‘Na dúvida, vamos manter aquele rigor’ da Lei das Estatais, diz especialista sobre decisão do STF

‘Na dúvida, vamos manter aquele rigor’ da Lei das Estatais, diz especialista sobre decisão do STF

Para Sergio Lazzarini, do Insper, resultado do julgamento é positivo, mesmo permitindo nomeações feitas durante a vigência da liminar. Segundo ele, vale a pena se esse for o custo para blindar estatais

Porto Velho, Rondônia - A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de considerar constitucionais as restrições determinadas pela Lei das Estatais é positiva para a governança das empresas, trazendo maior segurança ao mercado, avalia Sérgio Lazzarini, professor do Insper, que estuda as relações dos governos com o setor privado.

Para ele, a manutenção dos indicados a cargos em empresas públicas durante a vigência da liminar do ministro aposentado Ricardo Lewandowski, atualmente no cargo de ministro da Justiça, que suprimiu partes da legislação, resultou de um “acordo político”, mas que “vale a pena”.

Na prática, diz ele, não há como blindar estatais de ingerência política, e é preciso avançar tanto no monitoramento quanto no debate em torno dos objetivos de cada uma destas empresas.

A decisão traz segurança para as estatais, colabora para uma melhor governança?

É um resultado positivo porque nós ainda estamos avaliando a Lei das Estatais, entendendo seus efeitos, como estão evoluindo seus mecanismos. Na dúvida, vamos manter aquele rigor da legislação, e seguir estudando, analisando. E seguimos em frente.

O que sinaliza ter a constitucionalidade da lei reconhecida e, ao mesmo tempo, a manutenção dos nomeados em conselhos no período de vigência da liminar?

É um arranjo político, uma acomodação política, como tem ocorrido nas decisões do STF. Se esse for um custo para manter a Lei das Estatais, acho que ele vale a pena. Mas não podemos esquecer que tem também o processo de monitoramento feito pela Sest (Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais).

É um trabalho muito importante e que tem que ser reforçado. As estatais têm de seguir regramentos, padrões de governança, tudo o que a lei estabelece, mesmo com quadros políticos.

O senhor avalia que houve temor de judicialização?

Ia ter brigas. Tem coisas que a gente tem que ser pragmático. Acho que vale a pena essa decisão. Porque o ideal não existe, sobretudo no campo político. E tem de se adequar à lei.

A validação da lei vai reduzir crises de ingerência no comando de estatais?

Não tem lei alguma que impede interferência grosseira de um governo, se ele quiser fazer isso. Tudo é parte de um sistema. E nós também não avançamos nos debates sobre os objetivos das empresas estatais. Por exemplo: faz parte do mandato da Petrobras fazer o controle de preços (dos combustíveis)? A estatal compete com estrutura de mercado e tem de ter responsabilidade social.

Precisa ter maior clareza do mandato das estatais, até para a gente saber o que tem de perseguir, monitorar e cobrar.

Principalmente para empresas de capital misto?

Tem razão. Mas é importante para todas as estatais. Tem uma grande confusão nesse debate. A gente ouve muito afirmações como: ‘Estatal é controlada pelo governo, o investidor tem que engolir o que ele decidir’. Mas há vários erros aí. A estatal pertence ao Estado, mas há regras, um norte para sua operação. E respeitar o acionista minoritário não é maximizar o lucro para ele, é garantir previsibilidade para o investidor.

Por exemplo, se fica decidido que vai haver um teto de preço para os combustíveis, que vai oscilar com uma banda, o investidor decide se vai investir na Petrobras ou na Ambev. São sinalizações para todo o mercado, os competidores no mercado de petróleo, no de etanol.


Fonte: O GLOBO

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