O futebol brasileiro diante da tragédia

O futebol brasileiro diante da tragédia

Agravamento e a extensão da calamidade, naturalmente, levarão à inviabilidade de prosseguir o campeonato. A partir daí, o desafio da empatia será ainda maior

Porto Velho, Rondônia - Duas sensações foram inevitáveis enquanto a rodada do Campeonato Brasileiro acontecia no fim de semana. Uma, olhar para a tabela e perceber que poucas vezes foi tão difícil interpretar a real classificação do torneio, tantas são as diferenças no número de jogos entre os times – por motivos evidentemente justos. Outra, a incerteza sobre a quantas partidas mais vamos assistir até que a competição pare.

Tragédias como a que atinge o Rio Grande do Sul são o tipo de evento que nos confronta com dilemas éticos difíceis de contornar. Em que ponto a rotina deve parar e quando deve ser retomada? Sob que condições? Impossível criar consensos, determinar onde está o limite entre a insensibilidade e a necessidade de dar passos adiante, seja pelo respeito ao luto, seja pela saúde mental das pessoas ou pela saúde econômica de uma indústria.

A questão é que, quando a vida é retomada ela não ressurge pela metade: reaparece com suas festas e suas dores, com sua competitividade, suas urgências, tristezas e celebrações. O futebol é assim.

Hoje, discute-se interromper o Campeonato Brasileiro diante do drama humanitário que atinge o Rio Grande do Sul, abala milhões de brasileiros e, no aspecto estritamente esportivo, inviabiliza jogos de três dos 20 participantes do torneio.

O futebol é uma celebração, uma reunião de comunidades em torno de suas paixões. E, como tal, soa estranho encher estádios, ver atletas e multidões comemorando gols e vitórias enquanto as águas sequer escoaram, enquanto cidades inteiras estão submersas. 

Porque, quando a bola rola, o futebol, como a vida, retorna com suas virtudes e vícios, com disputas, vencedores e vencidos, com a busca por vantagem técnica, eventuais entradas desleais, atritos entre jogadores, abusos a árbitros ou a treinadores. E pior, com resultados tomando as manchetes, centralizando atenções. São argumentos potentes contra os jogos, ainda que, a rigor, ninguém seja capaz de determinar qual o limite para interromper ou retomar tudo isso.

Por outro lado, a urgência impõe entender quais são as necessidades imediatas. A maior delas, atender às necessidades dos afetados. E, no âmbito do jogo, o óbvio é dar a Grêmio, Inter e Juventude uma pausa do tamanho que a tragédia impuser. Ao mesmo tempo, é importante tentar entender de que forma o futebol, como comunidade, pode ajudar mais.

E, neste ponto, o fim de semana produziu cenas igualmente potentes a favor de manter a indústria ativa. Jogos viraram pontos de coleta de toneladas de doações, times exibiram para todo o país, com o alcance de um Flamengo x Corinthians, por exemplo, códigos Pix de entidades envolvidas com a causa. O Atlético-MG, na cena mais linda da rodada, encheu sua arena para um simples treino em que o ingresso era uma doação. Estádios cheios são importantes polos para atrair ajuda.

O fato é que o agravamento e a extensão da calamidade, naturalmente, levarão à inviabilidade de prosseguir o campeonato. A partir daí, o desafio da empatia será ainda maior. Nele, a tarefa irá além de encontrar datas para concluir o torneio e salvar contratos. A prioridade será entender as necessidades dos times do Rio Grande do Sul, vítimas da tragédia. 

Fazer um Brasileirão com a tão falada isonomia, diante de uma catástrofe assim, já não é possível. Mas a empatia poderá permitir a busca por um modelo que amenize prejuízos técnicos, físicos e emocionais do trio gaúcho. O futebol precisa sair mais maduro e unido da tragédia.

BONS SINAIS

O primeiro tempo do Flamengo diante do Corinthians reacendeu esperanças na torcida. Houve duas boas notícias. Com Gérson pela direita, o time teve mais um articulador, gerou mais pausas em seu jogo e, assim, se aproximou mais. Um dos grandes “sócios” de Gérson foi Lorran, e a boa entrada no time deste jovem rubro-negro é especialmente significativa às vésperas da saída de Arrascaeta para a Copa América.

ALÍVIO

Derrotar o Vitória trouxe para o Vasco mais alívio com o resultado do que, propriamente, indicativos de progresso na equipe. Às vésperas de apresentar um novo treinador, o time vive um compasso de espera, e teve mais uma atuação em que apresentou muitos problemas: um meio-campo pouco combativo, espaços entre setores e dependência das jogadas pelo lado esquerdo, ora com Piton, ora com Payet caindo no setor.

GRANDE HISTÓRIA

A Premier League será decidida no último dia. Seja qual for o campeão, estaremos diante de um grande enredo. Caso vença hoje o Tottenham, o City dependerá apenas de uma vitória no domingo, sobre o West Ham, para obter um tetracampeonato nunca visto no futebol inglês. Caso tropece, dará ao espetacular Arsenal a chance de depender só dele na rodada final, diante do Everton. Seria o primeiro título do clube em 20 anos.


Fonte: O GLOBO

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