Porto Velho, RO.
Aliados e ministros do governo Lula (PT) minimizaram o impacto do ato
de Jair Bolsonaro (PL) em Copacabana, no Rio de Janeiro, neste domingo
(21). Alvos dessa manifestação, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco
(PSD-MG), e Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal),
optaram pelo silêncio.
Integrantes do primeiro escalão do
governo disseram que não se preocuparam em assistir aos discursos ou não
quiseram se manifestar abertamente.
A ideia de integrantes do
governo é de não dar relevância ao ato, considerado de médio porte, sem
grandes novidades políticas e com adesão de uma parcela da população já
cristalizada no bolsonarismo.
Um ministro classificou,
reservadamente, as falas como "bravatas" e o evento como
"AnistiaPalooza", em referência ao festival LollaPalooza e aos pedidos
de anistia aos presos pelo 8 de janeiro. Outro auxiliar do primeiro
escalão disse que é preciso deixar Bolsonaro com a Justiça, e que cabe
ao governo governar.
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja,
publicou no X um vídeo de Lula enquanto acontecia a manifestação. Nele,
o presidente fala sobre casas do pássaro João de Barro no Palácio da
Alvorada e compara com o programa Minha Casa Minha Vida.
Coube à
presidente do PT e deputada federal, Gleisi Hoffmann (PR), sair
publicamente em defesa de Lula após ele ter sido amplamente criticado
por Bolsonaro em sua fala e chamado de "ladrão".
"Quem responde a
inquérito, com provas materiais e testemunhos claros, por ser LADRÃO de
joias que pertencem ao povo brasileiro é VOCÊ, inelegível. Assim como
responde por fraude e conspiração para ROUBAR o resultado da eleição.
Você foi declarado inelegível porque violou a lei e apostou que ficaria
impune", disse Gleisi no BlueSky.
No X, ela chamou atenção para
relatório da PF (Polícia Federal) sobre "gabinete do ódio" estar
buscando apoio de estrangeiros, como Elon Musk, dono do X (ex-Twitter).
"Buscam
apoio de extremistas estrangeiros, do tipo de Elon Musk, dono do X,
para mentir que há censura em nosso país. [...] A democracia precisa se
defender desses ataques coordenados em nível internacional. A quem
servem, nesta situação, os ataques ao ministro @alexandre de Moraes?",
questionou.
Hoffman cita reportagem da Folha que mostrou
inverdades que circulam nas redes sociais de Bolsonaro. Na mesma
mensagem, ela também mencionou o jornal para defender que haveria
ataques a decisões do STF.
O ato de Copacabana foi marcado pela
elevação no tom das críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e a
Pacheco. As falas mais duras foram proferidas por aliados como o pastor
Silas Malafaia.
Além disso, diferente do ato anterior, na
avenida Paulista, em fevereiro, Bolsonaro estava menos pressionado pela
opinião pública e por operações da PF desta vez. Assim, o enredo da
manifestação saiu da defesa do ex-presidente para orbitar em torno do
dono do X, Elon Musk, e do que bolsonaristas chamam de liberdade de
expressão.
Bolsonaro exaltou o dono do X em sua fala e voltou a
dizer que não há tentativa de golpe por se discutir estado de sítio -o
que consta na chamada "minuta do golpe".
Já Malafaia chamou
Moraes de "ditador da toga" e o presidente do Senado de "frouxo, covarde
e omisso" por não investigar o ministro do STF.
Procurados pela reportagem, o STF e Pacheco não se manifestaram.
A
estratégia também foi adotada pelos comandantes das Forças Armadas.
Eles foram alvos de críticas de Malafaia, que sugeriu que os chefes
militares abandonassem suas funções.
"Se esses comandantes
militares honram a farda que vestem renunciem dos seus cargos e que
nenhum outro comandante assuma até que haja uma investigação do Senado",
disse o pastor.
Malafaia foi condecorado neste mês pelo STM
(Superior Tribunal Militar) com a Ordem do Mérito Judiciário Militar
-medalha concedida àqueles que prestaram reconhecidos serviços em apreço
à Justiça Militar.
Além do pastor, também discursaram os
deputados Gustavo Gayer (PL-GO) e Nikolas Ferreira (PL-MG), além da
ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Desta vez, só os
governadores Jorginho Mello (PL-SC) e Cláudio Castro (PL-RJ) compareceu
ao evento, diferente do ato na Paulista, que reuniu governadores
disputando o espólio eleitoral do bolsonarismo.
Tarcísio de
Freitas, de São Paulo, foi amplamente elogiado por Bolsonaro em seu
discurso. Ele não compareceu, mas publicou um vídeo compilado de imagens
do evento e disse que o ex-presidente poderia sempre contar com ele.
"É
por tudo isso, e por entender o verdadeiro sentimento do brasileiro, os
seus verdadeiros valores, que o presidente Jair Bolsonaro hoje é mais
que a maior liderança brasileira, é um movimento cada dia mais forte e
que seguirá levando multidões por onde passar. Mais um grande dia! Conte
sempre comigo, presidente", disse.
O ato convocado por Bolsonaro
foi repleto de associações religiosas e, em determinados momentos,
emulou cultos na orla de Copacabana. Michele Bolsonaro chegou a comandar
a oração do Pai Nosso, e o deputado e pastor Marco Feliciano (PL-SP)
comparou o ex-presidente ao profeta Moisés, cuja história bíblica está
relacionada à libertação do povo israelense.
"Não estamos usando
da fé dos nossos irmãos, não. É porque a palavra tem poder de
libertação. A palavra de Deus é viva e se renova a cada manhã. Como
nossos inimigos têm medo dessa palavra. Se trazer à existência, algo
sobrenatural vai acontecer", disse Michele no ato.
O deputado e
pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) disse ver com tristeza a "manipulação
da fé para sustentar o projeto político de poder de um grupo".
"Com
tons de devoção e emoção há, na verdade, o sequestro da fé para
construção de um ambiente tóxico, violento e perigoso. Estão
partidarizando a igreja, disseminando ódio, dividindo famílias,
colocando Bolsonaro como ídolo", disse.
"A experiência da fé pode
contribuir com a sociedade quando seu fruto é amor e respeito. Mas esse
grupo é bélico e tem mais a ver com quem crucifica do que com quem foi
crucificado", completou Henrique.
por Folhapress
Aliados de Lula minimizam ato de Bolsonaro no Rio; STF, militares e Pacheco silenciam
Integrantes
do primeiro escalão do governo disseram que não se preocuparam em
assistir aos discursos ou não quiseram se manifestar abertamente