Entenda por que junho foi o mês mais quente da história. E por que vai piorar

Entenda por que junho foi o mês mais quente da história. E por que vai piorar

Estudos apontam que as duas primeiras semanas de julho também foram as mais quentes já registradas pela Nasa e tendência é que em agosto os termômetros continuem batendo recordes

O mês passado foi o junho mais quente do planeta desde que o registro da temperatura global começou a ser feito em 1850, informou a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica. A agência também prevê que temperaturas excepcionalmente altas ocorrerão em agosto. Segundo a NASA, o mês de julho — que ainda não acabou — provavelmente baterá mais um recorde e será o mais quente em "centenas, se não milhares de anos", alertou o renomado climatologista Gavin Schmidt na quinta-feira.

A informação foi corroborada pelo Serviço de Mudança Climática Copernicus da União Europeia (UE). Segundo a instituição, as duas primeiras semanas de julho foram provavelmente as mais quentes da Terra já registradas pelo homem, em comparação com qualquer época do ano.

— Estamos vendo mudanças sem precedentes em todo o mundo: as ondas de calor que estamos vendo nos EUA, na Europa e na China estão batendo recordes a torto e a direito — afirmou Schmidt.

Além disso, esses efeitos não podem ser atribuídos apenas ao padrão climático El Niño, um evento climático recorrente ligado ao aquecimento do Oceano Pacífico equatorial, que "realmente acabou de aparecer", continuou o climatologista. Embora o El Niño desempenhe um pequeno papel, o cientista explicou:

— O que estamos vendo é um aquecimento generalizado, praticamente em todos os lugares, especialmente nos oceanos. Estamos registrando temperaturas recordes na superfície do mar há muitos meses, mesmo fora dos trópicos — avalia. — Esperamos que isso continue, e a razão pela qual achamos que vai continuar é porque continuamos colocando gases de efeito estufa na atmosfera.

O que está acontecendo agora está aumentando as chances de que 2023 também seja o ano mais quente já registrado, ao qual Schmidt atribui atualmente uma "chance de 50-50", embora tenha dito que outros cientistas a colocam em 80%.

— Mas prevemos que 2024 será um ano ainda mais quente, porque começaremos com esse evento El Niño que está se formando agora e que atingirá o pico no final deste ano — disse.

Por que é importante: Muitos lugares sofreram com o calor e a umidade sufocantes.

Diversos recordes diários de temperatura foram estabelecidos em junho no sul dos Estados Unidos, especialmente no Texas e na Louisiana. As temperaturas em Laredo, Texas, chegaram a 37ºC em mais de 20 dias em junho.

O calor extremo pode ser perigoso para o corpo de qualquer pessoa, mas os idosos e os trabalhadores ao ar livre correm um risco especial. As ondas de calor do verão na Europa no ano passado podem ter matado 61 mil pessoas em todo o continente, de acordo com um estudo recente.

O calor e a umidade deste ano foram devastadores no norte do México, onde mais de 100 pessoas morreram de causas relacionadas ao calor, de acordo com relatórios do Ministério da Saúde federal.

Na Ásia, temperaturas extremamente altas acompanharam uma intensa temporada de chuvas que já causou mais de 100 mortes na Índia, na Coreia do Sul e no Japão, e o número total de mortos provavelmente será consideravelmente maior.

Na Índia, o calor intenso foi substituído por chuvas intensas em grande parte do país, principalmente nos estados de Uttarakhand e Himachal Pradesh, no Himalaia. As chuvas intensas causaram grandes deslizamentos de terra e inundações repentinas, matando pelo menos 130 pessoas nos últimos 26 dias no norte da Índia.

Grande parte da China também continuou a assar na sexta-feira, com a onda de calor batendo recordes em todo o país. A região de Xinjiang, no extremo oeste, foi particularmente afetada. No domingo, as temperaturas em uma cidade remota do deserto atingiram 52ºC, supostamente quebrando o recorde anterior de temperatura mais alta na China. 

Esperava-se que partes de Xinjiang continuassem a registrar temperaturas acima de 37ºC, de acordo com a mídia oficial. As autoridades também disseram que estavam em alerta para possíveis incêndios florestais no norte de Xinjiang.

Contexto: Um domo de calor estacionado no norte do México, agravado pelas mudanças climáticas.

Os domos de calor são fenômenos climáticos que se formam naturalmente de tempos em tempos. Alguns meteorologistas e cientistas climáticos acreditam que o aquecimento do Ártico está causando a desaceleração da corrente de jato, o que significa que os sistemas climáticos permanecem mais tempo em um mesmo lugar. John Nielsen-Gammon, diretor do Southern Regional Climate Center, disse que ainda é muito cedo para saber se isso aconteceu especificamente com o domo de calor de junho.

Outros cientistas sugeriram que a onda de calor do mês passado foi cinco vezes mais provável e 15°C mais quente do que teria sido sem a mudança climática.

Embora as ondas de calor ocorram naturalmente, as alturas das temperaturas de junho em todo o mundo eram muito improváveis sem a mudança climática, disse Nielsen-Gammon.

O que vem por aí: Mais calor extremo

Mais de um quarto da população dos EUA enfrentou níveis de calor perigosos na quinta-feira, de acordo com uma análise do New York Times de dados diários sobre o clima e a população. A cidade de Phoenix, no Arizona, tem registrado temperaturas superiores a 43ºC por pelo menos 19 dias consecutivos.

O Oceano Atlântico e partes do Pacífico estão anormalmente quentes no momento devido ao padrão climático natural do El Niño no Pacífico e também devido à mudança climática causada pelo homem. Cerca de 40% do planeta está passando por uma "onda de calor marinho", disseram cientistas da NOAA na semana passada, alertando que os recifes de coral correm o risco de branqueamento e morte.

As temperaturas da superfície do mar no Atlântico, especialmente na costa da África, ficaram "bem acima do normal" no último mês, disse Matt Rosencrans, meteorologista do Centro de Previsão Climática da NOAA.

— É uma dinâmica bastante interessante ter as bacias dos oceanos Pacífico e Atlântico tão anormalmente quentes ao mesmo tempo — avalia.


Fonte: O GLOBO

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