Sem Bolsonaro e penalizada por fake news, mídia atrelada ao ex-presidente demite funcionários e pede doações

Sem Bolsonaro e penalizada por fake news, mídia atrelada ao ex-presidente demite funcionários e pede doações

Com menos audiência e recursos desde o início do governo Lula, sites e canais no YouTube recorrem ainda a estratégias como venda de assinaturas e camisetas. Alguns foram desmonetizados devido à difusão de notícias falsas

Porto Velho, RO - Sites e plataformas que se alinharam ao discurso bolsonarista nos últimos quatro anos e se apresentam como portais de notícias criam estratégias para tentar se adequar aos novos tempos, com o retorno de Lula à Presidência e diante da perda de audiência e de recursos financeiros. As medidas incluem demissões, lançamento de vaquinhas virtuais e até mesmo, no caso do Foco do Brasil, a tentativa de vender o canal.

Com 2,9 milhões de inscritos no YouTube, o Foco do Brasil tinha acesso privilegiado à área interna do Palácio da Alvorada na gestão de Jair Bolsonaro na Presidência, mas não publica novos conteúdos desde outubro do ano passado, ainda antes do segundo turno da eleição. Segundo um levantamento feito pela consultoria Bites com exclusividade para O GLOBO, já naquele mês o canal teve 155,5 mil visualizações a menos do que o esperado, e desde então continua perdendo assinantes.

O Foco do Brasil foi alvo, em 20 de outubro, de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que determinou sua desmonetização por causa da divulgação de “notícias falsas ou gravemente descontextualizadas” durante o período eleitoral. O processo que deu origem a essa sanção menciona que os donos da página recebiam até US$ 67 mil por mês com os anúncios da plataforma.

O canal é também alvo de um inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) que investiga a divulgação articulada de notícias falsas na internet. Sem o dinheiro repassado pelo YouTube, o Foco do Brasil demitiu seus apresentadores e hoje tem como fonte de renda a venda de assinaturas de nível “patriota” ou “capitão”, cujos benefícios incluem o acesso a emojis exclusivos e a conteúdos especiais. Os valores variam de R$ 7,99 a R$ 19,99 por mês.

Patamar ainda é alto

O dono do canal é Anderson Azevedo Rossi. Ele afirma que “não recebe e nunca recebeu nenhum recurso financeiro de políticos, empresários ou quem quer que seja”. E que botou o Foco do Brasil à venda no fim de 2022 diante do novo cenário que se desenhava, com o início do governo Lula.

A decisão do TSE que atingiu o Foco do Brasil também afetou outros três canais no YouTube: Folha Política, Dr. News e Brasil Paralelo. O último continua a produzir conteúdos e está oferecendo assinaturas para uma biblioteca com um catálogo de vídeos em streaming que, afirma, são livres de “pautas ideológicas” ou “conteúdos que ferem seus valores”.

Um indicativo de que o Brasil Paralelo mantém força mesmo após a derrocada de Bolsonaro na última eleição é o volume de anúncios feito pelo canal no Google, no Facebook e no Instagram: foram cerca de R$ 2,9 milhões desembolsados com essa finalidade somente este ano.

— A força do bolsonarismo no universo digital é um fato, não uma circunstância passageira. Os canais bolsonaristas tiveram uma queda que já era esperada em função do final das eleições, mas seguem em um patamar alto — analisa Manoel Fernandes, diretor da Bites.

Fora do YouTube, três sites frequentemente compartilhados por simpatizantes do bolsonarismo tiveram juntos 223 milhões de visitas de abril de 2022 até março deste ano, segundo o levantamento realizado pela consultoria: Jornal da Cidade Online (JCO), Pleno News e Revista Oeste.

Dentre os três, o JCO é o de maior público, tendo registrado média de 9,7 milhões de usuários mensais nos últimos 12 meses. E também o que teve a maior queda com a mudança no governo federal: registrou cerca de sete milhões de visualizações no mês passado, seu pior desempenho em termos de audiência em toda a série analisada. Nas redes sociais, o engajamento em seus perfis no Facebook, no Twitter e no Instagram caiu pela metade.

‘Pernas quebradas’

O site teve a desmonetização imposta pelo TSE em agosto de 2021, devido a ataques ao sistema eleitoral. Para manter suas atividades, vende camisetas que pedem o impeachment de Lula e faz apelos por contribuições dos leitores ao fim de cada texto: “O TSE quebrou as nossas pernas. (...) O sistema conseguiu o que queria: calou todas as vozes conservadoras. Estamos sobrevivendo com muita dificuldade”.

Também sofreu sanções da Justiça por divulgar informações falsas o extinto canal Terça Livre, comandado pelo blogueiro Allan dos Santos, que teve a prisão preventiva ordenada pelo ministro Alexandre de Moraes. Allan hoje vive nos Estados Unidos, proibido de usar as redes sociais, e é considerado foragido.

O Pleno News, que tem em seu quadro de colunistas nomes como os deputados bolsonaristas Bia Kicis (PL-DF) e Marco Feliciano (PL-SP), também perdeu engajamento nas redes sociais no último ano. Já a Revista Oeste, que em anúncios pagos no Facebook se define como “uma publicação independente que defende o liberalismo econômico e a liberdade democrática”, viu o crescimento do seu número de seguidores nas redes sociais desacelerar desde dezembro passado.

Ao GLOBO, a diretora da Revista Oeste, Branca Nunes, afirmou que a publicação “sempre foi um veículo independente” e ressaltou que seu número de funcionários quintuplicou desde a fundação. Também procurados, representantes de Foco do Brasil, Brasil Paralelo, Jornal da Cidade Online e Pleno News não se manifestaram até o fechamento desta edição.


Fonte: O GLOBO

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