O Montenegringo Textor e as acusações: até o futebol tem seu manual de conduta

O Montenegringo Textor e as acusações: até o futebol tem seu manual de conduta

Cartola novo que é, o americano parece não ter entendido a mentalidade brasileira. Aqui, todo mundo tem certeza de conspiração

Porto Velho, Rondônia - John Textor é a prova de que não precisamos alterar nosso vocabulário futebolístico. Não é porque o indivíduo é proprietário de um clube de futebol, em vez de presidente eleito por um monte de conselheiros e associados, que ele deixa de ser cartola. Note bem a diferença. O dirigente dirige. É um termo isento, imparcial, sem conotação qualquer. Já o cartola dirige e vai além. Ele lida com torcida, imprensa, outros cartolas. Envaidecido, ele afeta vaidades alheias.

O americano diz ter provas de manipulação de resultados no Campeonato Brasileiro. Dois jogos do Palmeiras teriam sofrido interferência para que o time paulista vencesse injustamente. Não posso dizer se Textor tem ou não tem as tais provas. Este é um problema dele e da polícia. Mas podemos apontar uma escolha do empresário. Ele podia ter avançado na investigação e na acusação nos bastidores, sem alarde, ou podia fazer tudo em público. Ele preferiu o bafafá.

A opção tem como efeito colateral o dano à imagem do Botafogo e, em última instância, de todo o futebol brasileiro. Coloque-se nos sapatos de um patrocinador que talvez queira botar dinheiro no clube carioca ou em qualquer outro. Você entra nessa bagunça? A manipulação de resultado equivale ao que há de mais grave no esporte. Polícia, imprensa, fofoca. Pode-se dizer de um jeito meio contábil que, neste caso, o dono do negócio decidiu depreciar o próprio ativo.

“E se ele realmente tiver provas?”, você me pergunta. Aqui cabe a distinção. Prova é mostrar que um jogador recebeu dinheiro para jogar errado: extratos bancários, contratos escusos, conversas vazadas. Se Textor tiver algo assim, a celeuma fará sentido. Se as provas forem relatórios de consultorias, que se basearam naquilo que todo mundo se baseia, as imagens dos jogos, vai ficar difícil sustentar a gravidade do que se acusa. Por mais tecnológico que seja.

Cartola novo que é, o americano parece não ter entendido a mentalidade brasileira. Aqui, todo mundo tem certeza de conspiração. Ano passado, presidentes de clubes tinham convicção de que havia um esquema para evitar que brasileiros vencessem a Libertadores. “A Conmebol acha ruim a sequência de campeões”, diziam. O Fluminense ganhou. Cadê a manipulação? “Tiveram que ganhar do Boca e do árbitro”. A certeza se mantém, apesar dos fatos contrários.

O pulo do gato está no lugar em que se fala da conspiração. O torcedor de meia idade acha até hoje que a Copa do Mundo de 1998 foi vendida, que Ronaldo não teve convulsão, coisa nenhuma. Mas é papo de boteco. O dirigente também acha que precisa defender o clube dele das manipulações de árbitros mal-intencionados. Ele diz essas coisas aos aliados, em conversas reservadas com jornalistas, no máximo, mas não em público. Senão vira confusão.

Que o Textor é um indivíduo vaidoso, percebemos faz tempo. Não é por acaso que Gustavo Poli o apelidou de Montenegringo — o Carlos Augusto Montenegro americano. Textor gostou de se tornar celebridade no Rio de Janeiro e no Brasil, ele fala muito e com todo mundo. Não vejo problema até este ponto. Empresário sem vaidade trabalha no setor elétrico, de gás e petróleo, com mineração, e olhe lá. Só que até o futebol tem seu manual de conduta. Vejamos as provas.


Fonte: O GLOBO

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