Opositor de Putin aparece em vídeo pela 1ª vez desde transferência para prisão na Sibéria: 'Cela congelante'

Opositor de Putin aparece em vídeo pela 1ª vez desde transferência para prisão na Sibéria: 'Cela congelante'

Alexei Navalny relatou a tribunal de Moscou duras condições de sobrevivência em colônia penal no Ártico e reclamou do limite de 10 minutos para se alimentar

O opositor russo Alexei Navalny apareceu em imagens pela primeira vez desde que foi transferido para uma colônia penal em Kharp, no Ártico russo, em dezembro. Na época, a equipe do crítico do Kremlin ficara três semanas sem notícias dele, e pouco se sabia sobre o estado de saúde do detento. Nesta quarta-feira, ele participou via videoconferência de uma audiência da Suprema Corte, que ocorria em Moscou e avaliava as queixas do opositor às condições de sua detenção na Sibéria.

A colônia penal para a qual foi transferido, apelidada de "Lobo Polar", é um estabelecimento herdado do Gulag soviético. Ao tribunal, Navalny disse que era submetido a temperaturas "congelantes", que chegavam a 32 graus negativos.

— A cela de punição costuma ser um lugar muito frio — afirmou ele. — Você sabe por que as pessoas escolhem um jornal lá [um dos itens que podem receber na cela]? Para se cobrirem. Porque com um jornal, posso dizer a vocês, juízes, é muito mais quente dormir, por exemplo, do que sem ele. E então você precisa de um jornal para não congelar.

Navalny também se queixou do limite de tempo para fazer as refeições.

— É impossível comer em 10 minutos — relatou à Corte. — Se você comer todos os dias em 10 minutos, [fazer] esta refeição se tornará um processo bastante complexo.

(Veja imagens da audiência, no vídeo abaixo)

Apesar das queixas, Navalny parecia estar de bom humor. Ele chegou a brincar, durante a audiência, que ainda não havia recebido nenhuma correspondência de Natal por estar “muito longe”.

A meses da eleição presidencial no país, Navalny foi levado para a colônia penal número 3, na localidade de Kharp, anunciou a porta-voz do ativista, Kira Yarmish, na rede social X (antigo Twitter), na última semana de dezembro. Na ocasião, Navalny disse estar "bem". A viagem até sua nova prisão durou 20 dias e foi “bastante cansativa”, declarou ele na rede X.

Até o início de dezembro, ele estava detido na colônia da região de Vladimir, a 250 quilômetros de Moscou.

Navalny, um ativista anticorrupção e um dos principais adversários políticos do presidente Vladimir Putin, cumpre pena de 19 anos de prisão por "extremismo". Ele foi detido em janeiro de 2021 ao retornar à Rússia, depois de se recuperar na Alemanha de um envenenamento que, segundo ele, foi planejado pelo Kremlin.

Kharp, uma pequena cidade de 5 mil habitantes, situa-se em Yamalia-Nenetsia, uma região remota no norte da Rússia. A localidade fica além do Círculo Polar Ártico e abriga várias colônias penais. Um dos principais colaboradores de Navalny, Ivan Zhdanov, afirmou que esta é "uma das colônias mais remotas" da Rússia. As condições lá são "difíceis", escreveu na rede X.

“As condições lá são duras, com um regime especial na zona de permafrost” e muito pouco contato com o mundo exterior, disse Jdanov. O permafrost é uma camada do subsolo da crosta terrestre que está permanentemente congelada.

Cadeia para 'penas perpétuas'

De acordo com o veredito de "extremismo" pronunciado contra ele, o opositor tem de cumprir a pena em uma colônia de "regime especial". Nessa categoria, a mais gravosa na Rússia e normalmente destinada aos condenados à prisão perpétua ou aos detentos mais perigosos, as condições de detenção são mais duras.

"Desde o início, ficou claro que as autoridades queriam isolar Alexei, especialmente antes da eleição presidencial", prevista para março de 2024, acrescentou Zhdanov.

De acordo com a agência Reuters, a nova prisão de Navalny é conhecida como colônia "Polar Wolf" (“Lobo Polar") e considerada uma das prisões mais difíceis de se ficar na Rússia. Os invernos são rigorosos, e a previsão é que as temperaturas caiam a cerca de 28 graus Celsius negativos na próxima semana.

Localizada às margens do rio Sob, a Polar Wolf é uma das sete colônias de trabalho corretivo de segurança máxima operadas pelo Serviço Penitenciário Federal para condenados à prisão perpétua, status este que ganhou em 2004, segundo o site Atlas News. O portal afirma ainda que a prisão é composta por "caldeira, padaria, usina a diesel, cantina e departamentos de produção para os presos fazerem blocos de concreto e brita".

Ainda segundo o site, há também oficinas de marmoraria, costura, alfaiataria e carpintaria. Os condenados podem receber um pacote por ano e podem passear em uma pequena jaula uma vez por dia durante 90 minutos.

"[Os detidos] Possuem cama, mesa, criado-mudo, prateleira fechada onde podem guardar alimentos, prateleira para produtos de higiene pessoal, caixa d'água, cabide e vaso sanitário. Os presos não podem deitar na cama durante o dia e não podem conversar com outros presos. Todos os movimentos são realizados algemados", descreve o portal.

A prisão foi fundada em 1960 como parte do sistema de campos de trabalhos forçados soviéticos, de acordo com o jornal Moskovsky Komsomolets, destaca a Reuters.

As transferências de um centro penitenciário para outro na Rússia podem levar várias semanas em viagens de trem, com várias etapas. E as famílias dos detentos não recebem informações durante o período.

A falta de notícias sobre Navalny gerou preocupação em vários países ocidentais e na ONU.

O movimento de Navalny foi minado de maneira metódica pelas autoridades russas nos últimos anos, com vários de seus colaboradores e aliados sendo presos, ou indo para o exílio.

As autoridades iniciaram novos processos judiciais por "vandalismo" contra o opositor, o que pode resultar em mais três anos de detenção.

Nesse cenário, com a oposição quase inexistente e a repressão intensa a qualquer voz crítica, Putin aspira sem problemas a um novo mandato de seis anos na Presidência da Rússia nas eleições de março de 2024.


Fonte: O GLOBO

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