Com discussões sobre IA e meio ambiente, tribunais de Justiça buscam avançar na cooperação em reunião do G20 no Rio

Com discussões sobre IA e meio ambiente, tribunais de Justiça buscam avançar na cooperação em reunião do G20 no Rio

Evento que reunirá representantes das Cortes Supremas dos países do grupo será realizada na próxima semana

Porto Velho, Rondônia - As discussões do G20 — grupo das 20 maiores economias do mundo mais a União Africana — também passam por como agilizar processos em tribunais de Justiça com uso de novas tecnologias, como a inteligência artificial, e até o papel das Cortes Supremas no desenvolvimento sustentável e na emergência climática.

Para avançar na cooperação nesses temas será realizada segunda e terça-feira, no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), o J20, evento que reunirá representantes das Cortes Supremas dos países do G20.

O encontro está sendo organizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), no contexto da presidência brasileira do G20 em 2024, e terá como temas principais a promoção da cidadania e da inclusão social pelo Poder Judiciário; a litigância climática e o desenvolvimento sustentável; e a transformação digital e uso da tecnologia para a eficiência da Justiça.

As sessões sobre os dois primeiros temas serão fechadas. Já a terceira será aberta ao público. O objetivo é avançar em projetos de cooperação multilateral e bilateral, com trocas de experiências entre os magistrados.

Confirmaram presença 18 delegações, incluindo presidentes das cortes de Alemanha, França, Índia e Reino Unido e representantes de Argentina, China e Rússia.

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, afirmou ao GLOBO que o Brasil tem bons exemplos a apresentar nos três eixos centrais, incluindo no uso da tecnologia:

— Nós temos programas de inteligência artificial no Supremo já em execução na seleção de processos por tema e o seu enquadramento nas teses de repercussão geral. E nós temos encomendas importantes para a indústria de TI para resumo de processos, para pesquisa de jurisprudência. Em algum lugar no futuro, até para a minuta inicial das decisões judiciais. Então nós somos bastante avançados no uso da tecnologia no direito.

Em relação à inteligência artificial, o STF já utiliza três ferramentas, para selecionar e classificar processos que chegam ao tribunal. Desde 2017, o robô batizado de Victor identifica se os recursos recebidos pelo tribunal se enquadram em teses de repercussão geral.

Impactos positivos

Também estão em funcionamento a Rafa, que classifica processos de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, e a VitórIA, que agrupa processos por similaridade de temas.

Na área da tecnologia, Barroso ressalta também que quase a totalidade dos processos judiciais brasileiros estão digitalizados.

— O primeiro impacto positivo é ecológico, menos uso de papel. E o segundo é que a experiência demonstra que os processos eletrônicos têm uma tramitação mais célere do que os físicos.

O presidente do STF afirma também que até o fim do ano deve ocorrer uma uniformização de todos os sistemas de tribunais. Atualmente, cada órgão tem um sistema diferente.

— Em algum momento do passado, o CNJ tentou uniformizar, houve muita reação e não se conseguiu uniformizar. Então nós agora estamos tentando fazer com que os sistemas se comuniquem adequadamente e que a interface para o usuário seja única.

Também está sendo estudada a possibilidade de adotar uma ferramenta criada pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), que usa a inteligência artificial generativa — como o ChatGPT — para realizar uma busca na jurisprudência dos tribunais.

Batizado de JurisprudênciaGPT, o sistema foi lançado em janeiro e “responde” perguntas sobre decisões anteriores do TJ-PR, além do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do próprio STF. A ferramenta foi criada a partir de uma parceria com a Microsoft e está disponível apenas para uso interno no tribunal ou na loja da empresa, devido ao seu alto custo.

Um dos riscos com as IA generativas é o fenômeno chamado de “alucinação”, quando as ferramentas inventam dados que não sabem. No caso do JurisprudênciaGPT, entretanto, o secretário de informática do TJ-PR, Rafael Teigão, afirma que esse risco não existe, já que as respostas sempre trazem os documentos dos acórdãos que servirem como base.

Gênero e clima

Na área de mudanças climáticas, Barroso considera que o Judiciário brasileiro também tem boas iniciativas para apresentar. O presidente do STF afirma que, tradicionalmente, tribunais de outros países consideravam que temas ambientais deveriam ser decididos pela política, e não pelo Judiciário.

No Brasil, contudo, Barroso ressalta que a situação é diferente porque a Constituição determina a proteção do meio ambiente. Ele cita, por exemplo, a decisão que proibiu o contingenciamento dos recursos do Fundo Clima e a que determinou a reativação do Fundo Amazônia.

No terceiro eixo do J20, o da inclusão social, Barroso destaca ações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), também presidido por ele.

Na semana passada, o órgão lançou um edital que visa a buscar financiadores para um programa de bolsas de estudos para pessoas negras que queiram prestar o Exame Nacional da Magistratura. Para Barroso, a medida é importante “para fazer com que a demografia do Judiciário se aproxime da demografia do país”.

No ano passado, no fim da gestão de Rosa Weber no CNJ, foi aprovada uma norma que busca a paridade de gênero nos tribunais. Nas promoções de juízes para tribunais de segunda instância, quando a promoção for por merecimento, deverá ser elaborada uma lista exclusivamente com mulheres, alternada com a lista tradicional.


Fonte: O GLOBO

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