Mossoró: recaptura de fugitivos gera alívio para o governo nas redes, mas repercussão é bem menor do que na fuga

Mossoró: recaptura de fugitivos gera alívio para o governo nas redes, mas repercussão é bem menor do que na fuga

Estudo da FGV destaca que queda de 60% ocorreu mesmo diante do empenho digital de perfis ligados à gestão Lula em exaltar atuação do ministro Lewandowski

A recaptura dos fugitivos do presídio federal de Mossoró na semana passada, após 50 dias de buscas, gerou alívio para o governo federal no debate digital, mas teve repercussão nas redes sociais 60% menor do que a observada no dia seguinte à fuga — momento de maior pico sobre o tema. É o que aponta uma pesquisa feita a pedido do GLOBO pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV-ECMI), que analisou a repercussão no X (antigo Twitter) de 1º de janeiro a 7 de março de 2024.

O estudo destaca que, além de postagens em tom noticioso e informativo, houve empenho de perfis ligados ao governo para exaltar a atuação do Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o trabalho conjunto da pasta com a Polícia Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

Os pesquisadores também encontraram posts com caráter humorístico. Alguns deles brincaram que a recaptura só ocorreu porque os fugitivos não conseguiram chegar a tempo na Embaixada da Hungria — em referência à estadia do ex-presidente Jair Bolsonaro no local, revelada em março.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, em coletiva — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

Ausente das redes sociais, Lewandowski participou da repercussão da captura dos fugitivos apenas por meio de pronunciamentos oficiais e com a comunicação mediada por veículos jornalísticos. Como mostrou o GLOBO em março, o perfil discreto do ministro colaborou para que as críticas nas redes sociais recaíssem sobre o governo Lula, em vez de se concentrarem em uma única figura.

Diretor da FGV-ECMI, Marco Aurélio Dapp aponta que, apesar de a recaptura dos homens representar uma vitória para o governo, o fato de os prisioneiros terem fugido da penitenciária durante a gestão de Lewandowski gerou também um desgaste para a administração da pasta da Justiça.

— Apesar de Lewandowski estar há pouco tempo à frente da pasta, a pauta de segurança pública tem batido com insistência na porta dele. Observo que a gestão, até o momento, é bastante tradicional. O Ministério da Justiça é historicamente orientado pela política e questões constitucionais. É preciso entender que as condições conjunturais mudam, e a segurança se tornou um vetor de estabilização bastante grande das instituições e da própria democracia — avalia Dapp.

A postura longe dos holofotes adotada pelo jurista opõe-se à atuação do antigo ocupante do cargo, Flávio Dino, até então o mais retumbante integrante do Planalto na arena digital. Na avaliação dos pesquisadores, apesar dos prós e contras desse grau de exposição, o episódio da recaptura sugere que uma maior capacidade de engajamento nas redes pode ampliar o alcance e o impacto de vitórias do governo.

— Além de construir uma imagem potente e utilizar os novos meios de comunicação de forma mais hábil, existe a necessidade de construção de políticas estruturantes que antecipem problemas e atualizem as diversas áreas do Ministério — diz Dapp

As menções a Lewandowski em 2024 tiveram seu maior patamar em 11 de janeiro, quando foi anunciado como novo ministro da Justiça. Em eventos mais recentes, as menções ao titular da pasta ficaram em patamares bastante inferiores ao pico observado no início do ano.

O dia do anúncio da homologação da delação premiada de Ronnie Lessa pelo Supremo Tribunal Federal (STF) teve um número de menções 44% menor, enquanto a data da prisão dos suspeitos de serem mandantes do caso Marielle Franco teve 76% menos menções, e o dia do anúncio da recaptura dos fugitivos de Mossoró, 86%.


Fonte: O GLOBO

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