Mais de 20 invasões, lançamento de programa e reação bolsonarista: entenda os desdobramentos da nova ofensiva do MST

Mais de 20 invasões, lançamento de programa e reação bolsonarista: entenda os desdobramentos da nova ofensiva do MST

Governadores de São Paulo e de Goiás afirmaram que não permitirão novas ações do movimento

Mesmo com a promessa do governo de ampliar a oferta de terras para assentamentos, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) retomou as invasões e disse ter ocupado 24 propriedades desde a semana passada, no Abril Vermelho. 

Na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou um programa para a reforma agrária, em solenidade no Palácio do Planalto, com a participação do grupo. A nova ofensiva dos sem-terra provocou reação dos governadores Ronaldo Caiado (Goiás), Tarcísio de Freitas (São Paulo) e da bancada ruralista — todos alinhados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

A ofensiva do MST, aliado histórico do PT, ocorre no momento em que o governo tenta se aproximar de ruralistas. A relação conflituosa entre o agro e os sem-terra coloca Lula em um ponto de pressão entre a militância de esquerda e a necessidade de ampliar sua base.

Nova ofensiva do MST — Foto: Editoria de Arte

As invasões do MST ocorreram em 11 estados: Bahia, Pernambuco, Ceará, Rio de Janeiro, Goiás, São Paulo, Sergipe, Paraná, Rio Grande do Norte, Pará e Distrito Federal. Em Petrolina (PE), os sem-terra ocuparam área da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que já havia sido alvo do movimento no primeiro semestre do ano passado. Em comunicado, o MST acusou o governo federal de não cumprir acordos.

“Estamos em uma conjuntura em que o orçamento voltado para a obtenção de terra e direitos básicos no campo, como infraestrutura, crédito para produção, moradia, entre outros, é por dois anos consecutivos, o menor dos últimos 20 anos”, reclama o movimento.

Calendário fixo

A Embrapa afirmou que nas áreas invadidas há terras agricultáveis, de preservação do Bioma Caatinga e destinadas ao manejo dos rebanhos. Em nota, a empresa disse que “reafirma seu compromisso histórico com a agricultura familiar e com a produção sustentável de alimentos, está aberta ao diálogo e adotando as medidas cabíveis para solucionar a situação”.

A invasão faz parte do Abril vermelho, que ocorre anualmente no mês de aniversário do massacre de Eldorado dos Carajás, que deixou 19 mortos em 1996. No período, o movimento tradicionalmente promove marchas e invasões.

Para tentar diminuir o descontentamento do movimento e frear as invasões do MST, aliado histórico do PT, o presidente Lula lançou na segunda-feira o Programa Terra da Gente, que tentará “ampliar e dar celeridade ao acesso à terra”. A expectativa é de que até 2026, 295 mil famílias sejam beneficiadas.

— É uma forma nova de a gente enfrentar um velho problema. (...) Isso não invalida a luta pela reforma agrária, mas queremos mostrar aos olhos do Brasil o que pudemos utilizar sem muita briga, isso sem querer pedir para alguém deixar de brigar — disse Lula na cerimônia.

Segundo a Presidência, o decreto organiza diversas formas de obtenção e destinação de terras: aquelas já adquiridas, em fase aquisição, passíveis de concessão por dívidas com a União, imóveis improdutivos, imóveis de bancos e empresas públicas, áreas de ilícitos, terras públicas federais, terras doadas e imóveis estaduais que podem ser usados como pagamento de dívidas com a União.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que reivindicações dos agricultores familiares que ocuparam a Embrapa em Petrolina “já foram atendidas” e que a questão “está resolvida”:

— Vamos assinar nesta semana um conjunto de transferência de recursos para Embrapa para que (o órgão) possa produzir sementes para os agricultores familiares, que é uma das reivindicações. Uma segunda reivindicação que também estamos atendendo é o assentamento no perímetro irrigado. E a terceira é a abertura de um escritório do Incra em Petrolina.

Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado disse que sua “tropa de choque” está pronta para evitar novas invasões do MST no estado. Na madrugada de segunda-feira, cerca de mil famílias ocuparam uma área de oito mil hectares da usina CBB, em Vila Boa de Goiás. O MST afirma que a área é “falida”. O governador afirmou que trabalha com forças de segurança e inteligência para interceptar ônibus com invasores que estejam se dirigindo ao local.

— Minha tropa de choque está na região, já fizemos um bloqueio de um ônibus. Se ele chegarem lá, vamos levar para a delegacia.

Espera por resposta

Caiado afirmou que os invasores alegaram que a terra é da União, como já aconteceu em outras ocasiões. O governador afirmou que questionou o Ministério da Justiça e aguarda um posicionamento.

— Se eles assumirem, é problema deles.

Procurados, o Palácio do Planalto e o Ministério da Justiça não retornaram contato do GLOBO.

Em entrevista na segunda-feira à “CNN Brasil”, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, também afirmou que não permitirá invasões:

— Temos sido rápidos nestas desmobilizações.

Desde o começo do mês, o MST ocupou terras em dois municípios paulistas, Agudos e Campinas, onde fica a Fazenda Mariana. Segundo o movimento, a área de cerca de 200 hectares é administrada por uma empresa do setor imobiliário, e está “tomada por pastagem degradada e há anos não cumpre sua função social”.

A ofensiva do MST dificulta a tentativa do governo de de diminuir resistências entre ruralistas. A estratégia prevê churrascos na Granja do Torto com produtores, viagens para estados com predominância do agro e obras do PAC destinadas as setor.

Presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), o deputado Pedro Lupion afirmou ao GLOBO que esse movimento do governo de aproximação é irrelevante se o Planalto não conseguir conter as invasões.


Fonte: O GLOBO

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