Petrobras aumenta investimentos e não vai baixar combustível. Analistas dizem o que isso significa para a empresa

Petrobras aumenta investimentos e não vai baixar combustível. Analistas dizem o que isso significa para a empresa

Petrobras vai investir cerca de R$ 500 bilhões, 31% a mais no período de 2024 a 2028

Em meio a pressões do governo, a Petrobras aprovou ontem o primeiro plano de negócios no governo Lula. A empresa vai investir US$ 102 bilhões (cerca de R$ 500 bilhões) no período de 2024 a 2028. A cifra representa aumento de 31% em relação ao plano anterior (2023-2027). Os focos serão o pré-sal, a margem equatorial, além do aumento da capacidade de refino com a ampliação de unidades existentes, e investimento em energias renováveis.

Nesta semana, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, se encontrou duas vezes com o presidente Lula, depois que os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, começaram a articular sua substituição, o que eles negam. Entre os temas dos encontros, pedidos para reduzir o preço dos combustíveis e discussões sobre os rumos da empresa.

O governo busca fazer da estatal uma vitrine, com a ambição de capitalizar em cima de grandes projetos de investimento. Mas a Petrobras tem defendido uma guinada, para diversificar sua estratégia de atuação e abrir uma frente de investimentos renováveis.

O problema é que alguns deles exigem grande aporte de recursos e longo tempo de maturação, o que na prática significaria investir agora e colher resultados apenas nos próximos governos.

Baixo carbono

O plano apresentado pela estatal inclui US$ 91 bilhões em projetos em implantação e US$ 11 bilhões em iniciativas em avaliação (que ainda dependem de análise sobre o financiamento). A exploração e produção de petróleo continua como o carro-chefe da companhia, com 72% dos aportes previstos, e foco no pré-sal.

A curva de produção de petróleo projetada é de 3,2 milhões de barris por dia e considera a entrada de 14 novas plataformas (FPSOs) no período 2024-2028, dez das quais já contratadas.

O investimento em refino, que voltou a fazer parte da estratégia da estatal, corresponde a 16%. Já a área de gás, energia e baixo carbono ficou com 9%. O plano contempla aportes na Foz do Amazonas, nova fronteira de exploração, considerada uma opção polêmica, à medida que enfrenta resistências pelo risco ambiental.

A estatal, no entanto, não detalhou os projetos verdes. Destacou apenas que vai investir em fonte eólica, solar, hidrogênio e em iniciativas de captura e armazenamento de carbono. Na média dos próximos cinco anos, o investimento em baixo carbono vai representar 11% do investimento total da Petrobras. A previsão da empresa é que ele chegue a 16% em 2028.

A discussão do plano foi motivo de atrito dentro do Conselho de Administração. Representantes indicados pelo próprio governo (que conta com seis das 11 cadeiras no colegiado) chegaram a questionar a diretoria sobre a opção de investir em fontes renováveis.

As críticas afetaram principalmente as apostas em transição energética, como hidrogênio e energia eólica offshore (em alto-mar). Nos últimos meses, a estatal assinou acordos de intenção com outras companhias para investir em fontes de energia limpa.

A Petrobras informou ainda que, além de novos projetos, poderá fazer aquisições. O plano prevê também um valor entre US$ 45 bilhões e US$ 55 bilhões como dividendos gerais.

Na véspera da reunião do conselho, Prates conseguiu escapar das pressões de Silveira e Costa e saiu de um encontro com Lula em Brasília sem o compromisso de baixar os preços dos combustíveis no curto prazo.

Luta para ficar no cargo

O desfecho das discussões que duraram dois dias foi interpretado por aliados do presidente como uma vitória de Prates contra Silveira e Costa — graças ao apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Prates apresentou os dados da companhia, a evolução dos preços e a fórmula de cálculo adotada durante a reunião. Após os debates houve um entendimento de que é melhor esperar.

