudem nas atividades econômicas locais. Funcionários do governo também ampliaram a fiscalização, principalmente em áreas de fronteira, para impedir que possíveis recrutas fujam do país.

O recrutamento de presidiários não é um tema novo na guerra na Ucrânia. Ainda em 2022, a Rússia autorizou o Grupo Wagner, então dirigido pelo falecido líder mercenário Yevgeny Prigojin, a recrutar homens em cadeias russas. A proposta incluiria salários 200 mil rublos (R$ 17,3 mil), anistia para os crimes de quem retornasse com vida e indenização de 5 milhões de rublos (R$ 43,3 mil) para as famílias de quem morresse em combate, relataram veículos da imprensa internacional na época. A medida não excluía pessoas presas por nenhum tipo de crime.

A tática russa, no entanto, foi denunciada por recrutas que desertaram para o lado ucraniano em meio ao conflito. Ex-prisioneiros disseram que foram enviados para o front sem treinamento, equipamento de proteção e, em alguns casos, desarmados. Também relatam que a ameaça de morte a desertores era constante e que mesmo após o fim dos períodos estabelecidos em contrato, muitos foram forçados a continuar combatendo.

Setor energético sob ataque

No campo de batalha, autoridades ucranianas denunciaram um "ataque em larga escala" lançado pela Rússia, nesta quarta-feira, contra instalações do setor de energia da Ucrânia. Ação, que usou drones e mísseis, deixou pelo menos um morto e vários feridos. Moscou também afirmou que tomou o controle de duas localidades perto do front.

"O inimigo não desiste de seus planos de privar os ucranianos de energia elétrica. Um novo ataque em larga escala contra a nossa indústria energética", escreveu German Galushchenko, o ministro da Energia ucraniano, em um comunicado no Telegram.

Os ataques visaram instalações de produção e transmissão de energia nas regiões de Poltava (leste), Kirovogrado (centro), Zaporíjia (sul), Lviv, Ivano-Frankivsk e Vinnytsia (oeste). A empresa nacional de energia elétrica, Ukrenergo, emitiu um alerta para possíveis cortes do serviço e pediu aos ucranianos um uso moderado da energia elétrica para enfrentar uma situação "particularmente difícil". É o quinto ataque em larga escala contra a rede de energia ucraniana desde 22 de março, segundo a empresa.

O grupo DTEK, maior investidor privado no setor energético da Ucrânia, afirmou que três centrais termelétricas foram "gravemente danificadas". A empresa destacou que suas instalações foram bombardeadas quase 180 vezes desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022.

O Ministério da Defesa da Rússia anunciou, em um comunicado, que efetuou um "ataque coletivo" em resposta à "tentativa do regime de Kiev de danificar as instalações de energia russas".

O primeiro-ministro ucraniano, Denis Shmygal, anunciou a criação de um novo grupo de trabalho governamental para "coordenar as ações para superar as consequências do terror energético russo", já pensando no próximo inverno na região. (Com AFP)


Fonte: O GLOBO

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