Novo Anhembi: 'Maracanã dos eventos' deve atrair mais R$ 5 bi em negócios para SP

Novo Anhembi: 'Maracanã dos eventos' deve atrair mais R$ 5 bi em negócios para SP

Espaço repaginado terá arena multiúso de 20 mil lugares, centro de convenções, teatro e pavilhão de exposições e será reaberto em maio

No fim de maio, quando o icônico espaço de exposições do Anhembi for reaberto com a Naturaltech, uma feira de produtos naturais, São Paulo terá de volta um dos seus principais palcos de eventos — mas totalmente repaginado.

A estimativa é que quando estiver funcionando a pleno vapor, com arena multiúso com 20 mil lugares, salas de conferências, centro de convenções, teatro e pavilhão de exposições, o local tenha potencial para adicionar pelo menos mais R$ 5 bilhões por ano em negócios para a cidade, nos cálculos da prefeitura.

— O Anhembi é o Maracanã dos eventos. Já nasceu completo em 1970, mas precisava de fôlego novo para chegar ao seu máximo potencial de negócios. Receberá um investimento de R$ 1,5 bilhão até 2026 — diz Rodolfo Bittencourt Andrade, diretor do Distrito Anhembi, novo nome do complexo.

O espaço foi concedido à iniciativa privada pela prefeitura da capital no início de 2021, por 30 anos. A francesa GL Events o arrematou, em lance único de R$ 53,7 milhões. Na primeira tentativa, em 2019, no governo de Fernando Haddad (PT), a concessão não andou por falta de interessados.

Um estudo da União Brasileira de Feiras e Eventos de Negócios (Ubrafe), feito antes da pandemia, mostrou que pelo menos 5% do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil é negociado em feiras e eventos. Isso significa que essas operações movimentam cerca de R$ 50 bilhões em negócios todo ano.

Reforma do Complexo do Anhembi: teatro faz parte dos empreendimentos no espaço — Foto: Edilson Dantas

No Brasil, são realizadas 2,5 mil feiras por ano, sendo que 250 delas — as maiores — acontecem na cidade de São Paulo. Em 2023, elas reuniram 6,6 milhões de pessoas, com impacto financeiro de R$ 9,3 bilhões na capital paulista.

— A volta à ativa do Anhembi, com investimento da iniciativa privada e todo repaginado, o coloca em outro patamar como um hub internacional de eventos. O espaço ficou muito sucateado nos últimos anos nas mãos do poder público — diz Paulo Octavio Pereira, diretor executivo da Ubrafe, que estima que, neste ano, eventos empresariais em espaços paulistanos devem girar R$ 10 bilhões, atraindo 7 milhões de participantes.

Arquitetura preservada

Mesmo com a reconstrução de estruturas do Anhembi, paulistanos e os turistas reconhecerão os principais traços de sua arquitetura, diz Andrade. A cúpula amarela em forma “de pudim” do Teatro Celso Furtado, por exemplo, será mantida, mas pintada de branco para que possa virar tela de projeções de imagens.

As mais de 2,5 mil poltronas do teatro, concebidas pelo designer Sergio Rodrigues, e que parecem flutuar no ar, foram restauradas. Os arcos do sambódromo paulistano, projeto de Oscar Niemeyer que está dentro do complexo, também serão preservados. Apenas as torres dos jurados, que não faziam parte do projeto original do arquiteto, foram removidas.

Mas é no pavilhão de exposições que as mudanças serão drásticas. A estrutura de alumínio do local foi praticamente toda removida, e o material será reciclado. Apenas uma parte das famosas estruturas de “pé de galinha”, marca do pavilhão, foi aproveitada. Será disposta na entrada da Avenida Olavo Fontoura.

O pavilhão antigo tinha goteiras, infiltrações e não contava com sistema de ar condicionado. A área de 75 mil metros quadrados poderá abrigar até eventos simultaneamente, com o uso de divisórias que não existiam no projeto original. Elas poderão criar espaços de 15 mil metros quadrados cada um. A lotação máxima permitida será de 60 mil pessoas ao mesmo tempo.

— Haverá mais segurança, com equipamento contra incêndio, e climatização. Na parte estrutural, onde as empresas penduram toneladas de equipamentos nas feiras, tudo foi refeito — disse Andrade.

