Investimentos em startups caem 57% no Brasil em 2023, pior resultado desde 2018

Investimentos em startups caem 57% no Brasil em 2023, pior resultado desde 2018

Queda registrada em 2022 se aprofundou no último ano e setor agora espera uma retomada lenta, porém mais 'racional'. Tombo na América Latina foi de 60%

Pelo segundo ano consecutivo, as startups brasileiras registraram uma queda no volume de investimentos recebidos, o que fez o setor atingir o pior nível de aportes desde 2018. Em 2023, as startups do país levantaram US$ 1,9 bilhão em capital, uma queda de 56,8% em relação a 2022. A quantidade de negociações também despencou - foram 455, contra 931 no ano anterior. O balanço faz parte de relatório divulgado nesta quarta-feira pela plataforma Distrito.

Depois de atingir o pico em 2021, quando o país contabilizou US$ 9,9 bilhões em capital destinado para startups, o setor atravessa um declínio. A disponibilidade menor de dinheiro para essas empresas vem acompanhando a alta de juros no Brasil e no mundo, e a disposição menor de investidores para tomada de risco.

— Tivemos um ciclo de crescimento muito forte impulsionado pelo cenário macroeconômico bom, com taxas de juros baixas e com um momento que impulsionava a transformação digital das empresas. Desde então, entramos em ciclo de correções — avalia Eduardo Fuentes, diretor de pesquisa do Distrito.

Na América Latina, o total de investimentos para startups encerrou o ano passado em US$ 3,1 bilhões, uma queda de 60,4% em relação ao ano anterior. O melhor momento para a região tinha sido também durante o segundo ano da pandemia de Covid-19, quando as empresas latino-americanas levantaram US$ 17,1 bilhões.

No dia a dia das startups, a queda de capital acabou se traduzindo, principalmente em 2022, em rodadas de demissões, cortes de custos e uma busca maior por lucratividade. Os investidores também passaram a olhar com lupa a sustentabilidade financeira das empresas nas quais apostam.

Investimentos startups — Foto: Criação O Globo

Fuentes destaca que a avaliação trimestral do setor indica uma recuperação que começa a acontecer - entre o primeiro e o último trimestre do ano, houve uma alta crescente de investimentos em startups, que saltaram de US$ 395,5 milhões para US$ 531,7 milhões.

— Tudo indica que vamos ter um ano de 2024 melhor do que o passado. Mas será uma retomada mais racional. Os investidores passam a analisar mais a capacidade das empresas se tornarem lucrativas e saudáveis financeiramente.

Fintechs se destacam

O relatório também indica que o perfil das startups do continente que conseguiram levantar dinheiro em um momento de capital escasso. Dos US$ 3,1 bilhões injetados no setor, um terço foi direcionado para as empresas de finanças, as fintechs. Na sequência, aparecem os setores de energia (US$ 213,1 milhões) e logística (US$ 203,4 milhões).

Segundo o Distrito, as fintechs vêm liderando entre os setores que mais recebem capital desde 2018. Diego Perez, presidente da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), explica que a abertura do sistema bancário brasileiro continua atraindo investimento para o setor e que o espaço de crescimento no setor é um dos atrativos para os investidores.

— Vários setores que não são do setor têm lançado serviços financeiros para reter clientes. Isso acontece no e-commerce, agro e até na logística. Então as fintechs acabam entrando nesse processo.

Outra característica dos investimentos em startups em tempos de capital escasso é a procura maior dos fundos de investimento por negócios em estágio iniciais. Das 746 rodadas que aconteceram na América Latina, 581 foram para projetos em fase inicial, geralmente com um plano de negócios ainda em desenvolvimento.

— Como o mercado inicial é menos inflacionado, acaba sendo natural que o capital acabe direcionado para essas empresas. Isso acompanha também tendências de startups que estão nascendo com as teses do mercado, como aquelas que apostam em inteligência artificial — explica Fuentes.

Enquanto as startups recebem menos dinheiro dos investidores de risco, o apetite dessas empresas para realizar fusões e aquisições também diminui - no ano passado, o número de M&A ficou 47% abaixo de 2021, quando houve o pico desse tipo de operação. Para o Distrito, a recuperação do mercado deve também se refletir em um aumento dessas negociações.


Fonte: O GLOBO

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