Aras busca Lula por recondução, mas briga pela PGR afunila em outros três nomes

Aras busca Lula por recondução, mas briga pela PGR afunila em outros três nomes

Presidente recebeu visita do atual chefe do Ministério Público, mas deve decidir indicado para o cargo quando mandato estiver chegando ao fim, em setembro

Enquanto Augusto Aras faz os últimos movimentos para tentar a recondução no comando da Procuradoria-Geral da República (PGR), a disputa pelo o cargo se afunila cada vez mais em três nomes: o vice-procurador-geral Eleitoral Paulo Gonet e os subprocuradores-gerais Antônio Carlos Bigonha e Mario Bonsaglia. O trio atua para driblar a falta de proximidade com o presidente Lula, a quem cabe a decisão, com o apoio de nomes influentes no Judiciário.

No entorno do chefe do Executivo, a concorrência hoje é vista como ainda em aberto, “sem jogo jogado”, nas palavras de um interlocutor de assuntos jurídicos do Planalto. Gonet e Bigonha são mais cotados, e Bonsaglia corre por fora. Até por conta da indefinição, Aras deu sua cartada final na quinta-feira, ao ser recebido pelo presidente para uma visita de cortesia.

Apesar da defesa feita por aliados relevantes de Lula, como o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e o ministro Rui Costa (Casa Civil), a recondução do atual chefe da PGR é vista no Planalto como improvável. Na avaliação de interlocutores do petista, a conversa da semana passada teve o intuito de mostrar que o presidente é “aberto ao diálogo”.

Aras tem aproveitado para defender sua gestão na PGR e vai lançar um livro com um balanço da atuação. A proximidade com o final do mandato promoveu um “ajuste de rota”, com manifestações favoráveis aos interesses do governo Lula. Na semana passada, por exemplo, ele emitiu um parecer favorável à ação movida no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo governo questionando a perda de poder de voto da União na Eletrobras após a privatização da empresa.

Para esses integrantes do entorno jurídico do presidente, Lula está analisando detalhes do que é dito a respeito dos subprocuradores, e só baterá o martelo quando o mandato do atual PGR estiver chegando ao fim, em meados de setembro.

Enquanto isso, os três nomes mais fortes no páreo ainda não se encontraram com o presidente, mas nos últimos dias têm mantido, discretamente, agendas com auxiliares jurídicos e integrantes do primeiro escalão. É o caso do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, como mostrou o GLOBO. Outro movimento adotado pelos favoritos, em paralelo, é evitar uma postura “de campanha”, não querendo trazer para si os holofotes antes da hora.

Relação distante

Todos estes nomes, contudo, esbarram na falta de proximidade com o presidente, ocasionada pelo distanciamento que houve entre Lula e o Ministério Público Federal (MPF) — consequência direta do que houve nos anos da Lava-Jato. Diferentemente do que ocorreu no Supremo Tribunal Federal (STF), para onde o presidente indicou um nome de sua estrita confiança, o ministro Cristiano Zanin, a busca pelo novo chefe da PGR esbarra na falta de conhecimento que Lula tem dos atuais quadros da instituição.

Assim, a percepção de quem acompanha os movimentos recentes é de que contará não só a vida pregressa dos subprocuradores, como também os apoios que conseguiram angariar até o momento. Gonet tem o respaldo dos ministros Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), com quem o presidente Lula tem mantido grande interlocução. Já Bigonha tem o apreço de uma ala do PT e de integrantes do grupo Prerrogativas, além de estar sendo ciceroneado pelo advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay.

Único integrante da lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) no páreo, Bonsaglia tem o apreço de advogados e de uma parcela de integrantes do núcleo jurídico ligado ao presidente, além de movimentos sindicais de São Paulo, sua cidade de origem. Ainda assim, é visto como o candidato menos provável.

Integrante da área jurídica da equipe de transição do governo Lula em 2022, o advogado Eugênio Aragão, subprocurador-geral da República aposentado e ex-ministro da Justiça, diz que a escolha do futuro PGR é “tarefa difícil”.

— O presidente deve selecionar um perfil que, sem ser omisso, trabalhe com serenidade, longe dos holofotes e saiba coordenar a orquestra dos membros da instituição, que andou um tanto desafinada. A gravidade das funções do PGR não permite amadorismo nem improvisação, demanda lealdade à democracia, ao estado de direito, às instituições e aos jurisdicionados — afirmou ao GLOBO.