Reforma do Complexo do Anhembi: projeto suscitou debate sobre arquitetura — Foto: Edilson Dantas

Perguntado se recebeu críticas de urbanistas pelas mudanças no projeto original do arquiteto Jorge Wilheim, em parceria com Miguel Juliano e Silva e Massimo Fiocchi, o diretor do Distrito Anhembi admite que sim. Mas lembra que o espaço não é tombado e argumenta que as mudanças foram necessárias para que o Anhembi se adapte a outros espaços de eventos no mundo.

Em 2017, um pedido de tombamento do Anhembi foi arquivado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), quando João Doria (PSDB) era prefeito, o que gerou críticas de urbanistas na época. Doria era a favor da concessão à iniciativa privada deste e de outros espaços para grandes eventos, como o Ginásio do Ibirapuera.

‘SP não preserva’

Na ocasião, o conselho considerou que a sede administrativa, o auditório Elis Regina, os jardins e os espelhos d’água já haviam tido características alteradas e que seus elementos poderiam ser encontrados em outros projetos na cidade.

— Há esse problema em São Paulo: não preservamos o patrimônio. Era preciso um estudo um pouco mais apurado sobre as características que podem ficar ou não, conversas com especialistas, estudar o histórico, ver quais as características arquitetônicas daquele momento, quais precisam preservar. 

‘Ah, mas a cobertura era horrorosa’, mas ela data de uma época de produção de arquitetura na cidade, trabalhos que são pesquisados na academia — diz Viviane Rubio, professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Quando foi concebido, em 1970, durante a realização do Salão do Automóvel pelo empresário Caio de Alcântara Machado, o Anhembi era um símbolo da modernização da cidade, no qual setores como a indústria poderiam fazer grandes exposições e mostrar sua força. O local foi resultado de um arrojado trabalho de arquitetura e engenharia e foi a maior construção de alumínio feita no mundo, naquela época.

— Não há tombamento histórico, mas não se pode passar a borracha em tudo. Estamos mantendo as estruturas na marquise de entrada, com os “pés de galinha”, o teto “pudim” do teatro, assim como os arcos do sambódromo, que ganhou melhorias elétricas e hidráulicas — diz Andrade.

O teatro Elis Regina virou um espaço com salas modulares multiúso e plenária com 12 mil lugares. No espaço do antigo lago, haverá praça com restaurante. O Hotel Holliday Inn, com 790 apartamentos, continuará no local, mas não faz parte da concessão.

Já a arena multiúso, que ainda será construída e deve levar alguns anos para ser inaugurada, receberá eventos esportivos e shows, e deve nascer com naming rights, ou seja, ostentando no nome alguma marca.

Antes da reforma, o Anhembi abrigava cerca de 150 eventos por ano e recebia público de 3,5 milhões de pessoas a cada 12 meses. Esse ritmo deve se manter e já estão sendo negociados eventos até 2030.

A GL Events é uma empresa familiar, com ações negociadas na Bolsa de Paris. Tem 59 espaços de eventos pelo mundo, em 26 países. No Brasil, também tem a concessão do São Paulo Expo e Rio Arena e Riocentro, os dois últimos no Rio. E ainda opera espaços em Salvador e em Santos, no litoral paulista.

Chegou ao país em 2007 com a realização dos Jogos Pan-americanos, no Rio. Este ano, também estará envolvida na realização das Olimpíadas de Paris.

Impacto à mesa

Além de gerir e reformar espaços de feiras, a empresa também organiza eventos — como a Bienal do Livro carioca. Faturou € 21,4 bilhões em 2023, alta de 9% em relação a 2022, e tem 5 mil funcionários.

— O Distrito Anhembi é, atualmente, o principal investimento da GL Events pelo mundo — diz Andrade.

Diretor da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel/SP), Joaquim Saraiva, destaca que a volta do Anhembi reformado traz impactos positivos para todo o setor em São Paulo. Pare ele, faz falta à cidade um espaço totalmente modernizado:

— Para o setor de gastronomia, ter um espaço de eventos que fica ocupado o ano inteiro é importantíssimo.


Fonte: O GLOBO

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