Presidente da Americanas diz que só uma volta ao passado não é suficiente, e defende reconstruir cultura da empresa

Presidente da Americanas diz que só uma volta ao passado não é suficiente, e defende reconstruir cultura da empresa

Leonardo Coelho avalia que, a partir da homologação da recuperação judicial, poderá obter melhores condições de crédito, o que vai permitir que a varejista volte a andar com as próprias pernas

Leonardo Coelho Pereira atuava como sócio da consultoria Alvarez & Marsal, especializada em empresas em crise, quando foi escolhido para assumir o comando da Americanas, em fevereiro do ano passado, no auge do furacão que atravessava a companhia. A primeira decisão foi focar no dia a dia do negócio para evitar que o operacional colapsasse.

Precisou enxugar o tamanho da varejista, mas segue confiante que a empresa voltará um dia a ser “o local que os consumidores procuram quando querem comprar algo que não sabem onde encontrar”. Também avalia que, a partir da homologação da recuperação judicial, poderá obter melhores condições de crédito, o que vai permitir que a Americanas volte a andar com as próprias pernas.

Do que tiveram que abrir mão para chegar até aqui?

Primeiro, de uma postura muito arrogante. A Americanas ditava as regras perante fornecedores e atrasava seus compromissos. Tivemos que rever isso, porque eles fazem parte do processo de recuperação da empresa.

O segundo ponto foi abrir mão de onde a gente não agregava valor, fechamos algumas lojas e corrigimos algumas ineficiências do varejo digital. Com isso, tivemos que rever todo o processo logístico.

Vocês tentaram vender tanto o Hortifruti, quanto a Unico, mas não receberam ofertas atraentes. Quando vão tentar fazer essa venda de novo?

As ofertas não foram atrativas. Os competidores imaginaram que era uma venda de liquidação, que a gente estava vendendo para reforçar o caixa para operar em 2023, só que esse caixa veio dos acionistas de referência.

São ativos importantes, que vamos vender quando e se tivermos boas ofertas, em um horizonte de dois ou três anos. Não existe pressa.

O setor de varejo como um todo vem de um período desafiador, com taxas de juros altas, concorrência das asiáticas... Como o senhor projeta o 2024 da Americanas?

A gente não se descola dessa visão do varejo para 2024, o primeiro semestre especialmente deve ser difícil. Nós vamos fazer uma Páscoa bem feita, com produtos à disposição dos clientes em lojas organizadas, já que essa data é melhor para a gente do que o Natal. No segundo semestre, espero mais dinheiro disponível para a população consumir.

Numa entrevista ao GLOBO em 2023, o senhor disse que iria criar um mix de produtos específico para lojas específicas. Isso já foi feito?

Isso ainda é um problema. Antes cada loja tinha seu sortimento, ou seja, mais de 1.700 combinações. Esse mix caiu para 5. Foi necessário para organizar os centros de distribuição, mas não era o ideal. O objetivo agora em 2024 é voltar a colocar variáveis inteligentes como demografia e renda (para determinar quais produtos são mais adequados a cada loja física).

Algum dia a empresa vai voltar a ser o que já foi um dia?

Meu sonho é a gente voltar para o histórico do que a gente fazia bem-feito, que envolve basicamente responder perguntas do tipo: quero comprar algo, vou na Americanas porque sei que o sortimento é vasto e vou encontrar. Também quero manter memórias afetivas sólidas dos consumidores mais antigos.

Mas só uma volta ao passado não é suficiente para garantir o sucesso da operação. A gente tem que reconstruir em algumas etapas uma nova cultura de Americanas. Tem que ser simples, descomplicada, atender as necessidades dos clientes onde eles estiverem.


Fonte: O GLOBO

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