Lewandowski assume Ministério da Justiça em meio a debate extremamente polarizado sobre segurança pública, indica estudo

Lewandowski assume Ministério da Justiça em meio a debate extremamente polarizado sobre segurança pública, indica estudo

Perfis à esquerda e bolsonaristas trocam acusações nas redes sobre as causas da violência, aponta levantamento da FGV-ECMI

Novo titular do Ministério da Justiça, Ricardo Lewandowski assume a pasta com o desafio de lidar com um cenário de debate polarizado nas redes sociais acerca do tema da segurança pública. No primeiro ano da terceira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ações de brutalidade contra mulheres, crianças e adolescentes foram o principal destaque na discussão temática sobre violência, em um cenário de constante responsabilização do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou seus aliados por uma suposta "normalização do discurso de ódio". Em contrapartida, bolsonaristas também miram frequentemente na esquerda ao tratar do assunto.

Essas são algumas das tendências observadas ao longo do ano passado em pesquisa da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV-ECMI) que analisou a repercussão da discussão sobre segurança pública no X (antigo Twitter) e no Facebook entre 2022 e 2023. Segundo o estudo, o volume de posts sobre o tema foi praticamente o mesmo no período analisado, com aumento de apenas 1,9% de um ano para o outro. A média anual de menções ao assunto ultrapassou 10 milhões de posts, o que indica um interesse alto e constante no debate digital.

— Lewandowski assume a pasta em um ano eleitoral. O pleito de 2022 nos mostrou que este é um período em que a questão da segurança pública é central. O governo Lula tem a missão de mostrar que tem um plano para a área. A gestão precisa expor que dialoga com a população e tem impacto quando trata sobre o tema — aponta o pesquisador da FGV Victor Piaia.

A pesquisa aponta que, nos três primeiros meses do ano passado, o debate sobre segurança pública se dedicou a discutir os tópicos que tiveram destaque em 2022 — quando episódios relacionados à violência política e contra as mulheres tiveram maior impacto. Entre abril e junho, a participação de atores políticos em sessões da Comissão de Segurança Pública repercutiu com a circulação de cortes de vídeos e falas controversas. Estes meses também foram marcados por debates focados em crianças e adolescentes, mobilizados por dados de exploração sexual e por episódios de violência nas escolas.

O debate assume duas roupagens no segundo semestre. A primeira tem tom cotidiano e reflete os problemas de segurança pública do Rio de Janeiro — estado que fica em evidência até o final de 2023, sob a percepção de conviver com uma violência “acima da média”. A outra está relacionada à violência política, ao tratar sobre o assassinato do então candidato à presidência do Equador Fernando Villavicencio, bem como da lentidão das investigações do caso Marielle Franco.

No último trimestre, o debate foi alvo de uma disputa política e ideológica ainda mais ferrenha entre os campos mais à esquerda e o conservador. Perfis alinhados ao bolsonarismo se mobilizaram em torno de críticas ao então ministro da Justiça, Flávio Dino, e de ataques ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes pela morte de um dos presos do 8 de janeiro. Por outro lado, contas mais próximas do governo focaram no conflito entre Israel e Palestina, condenando o suposto genocídio em Gaza.

— É bastante claro como cada um dos campos políticos utiliza a segurança pública em postagens a partir da politização partidária. Dino era o ministro com maior número de menções nas redes, gerando muito material para disputas digitais. A consequência disso é que a pasta dele ganhou ainda mais visibilidade por conta do papel que ele assumiu diante da polarização do Brasil — sustenta Piaia.

Violência em foco

O debate acerca de homicídios também teve destaque em todo 2023. A pesquisa aponta que a discussão sobre o tema teve crescimento de cerca de 56% entre setembro e outubro do ano passado. O movimento está relacionado a casos de violência urbana, além de críticas à gestão do Ministério da Justiça.

O assassinato do médico Diego Bomfim, irmão da deputada federal Sâmia Bomfim, em outubro do ano passado, alimentou as menções à violência política. O tópico tornou-se relevante ainda dentro do debate sobre homicídios, sendo fortemente politizado por perfis à esquerda, que culpam aliados de Bolsonaro pela suposta criação de uma esfera de autorização da violência.

Um movimento inverso é observado em relação à violência rural. Ainda que a criminalidade no campo tenha crescido entre os dois anos estudados, com diversos casos de conflito agrários, o tópico não mobiliza o suficiente para angariar destaque no X.

O relatório também destaca o pico nas menções ao terrorismo em abril de 2023, motivados pelo ataque a uma creche em Blumenau, Santa Catarina. Os pesquisadores avaliam que a discussão respinga em Bolsonaro e aliados, a partir da noção de que o bolsonarismo teria contribuído para a normalização do discurso de ódio, o que, sob este ponto de vista, alimentaria ataques terroristas.

Entre os eventos noticiados com maior repercussão em 2023, estão a operação da Polícia Militar na Baixada Santista, o assassinato da “Mãe Bernadete”, líder quilombola em Simões Filho (BA), a ameaça de tiro em Lula na cidade de Santarém (PA) e o assassinato do então candidato à presidência do Equador, Fernando Villavicencio.


Fonte: O GLOBO

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