Acordo com a Amazon permitirá a criação de um laboratório de inteligência artificial para otimização de laudos para exames que vão de um simples raio X até pet-scan
O objetivo do projeto é reduzir, em pelo menos 30%, o tempo gasto pelo médico radiologista na confecção do laudo.
A nova tecnologia que está sendo desenvolvida no Instituto InovaHC juntamente com a AWS vai se chamar Gerador Adaptativo de Laudos (GAL). A ferramenta vai permitir a emissão automática de laudos radiológicos, levando em conta o histórico do paciente.
Ela parte de modelos de linguagem já treinados em textos gerais em inglês nos Estados Unidos. Não é o chamado API (Application Programming Interface), que consiste na integração de sistemas e aplicativos.
Segundo técnicos do projeto, no Brasil, esses modelos vão ser adaptados para a linguagem altamente técnica da saúde e para o português. E serão feitas alterações desse modelo para que ele seja adequado à realidade brasileira, de um hospital público. A AWS está investindo R$ 1 milhão nessa parte inicial do projeto.
— Não é possível continuarmos a ter laudos como elaborávamos 30, 40 anos atrás. O que de fato acontece. Avançamos na tecnologia dos aparelhos, hoje temos IA, e os laudos continuam os mesmos. O grande objetivo é transformar a linguagem. O laudo vem com as mesmas expressões para o paciente e para o médico, que é muito técnica. Queremos aumentar a eficiência, a precisão e que chegue ao paciente de maneira mais adequada — afirma Giovanni Cerri, porta-voz do InovaHC.
Laudo do Século XXI
O líder para o setor público da Amazon Web Services no Brasil, Paulo Cunha, diz que é o primeiro grande projeto no Brasil com instituto de renome internacional na área de saúde.
— Na área médica, esperamos democratizar a tecnologia. Na parte de tecnologia, envolve capacitação técnica de médicos, pesquisadores e estudantes com o uso das ferramentas para extrair os resultados necessários.
A AWS vai entrar com o acesso à nuvem de dados e o aprendizado de máquinas na área de saúde.
— Já olhamos o movimento do InovaHC há anos. É um ambiente muito rico, que vai aumentar nossa capacidade de IA generativa — diz Cunha.
O hospital emite quase 180 mil laudos por ano e serve de referência para os outros hospitais e serviços do país.
O investimento de R$ 1 milhão será usado na primeira fase do projeto, de aprendizado. Ter acesso à nuvem do AWS corta etapas. O hospital não vai precisar de servidor ou software para acessar sua enorme base de dados e consegue fazer isso em minutos, segundo Cunha:
— Temos uma capacidade exponencial e rápida para novos experimentos e testes.
Giovanni Cerri lembra que o potencial do projeto no HC é de milhares de laudos, mas no Brasil são milhões de laudos radiológicos emitidos anualmente. Como também é um hospital-escola, as pesquisas desenvolvidas no complexo acabam sendo replicadas de “forma veloz pelo número de médicos que forma”. O primeiro passo é facilitar a busca para o médico de informações do paciente.
Giovanni Guido Cerri professor titular de Radiologia da Faculdade de Medicina da USP fala sobre o uso de IA no instituto — Foto: Edilson Dantas /Agência O Globo
— A história médica é importantíssima para que o radiologista comece a elaborar seu laudo. Nessa primeira etapa, esse histórico vai chegar ao médico sem que ele precise vasculhar prontuários e outros exames — afirma Cerri, que também é professor de Radiologia da Faculdade de Medicina da USP.
A segunda fase será tornar o laudo mais fácil para o paciente entender. Atualmente, ele recebe o mesmo documento que o médico, com todos os termos técnicos difíceis de compreender.
— O objetivo é que o paciente possa entender o conteúdo e não criar mais dúvidas e ansiedade — diz Cerri.
Com mais facilidade na busca de dados e termos mais simples para o usuário, a última fase é a elaboração do laudo propriamente dito, com a incorporação das imagens de forma automática. O sistema irá fazer a leitura e análise das informações do paciente e redigir três documentos que serão revisados pelo médico, indicando os pontos de atenção.
Falta pessoal
Segundo Cerri, não haverá corte de profissionais. O que há hoje, segundo ele, é falta de médicos nessa área, e o gerador de laudos vai suprir essa falta. Ele conta que em um congresso nos EUA, há cinco anos, falava-se que era melhor parar de formar médicos radiologistas. Atualmente, faltam profissionais na área:
— Hoje, demora dias para um laudo ser entregue. Podemos fazer isso num prazo mais curto. Ainda não temos claro de quanto vai ser o aumento de produtividade, mas não vai substituir o médico, vai aumentar a segurança do paciente e tirar trabalho burocrático do médico.
Fonte: O GLOBO
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