Ao menos cem pessoa ficaram desabrigadas e algumas instalações turísticas foram fechadas; Cruz Vermelha afirmou que mais de 90 foram resgatadas
Porto Velho, Rondônia - As enchentes devastadores que assolam o Quênia desde março — e já deixaram 188 mortos, segundo balanço divulgado nesta quinta-feira — prenderam funcionários e visitantes em uma das suas mais famosas reservas naturais, a Masai Mara, na quarta-feira. O rio Talek transbordou e inundou partes da reserva natural, incluindo muitos acampamentos turísticos, levando as autoridades a ordenarem o fechamento de algumas instalações.
Cerca de cem turistas ficaram ilhados, e um porta-voz da Cruz Vermelha no país, Munir Ahmed, informou ao New York times que mais de 90 pessoas foram resgatadas, sendo algumas por helicóptero e, outras, pela água.
Apesar de apenas uma parte da reserva ter sido afetada, segundo o antigo presidente da federação de Turismo do Quênia, Mohammed Hersi, o atual ministro do país, Alfred Mutua, alertou que todos os hotéis e acampamentos próximos de rios e dentro de parques e reservas nacionais deveriam se preparar para um potencial deslocamento caso transbordem.
Vídeos publicados nas redes sociais mostraram alguns edifícios e veículos submersos, enquanto os turistas tentam deixar o local. O guia turístico Apolloh Omenya, de 27 anos, contou à CNN que foi acordado pelo barulho de água corrente na madrugada desta quinta-feira. Quando saiu da sua tenda para ver o que era, a água batia na sua cintura, e o acampamento Talek Bush Camp estava cercado.
— Meu motorista e eu fomos os primeiros a acordar, então acordamos todos os 14 turistas internacionais e 25 funcionários e subimos escadas até alguns tanques de água que estão elevados — narrou à rede americana, acrescentando: — A chuva caía sobre nós das 2h às 5h30 da manhã, mas não conseguíamos sair e os aviões que vinham nos resgatar não conseguiam entrar de uma só vez.
Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha emitiram alertas de viagem para o Quênia, pedindo aos seus cidadãos que sejam cautelosos em meio ao clima extremo.
O rio Talek atravessa a rota da “Grande Migração ” do Serengeti, Parque Nacional na Tanzânia, até Masai Mara, e de julho a outubro, mais de um milhão de gnus e zebras atravessam o rio — um evento que atrai milhares de turistas de todo o mundo.
Moradores ilhados e sem emprego
Os proprietários também foram instruídos a deixar as regiões afetas e "mudar-se para terras mais altas, mais longe do rio Talek", informou na quarta-feira o governador do condado de Narok, Patrick Ole, citado pela CNN. As autoridades locais, contudo, foram mais enérgicas em seus avisos, afirmando que aqueles que ficassem para trás enfrentariam consequências legais, acusando-os de suicidas.
— Vamos deslocar à força qualquer pessoa que fique em qualquer casa ou alojamento ao longo do rio. Tomaremos medidas contra eles porque isso é considerado tentativa de suicídio — salientou o comissário do condado de Narok, Kipkech Lotiatia, citado pela rede americana.
A área está inacessível no momento, pois as pontes foram levadas pela água, disse à AFP o administrador do subcondado de Narok West, Stephen Nakola, acrescentando que cerca de 50 acampamentos na reserva foram afetados, deixando mais de 500 habitantes locais temporariamente sem trabalho. Não há vítimas fatais, mas as comunidades que vivem ao redor da área foram forçadas a se mudar.
Número de mortos aumenta
As chuvas torrenciais no Quênia já deixaram 188 mortos e 125 feridos, informou o Ministério do Interior nesta quinta-feira. O fenômeno causou enchentes e deslizamento de terra, que forçaram as pessoas a deixar suas casas, destruíram, estradas, pontes e outras infraestruturas. Ao menos 90 pessoas estão desaparecidas e 165 mil estão desabrigadas.
No incidente mais mortal do Quênia, dezenas de moradores foram mortos quando uma represa estourou na segunda-feira perto de Mai Mahiu, no Vale do Rift, cerca de 60 quilômetros ao norte da capital, Nairóbi. O Ministério do Interior disse que 52 corpos foram recuperados e 51 pessoas ainda estavam desaparecidas após o desastre da represa.
O presidente William Ruto anunciou na terça que estava mobilizando as forças armadas para evacuar todas as pessoas que vivem em áreas propensas a inundações. Os políticos da oposição e os grupos de lobby acusaram o governo de estar despreparado e de demorar a responder à crise, apesar dos avisos meteorológicos, exigindo que ele declarasse as enchentes como um desastre nacional.
"O governo do Quênia tem a obrigação de direitos humanos de evitar danos previsíveis decorrentes de mudanças climáticas e eventos climáticos extremos e de proteger as pessoas quando ocorre um desastre", disse a ONG Human Rights Watch na quinta-feira.
A declaração da HRW disse que eventos como inundações são "particularmente ameaçadores para populações marginalizadas e em risco, incluindo idosos, pessoas com deficiências, pessoas em situação de pobreza e populações rurais".
Outros países afetados
As chuvas também deixaram um rastro de destruição em outros países da África Oriental, incluindo a vizinha Tanzânia, onde pelo menos 155 pessoas morreram em enchentes e deslizamentos de terra.
As fortes chuvas sazonais foram amplificadas pelo El Nino, fenômeno climático natural normalmente associado ao aumento do calor em todo o mundo, levando à seca em algumas partes do mundo e a fortes chuvas em outras.
O desastre no Quênia e em outros países provocou uma onda de condolências e promessas de solidariedade às famílias afetadas em todo o mundo. O secretário-geral da ONU, António Guterres, está "profundamente angustiado" ao saber da perda de vidas devido às fortes inundações em Burundi, Quênia, Somália, Tanzânia e outras partes da África Oriental, disse seu porta-voz Stephane Dujarric. (Com AFP e NYT)
Fonte: O GLOBO
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