Briga entre Ciro e Cid Gomes paralisa PDT e atrasa definições para eleições municipais pelo país

Briga entre Ciro e Cid Gomes paralisa PDT e atrasa definições para eleições municipais pelo país

Em meio às divergências que ocorrem no Ceará, a articulação de pré-candidaturas próprias ficou em segundo plano. Somente três capitais lançaram nomes para disputar a prefeitura

A guerra interna entre o ex-ministro Ciro Gomes e o seu irmão, o senador Cid Gomes, tem gerado uma série de entraves no PDT. Em meio às reuniões do diretório nacional e estadual que visam colocar panos quentes nas divergências que ocorrem no Ceará, a definição de pré-candidaturas para as eleições municipais do ano que vem ficou em segundo plano.

Até o momento, em todas as capitais do país, apenas três nomes foram efetivamente lançados: o da deputada federal Duda Salabert, em Belo Horizonte; o de Juliana Brizola, em Porto Alegre; e o deputado estadual Goura, em Curitiba. Em grandes cidades, como Rio e São Paulo, o partido ainda não se posicionou.

Na capital fluminense, Martha Rocha (PDT) é tida como uma possível candidata, mas um apoio à reeleição de Eduardo Paes (PSD) também não é descartado. Entre os paulistanos, a expectativa maior é de uma aliança com o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), favorito até o momento na disputa.

O cenário de incertezas se difere das eleições passadas. A esta altura, em 2019, o partido já havia definido os oito nomes que chegariam às urnas e costurava alianças com outras siglas. Em 2020, o partido elegeu dois representantes nas capitais: José Sarto, em Fortaleza (CE), e Edvaldo Nogueira, em Aracaju (SE).

Mesmo nessas localidades, ainda não se formou consenso. Em Sergipe, Nogueira ainda não definiu quem será seu sucessor. Cinco nomes estão entre os cotados: Luiz Roberto, Waneska Barbosa, Jeferson Passos, Zezinho Sobral e Garibalde Mendonça.

Já em Fortaleza, reduto dos Ferreira Gomes, a disputa se resume aos irmãos. Do lado de Ciro, os aliados defendem a reeleição de Sarto, figura que não agrada os cidistas. O nome da ala do senador é o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, que teve a saída autorizada para concorrer contra o seu correligionário e aguarda parecer do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Descontente com o irmão, Cid concedeu, nesta quarta-feira, 18 cartas de anuência a deputados estaduais (13) e federais (5) que pretender deixar a sigla. De acordo com o senador, os políticos irão à Justiça para sair do partido.

— É um número significativo de pessoas que pediram (para sair) ao diretório, que compreendeu coletivamente que há razões de sobra para dar a essas pessoas a carta de anuência (...) Nós ingressaremos na Justiça, individualmente, cada um demonstrando as razões e pedindo que afirme o nosso entendimento, porque estamos sendo perseguidos — disse Cid Gomes.

Após a autorização de Cid, porém, o diretório nacional anulou todas as cartas de anuência, dando início a mais um capítulo da disputa judicial entre os grupos. Nesta quinta-feira, a ala de Ciro julgará a postura do senador e seus aliados.

Em relação a 2024, o racha gera preocupação. Isto porque, em discurso no plenário da Assembleia, o deputado estadual Romeu Aldigueri afirmou, sem detalhar nomes, que 50 prefeitos também serão liberados. No Ceará, 66 chefes municipais foram eleitos em 2020, mas dez, que eram aliados de Cid, se desfiliaram nas eleições do ano passado para apoiar a chapa vitoriosa do PT, o governador Elmano de Freitas e o presidente Lula.

Filiados ao PDT afirmam que o cabo de guerra entre Ciro e Cid se reflete no partido nacionalmente e relatam receio acerca da possibilidade de o partido sair do pleito com um quadro menor. No ano passado, o ex-ministro obteve o pior desempenho político de sua carreira e terminou em quarto lugar nas eleições presidenciais.

Com o acirramento das tensões e a falta de organização interna, o risco de não atingir a cláusula de barreira se tornou um medo real. Neste contexto, o membro do diretório estadual do Rio Grande do Sul, Cassio Moreira, defende uma federação com o PSB:

— A briga entre os dois irmãos traz consequências para o partido, que a invés de trabalhar pelo crescimento pode acabar se enfraquecendo. Uma federação com o PSB seria um caminho de fortalecimento, mas o grupo de Ciro não vai querer — diz Moreira, sob o argumento de que esta aliança com o partido do vice-presidente Geraldo Alckmin impossibilitaria o partido de lançar um candidato à Presidência nas eleições de 2026. Ciro afirma que não quer concorrer, mas seus correligionários acreditam que mudará de ideia.

Crise no Ceará

As anuências concedidas pelo senador Cid Gomes ocorrem por uma queda de braço travada com o deputado federal André Figueiredo, atual presidente do diretório nacional. Com o aval de Ciro, Figueiredo destituiu a Executiva do Ceará, que acabou reestabelecida via liminar.

Após a retomada, Cid convocou novas eleições locais e foi eleito presidente estadual. Horas depois, contudo, com outro acionamento judicial, o grupo de Ciro Gomes o retirou do posto, e o comando cearense voltou às mãos de Figueiredo.

No último dia 27, um encontro no Rio simbolizou a escalada de tensão. Na ocasião, além da aprovação da intervenção, Ciro e Cid entraram em uma discussão calorosa e quase chegaram às vias de fato.

As divergências entre os grupos do senador e do ex-presidenciável ocorrem desde o ano passado e circundam o mesmo tema: o apoio ao PT. Assim como fez no segundo turno das eleições, a ala de Cid defende que o partido retome a aliança e seja base de Elmano, enquanto os ciristas preferem que a sigla fique na oposição.


Fonte: O GLOBO

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