De volta ao comando do PAC, Miriam Belchior vira a 'gerente' do governo Lula

De volta ao comando do PAC, Miriam Belchior vira a 'gerente' do governo Lula

Secretária executiva da Casa Civil, ex-ministra tem canal direto com o presidente. Além da gestão técnica, nomeações e detalhes de MPs passam pelo crivo dela

Porto Velho, Rondônia - Na montagem da nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), servidores do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) passaram horas em reunião no Palácio do Planalto para convencer Miriam Belchior que um trecho de 23 quilômetros de uma estrada deveria ser concretado, e não asfaltado. A secretária-executiva da Casa Civil acabou concordando com a sugestão inicial — após um debate firme e recheado de argumentos técnicos, segundo os presentes.

O episódio ilustra a atuação de uma personagem que passa ao largo dos holofotes, mas é vista internamente como peça-chave para o andamento dos projetos que o governo considera prioritários. Oficialmente número 2 da Casa Civil, ministério comandado por Rui Costa, Miriam Belchior tem uma atuação que vai além e passa por praticamente todo o Executivo.

O canal direto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, trilhado pelas passagens em gestões petistas anteriores, abre caminho para decisões que ultrapassam detalhes técnicos de obras de grande porte e alcançam os detalhes de Medidas Provisórias (MPs) que serão enviadas ao Congresso. Nomeações para cargos importantes também passam por seu gabinete.

Ficha nº 7 de filiação ao PT

A secretária executiva da Casa Civil comanda diretamente o PAC, relançado por Lula no ano passado. Com investimento estimado em R$ 1,7 trilhão, o programa é uma das vitrines do presidente de olho nas eleições municipais neste ano e na reeleição em 2026.

Pela abrangência das suas atribuições e também pela fama de ser objetiva nas cobranças e demandas, ela é conhecida entre ministros como a “gerente” do governo Lula. Além do PAC, Miriam Belchior coordena todas as secretarias executivas da Esplanada e faz reuniões periódicas com os colegas para avaliar ações de cada pasta.

A número dois da Casa Civil fala para dentro. Não costuma receber parlamentares, sobretudo os que não são do PT — partido que ajudou a fundar e do qual tem a ficha de filiação de número 7. Ex-ministra do Planejamento, conhece os meandros das disputas por obras — e recursos — em Brasília.

Na montagem do PAC, lembrou um técnico do governo, ela deixou fora do programa a construção da ponte entre Penedo (AL) e Neópolis (SE) sobre o Rio São Francisco, apesar dos pedidos dos governadores de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), e de Sergipe, Fábio Mitidieri (PSD). Coube então aos congressistas destinarem R$ 30 milhões em emendas para elaboração dos projetos básico e executivo de engenharia e posterior execução das obras pelo Dnit — a obra acabou entrando no portfólio do governo via recursos dos parlamentares.

A ministra da Gestão, Esther Dweck, disse que a colega de governo inicialmente pode ser “durona”, mas pede desculpas se considerar que extrapolou. Depois, quando passa a confiar no interlocutor, torna-se “acolhedora”, segundo Esther. Para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), a número dois da Casa Civil “tem uma conduta irreparável” na montagem e execução da política pública e, por isso, há “um certo desgaste, porque nem sempre é fácil conciliar com as demandas e pleitos dos parlamentares”.

— Ela tem a confiança do presidente Lula. É secretária executiva do ministério mais importante do governo, que é a Casa Civil. Tudo passa por ela, os programas sociais Bolsa Família, Minha Casa, Minha Vida e o PAC — complementou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

‘Sem recado pela imprensa’

Essa proximidade, porém, não a deixa imune de queixas pela Esplanada. Secretário de Políticas Agrícolas do Ministério da Agricultura, pasta da qual foi titular no governo de Dilma Rousseff, Neri Geller contou que ao ser nomeado para o cargo, em dezembro, pediu uma audiência para fazer um agradecimento:

— Ela tinha na mão uma nota que tinha saído na imprensa sobre dificuldades que ela estaria impondo à minha nomeação. Ela falou: “Neri, não me mande recado pela imprensa”. Expliquei que eu tinha ido lá justamente para agradecer pela minha nomeação. Ela pode falar seco, sim, mas é uma pessoa correta.

Com uma jornada diária de 12 horas, no mínimo, Miriam Belchior almoça na própria sala e costuma usar o horário do almoço para despachar com a equipe. Frequentemente, o trabalho se estende pelos sábados e domingos. Nas horas vagas, costuma ir ao cinema e gosta de ler romances policiais. Nascida em Santo André (SP), é filha de ex-trabalhadores da indústria — o pai deu expediente na Pirelli, e a mãe, na Firestone.

Depois, abriram um pequeno negócio, o Bazar da Ângela, nome da mãe, e acabaram se firmando como comerciantes. A chefe do PAC é formada em engenharia de alimentos, com especialização em gestão pública. Ela é casada com o economista Doria Carneiro, com quem tem um filho. Antes, foi casada com o ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, morto em 2002.

Personalidade ou carapaça

Ao ser homenageada recentemente pelo Grupo Esfera com o prêmio “Mulheres Exponenciais”, a secretária executiva da Casa Civil afirmou que o jeito com o qual lida com o trabalho a ajuda:

— Os homens normalmente têm nome e sobrenome, é Antônio Carneiro, João de Oliveira. Mulher, não. Mulher é Miriam, Cristina, Sandra... Não tem sobrenome. É uma coisa mais pessoal e menos profissional. Minha personalidade, famosa por ser forte, ajuda a enfrentar essa situação. É uma certa carapaça.


Fonte: O GLOBO

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