EUA apresentaram projeto de resolução na ONU para um ‘cessar-fogo imediato’ em Gaza, diz Blinken

EUA apresentaram projeto de resolução na ONU para um ‘cessar-fogo imediato’ em Gaza, diz Blinken

Texto, que condiciona trégua à libertação de reféns israelenses, é apresentado após Washington vetar sucessiva e abertamente diversas propostas que continham as palavras "cessar-fogo" e "imediato"

Após vetarem sucessivamente uma série de propostas para uma trégua no conflito na Faixa de Gaza, os Estados Unidos submeteram pela primeira vez um projeto de resolução ao Conselho de Segurança da ONU para pedir um “cessar-fogo imediato, condicionado à libertação de reféns”, no conflito. A informação foi confirmada na quarta-feira pelo secretário de Estado, Antony Blinken, em uma entrevista na Arábia Saudita. O chefe da diplomacia americana voltou ao Oriente Médio para negociar uma pausa nas hostilidades e nesta quinta-feira desembarcou no Egito.

“Apresentamos uma resolução ao Conselho de Segurança, apelando a um cessar-fogo imediato condicionado à libertação dos reféns, e esperamos sinceramente que os países a apoiem”, disse Blinken ao al-Hadath News, durante uma visita à Riad, esperando que a proposta envie uma "forte mensagem”.

A guerra eclodiu em 7 de outubro com um ataque terrorista do Hamas contra o sul de Israel, que matou 1,2 mil pessoas, a maioria civis, e fez mais de 240 reféns, de acordo com autoridades israelenses. Tel Aviv afirma que 130 cativos ainda continuam retidos no enclave, dos quais 33 teriam sido mortos. Durante uma trégua temporária em novembro, após um acordo selado entre as partes do conflito e mediado pelo Egito, Estados Unidos e Catar, mais de 100 deles foram soltos.

O texto, ao qual al-Jazeera tiveram acesso, diz: "O Conselho de Segurança determina o imperativo de um cessar-fogo imediato e duradouro para proteger os civis de todos os lados, permitir a entrega de ajuda humanitária essencial e aliviar o sofrimento humanitário e para esse fim apoia inequivocamente os esforços diplomáticos internacionais em curso para garantir tal cessar-fogo em conexão com a libertação de todos os reféns restantes". Ainda não foi formalizada uma data para a votação no conselho.

As especulações de que Washington negociava uma proposta nos bastidores começaram a circular no fim de fevereiro, após o país ter rejeitado a resolução apresentada ao conselho pela Argélia. Na época, a embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield alegou que o país não poderia "apoiar uma resolução que poria em risco negociações sensíveis". As palavras "imediato" e "cessar-fogo" já foram motivo para rejeição de diversas propostas anteriores, incluindo a apresentada pelo Brasil em outubro, e agora marcam a mudança do posicionamento do governo de Joe Biden frente ao conflito.

O presidente americano tem apoiado Israel desde os ataques de 7 de outubro, enviando milhões de dólares em ajuda militar e armas, mas recentemente lançou críticas contundentes à assimetria no número de mortos no enclave, à situação humanitária no enclave palestino — ONGs e agências da ONU alertam para o risco iminente de fome — e frente à potencial incursão terrestres à cidade de Rafah, no sul de Gaza, que abriga 1,5 milhões de palestinos.

E num discurso no início deste mês, sua vice, Kamala Harris, apelou a um “cessar-fogo imediato”, depois de meses de linguagem mais comedida por parte de funcionários da administração.

O anúncio aconteceu durante uma viagem de Blinken pelo Oriente Médio para pressionar por uma trégua em Gaza. O giro começou pela Arábia Saudita, na quarta-feira, onde o secretário se reuniu com o príncipe herdeiro, Mohamed bin Salmán. Nesta quinta, ele seguiu para o Egito, um dos principais mediadores do conflito junto ao Catar, na qual conversou com o ministro das Relações Exteriores Sameh Shoukry e com o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sisi. No dia seguinte, Blinken desembarcará em Israel.

Segundo o gabinete dos dois países citados pela Reuters, Blinken e Sisi analisaram juntos o progresso nas negociações, com o líder egípcio alertando para a necessidade de uma trégua no conflito e para os perigos de uma operação militar em Rafah, pressionada contra a fronteira do Egito.

'Como um terremoto'

Os mediadores internacionais — Estados Unidos, Catar e Egito — se esforçam para obter uma trégua, em vão até o momento. Um dirigente do Hamas em Beirute, Osama Hamdan, declarou na quarta que a resposta de Israel à última proposta do grupo é "globalmente negativa" e poderia levar as negociações "a um ponto de estagnação".

Após flexibilizar suas exigências, que incluíam um cessar-fogo definitivo, o Hamas propôs na semana passada uma trégua de seis semanas e a libertação de 42 reféns — incluindo mulheres, crianças, idosos e enfermos — em troca da liberação de entre 20 e 50 palestinos por cada refém. Também exigiu a saída do Exército israelense de Gaza e a entrada de mais ajuda humanitária, afirmou Hamdan.

— Acho que as disparidades estão diminuindo e acho que um acordo é muito possível — disse Blinken ao al-Hadath, citado pela Reuters. — A equipe israelense está presente e tem autoridade para chegar a um acordo.

Ao jornal israelense Haaretz, diplomatas árabes revelaram que os pontos de tensão que ainda permanecessem entre Israel e Hamas nas negociações diz respeito ao retorno dos palestinos ao norte de Gaza, mesmo mulheres e menores, e os mecanismo de distribuição da entrada de ajuda humanitária, já que o Hamas exige que seja a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês) a responsável.

A preocupação internacional tem aumentado diante da ameaça de fome e do crescente número de vítimas em Gaza, com os persistentes bombardeios israelenses. Já são mais de 31,9 mil mortos no enclave, a maioria mulheres e crianças. As Nações Unidas alertaram na segunda que "a fome deverá ocorrer a qualquer momento entre agora e maio nas províncias do norte", onde as entregas tornam-se cada vez mais escassas devido a uma série de bloqueios israelenses, combates e saques realizados por multidões famintas.

— Estávamos dormindo quando ouvimos uma grande explosão. Corremos na direção da área devastada e foi como se tivesse sido atingida por um terremoto — disse Mahmoud Abu Arar, um deslocado de Rafah.


Fonte: O GLOBO

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