Embora façam parte da mesma carreira — subprocuradores-gerais da República — e integrem o Ministério Público Federal há mais ou menos o mesmo tempo, os três favoritos têm percursos distintos de atuação e já passaram por diferentes áreas na instituição.

Atual vice-procurador-geral Eleitoral, Gonet atuou nas eleições de 2022 e ficou nos holofotes recentemente, durante o julgamento da ação que levou à inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que contou com um parecer favorável do MP Eleitoral. Em sua trajetória, Gonet teve foco na atuação constitucional da PGR: foi secretário de Assuntos Constitucionais da instituição e representante do MPF na 2ª Turma do Supremo. É conhecido pela previsibilidade na atuação. Como ele diz a interlocutores, não tem disposição para fazer revolução política “com a caneta ou com a gaveta”.

Durante o julgamento de Bolsonaro no TSE, em junho, Gonet enfatizou que o discurso adotado diante dos embaixadores poderia “perturbar a tranquilidade institucional”. Mais adiante, afirmou que “o sistema representativo desacreditado solapa a base da opção fundamental do constituinte por um Estado Democrático de Direito”, e classificou as críticas do ex-presidente ao sistema eleitoral como “temerárias” e “sabidamente infundadas”.

Diferentes áreas

Bigonha já presidiu a Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e tem uma atuação voltada aos povos indígenas e direitos humanos — foi chefe da 6ª Câmara de Coordenação da PGR, responsável pelo tema. Em 2019, em uma sessão da Segunda Turma do STF, o subprocurador-geral pediu desculpas aos ministros por declarações feitas pela hoje extinta força-tarefa da Lava-Jato contra uma decisão do colegiado.

— Como sabemos, não cabe aos procuradores que atuam em primeiro grau fazer juízo de valor sobre os julgamentos deste Supremo Tribunal Federal. Essa tarefa caberia apenas à procuradora-geral da República ou aos subprocuradores — disse na ocasião.

Bonsaglia foi procurador regional eleitoral em São Paulo e coordenou a 7ª Câmara do MPF, responsável pela área de controle externo da atividade policial e do sistema prisional e, por isso, é visto como experiente na área criminal.

No Superior Tribunal de Justiça (STJ), ele defendeu que a Lei da Anistia não deve ser aplicada em casos que envolvem crimes contra a humanidade ocorridos durante o regime militar.

Bonsaglia lembrou que em 2010, por ocasião do julgamento do caso referente à Guerrila do Araguaia, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Brasil a não mais aplicar a Lei de Anistia como forma de impedir a investigação de casos considerados graves violações de direitos humanos.

Paulo Gonet Branco é um jurista, professor e advogado brasileiro. Membro do Ministério Público Federal desde 1987, é subprocurador-geral da República e o atual vice-procurador-geral Eleitoral — Foto: Alejandro Zambrana/Secom/TSE

Paulo Gonet

Atual vice-procurador-geral Eleitoral, ficou nos holofotes recentemente durante o julgamento da ação que tornou o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível, que contou com um parecer favorável do Ministério Público Eleitoral. É conhecido pela previsibilidade na atuação. Como diz a interlocutores, não tem disposição para fazer revolução política “com a caneta ou com a gaveta”.

Antônio Carlos Alpino Bigonha, subprocurador — Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Antônio Carlos Bigonha

Já presidiu a Associação Nacional dos Procuradores da República e atua em prol dos povos indígenas e dos direitos humanos. Em 2019, em sessão da Segunda Turma do STF, o subprocurador-geral pediu desculpas aos ministros por declarações de membros da hoje extinta força-tarefa da Lava-Jato contra uma decisão do colegiado. “A tarefa caberia apenas à PGR ou aos subprocuradores”.

Mario Bonsaglia, subprocurador-geral — Foto: André Coelho

Mario Bonsaglia

O subprocurador-geral já coordenou a 7ª Câmara do MPF, responsável pela área de controle externo da atividade policial e do sistema prisional e, por isso, é visto como experiente na área criminal. No Superior Tribunal de Justiça (STJ), defendeu que a Lei da Anistia não deve ser aplicada em casos que envolvem crimes contra a humanidade ocorridos durante o regime militar.


Fonte: O GLOBO

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