O novo cálculo político de aliados de Anderson Torres para tirá-lo da prisão

O novo cálculo político de aliados de Anderson Torres para tirá-lo da prisão


Preso há 116 dias em um batalhão da Polícia Militar no Distrito Federal, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres mudou sua estratégia para tentar convencer o Supremo Tribunal Federal (STF) a relaxar sua prisão preventiva.

Inicialmente, a equipe de Torres tentou evitar a aproximação de lideranças bolsonaristas que pediam para visitá-lo, em um esforço para impedir a “politização” do caso.

Na época, a avaliação era a de que era preciso se descolar do entorno bolsonarista, o que fez Torres desligar até mesmo o advogado Rodrigo Roca, o mesmo do clã Bolsonaro, pouco antes do retorno do ex-presidente ao Brasil, em março.

A prisão de Torres foi decretada pelo ministro Alexandre de Moraes em 14 de janeiro, por conta dos atos golpistas de 8 de janeiro e dos bloqueios em rodovias durante o segundo turno das últimas eleições.

Depois disso, o novo advogado de Torres, Eumar Novacki, procurou ministros do Supremo e pessoas próximas a eles, numa tentativa de sensibilizar a corte a soltá-lo. Nessas conversas, tentava convencer de que Torres não cometeu crime ao se ausentar de Brasília durante os atos golpistas mesmo sendo secretário de segurança do Distrito Federal.

Mas as reações dos magistrados e seus interlocutores deixaram claro que as chances de o ex-ministro da Justiça ser colocado em liberdade são praticamente nulas, pelo menos a curto prazo.

Agora, os aliados de Torres dizem que a decisão de Moraes de mantê-lo no batalhão da PM transformou a detenção em uma prisão política.

“A nova estratégia é mobilizar a classe política como um todo. Tentar convencer que o que o STF faz com Anderson poderá se reproduzir no futuro com qualquer político de qualquer matiz ideológico”, afirmou à equipe da coluna um amigo do ex-ministro.

O primeiro efeito dessa mudança de postura é a peregrinação de parlamentares nos último dias à cadeia para visitar o ex-ministro de Bolsonaro, com o aval da defesa do ex-ministro da Justiça e a chancela do STF.

No último dia 5, Moraes autorizou que um total de 38 senadores visitasse o ex-titular da Justiça no batalhão da PM, dos quais 10 parlamentares do PL, partido de Bolsonaro.

O ministro do Supremo, no entanto, impôs algumas condições: celulares, máquinas fotográficas e gravadores foram proibidos. Além disso, só são permitidos até cinco parlamentares por encontro, que só poderão ocorrer aos sábados e aos domingos.

Moraes também vetou as visitas de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e Marcos do Val (Podemos-ES), sob a alegação de que a investigação contra Torres no inquérito dos atos golpistas de 8 de janeiro está relacionada a outras apurações que miram os dois senadores. No caso de Flávio, a dos atos antidemocráticos; no caso de Do Val, o próprio inquérito dos atentados.

“A cada dia, a cada capítulo desse drama fica mais claro que estamos diante de uma prisão com viés político. Não estou falando de pedido de clemência e nem compaixão. O que quero é que seja cumprida a Constituição do País”, disse à equipe da coluna o senador Eduardo Girão (Novo-CE), que visitou Anderson Torres ao lado dos senadores Izalci Lucas (PSDB-DF) e Jaime Bagattoli (PL-RO), no último domingo.

Aliados de Anderson Torres se queixam de Moraes ter mantido o ex-ministro preso, mesmo após ele entregar as senhas do celular.

Ocorre que, segundo o ministro do Supremo, Torres só enviou os dados “mais de 100 dias após a ocorrência dos atos golpistas e com total possibilidade de supressão das informações ali existentes”.

Para piorar a situação, as senhas entregues estavam erradas, o que irritou ainda mais o ministro. Em resposta ao Supremo, a defesa alegou que houve “lapsos de memória”.

Nessa nova estratégia política, os defensores de Torres vem procurando atrair novos aliados não só no campo da direita e da extrema-direita.

Como parte desse movimento, eles têm disseminado um artigo em que o jurista Pedro Serrano, que combateu a Lava-Jato por causa da prisão de Lula, critica também a detenção do ex-ministro bolsonarista.

“Manter Anderson Torres preso é antecipar eventual punição”, diz o artigo de Serrano, publicado na “Folha de S. Paulo” em 24 de abril.

“Não se pode retribuir os ataques criminosos às instituições da República por meio da banalização da prisão preventiva, que em si mesma é também uma grave afronta ao Estado democrático de Direito.”

A defesa de Torres admite que em um primeiro momento se opôs à visitação de parlamentares “para evitar eventual politização do caso”.

Mas justifica a mudança de postura ao estado depressivo do ex-auxiliar de Bolsonaro, sob a alegação de que o “ato de solidariedade” demonstrado pelos parlamentares “talvez contribua para sua convalescença”.


Fonte: O GLOBO

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