O objetivo era demonstrar que a Petrobras não pode repassar imediatamente ao consumidor toda a queda no preço do barril de petróleo e no valor do dólar em relação ao real, porque precisa compensar as perdas acumuladas enquanto esses mesmos indicadores estavam em alta e a companhia segurou os preços.

O argumento de Prates foi defendido também por Haddad numa reunião que, a exemplo do encontro do mesmo grupo na terça-feira, teve bate-boca e muita tensão.

Nas contas da estatal, seria preciso segurar os preços sem grandes quedas, ao menos até o fim do ano, para atingir uma média que não ficasse muito abaixo dos parâmetros considerados saudáveis. Os participantes combinaram de fazer novo encontro para avaliar a situação.

Mas como Lula vai viajar ao exterior e tem outros compromissos na volta, a nova reunião deve ocorrer em duas semanas. Aliados de Prates comemoraram o resultado da maratona de reuniões e do embate ferrenho do presidente da Petrobras para ficar no cargo.

Estratégia da empresa inclui fontes renováveis, petróleo e gás

O plano de negócios anunciado pela Petrobras vai focar tanto na produção de petróleo do pré-sal e Margem Equatorial como abrir uma nova frente de investimentos em energias renováveis, que havia sido abandonada pela estatal.

Investimentos da Petrobras — Foto: Criação O Globo

De acordo com a empresa, serão US$ 6,2 bilhões para explorar novas áreas nas bacias de Santos e Campos, no Sudeste, e no Nordeste e Note, como a Foz do Amazonas, que ainda depende de um aval do Ibama para iniciar a perfuração do primeiro poço.

A estatal informou que vai destinar US$ 11,5 bilhões para projetos de baixo carbono e em fontes renováveis, como eólica, solar, hidrogênio, além de captura e armazenamento de carbono. A intenção era que os investimentos na área fossem maiores, mas o Conselho de Administração pediu cautela na escolha dos empreendimentos e no retorno financeiro.

Foi por isso que a companhia, no entanto, ainda não detalhou os projetos a serem desenvolvidos na área verde. Destacou apenas que vai recorrer a parcerias. Nos últimos meses, a estatal fez uma série de acordos para olhar investimentos em eólicas offshore (em alto-mar), hidrogênio verde e parques solares.

Na área de gás, outro tema que foi motivo de embate entre Prates e Alexandre Silveira, ministro de Minas e Energia, a companhia anunciou que vai investir cerca de US$ 7 bilhões para ampliar a infraestrutura e portfólio de ofertas de gás natural.

Citou a entrada em operação já em 2024 da Rota 3, que vai ligar os campos do pré-sal ao antigo Comperj, no Rio, além de novos gasodutos em Sergipe-Alagoas e o gasoduto do Projeto Raia (BMC-33), no litoral do Rio. “Uma das prioridades da Petrobras neste segmento é ampliação da infraestrutura e portfólio de ofertas de gás natural”, afirmou a empresa.

Na área de refino, outro tema sensível ao governo que quer reduzir o volume de importações de derivados, a Petrobras destacou a construção da segunda unidade da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e os projetos de ampliação para produzir mais diesel na Revap (SP), Regap (MG), Replan (SP) e Gaslub (antigo Comperj, RJ).

O plano prevê o aumento de capacidade de processamento nas refinarias em 225 mil barris por dia. Ao todo, o segmento terá US$ 17 bilhões.

A empresa destacou ainda que, no segmento de petroquímica, no qual é dona de metade da Braskem, a Petrobras planeja atuar de forma integrada, maximizando sinergias com seu parque de refino e produção de óleo e gás. “Estão em estudo investimentos em petroquímica considerando tanto projetos nos atuais ativos como aquisições”, disse.

A companhia também vai retomar o segmento de fertilizantes, com planos de retomar a operação da Ansa, no Sul, e a conclusão das obras da UFN 3, no Centro-Oeste.


Fonte: O GLOBO

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