Governo se blinda em comissão sobre o 8 de janeiro, mas CPI do MST vira 'bunker ruralista' dominado pela oposição

Governo se blinda em comissão sobre o 8 de janeiro, mas CPI do MST vira 'bunker ruralista' dominado pela oposição

Até agora, os partidos já indicaram 13 dos 27 titulares do colegiado, todos com atuação contrária ao governo Lula

Enquanto o governo tem conseguido equilibrar as forças na CPMI dos Ataques Golpistas, a comissão parlamentar de inquérito criada para investigar o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se encaminha para virar um “bunker” da oposição. 

Até agora, os partidos já indicaram 13 dos 27 titulares do colegiado: todos têm atuação contrária ao Palácio do Planalto, são alinhados à bancada ruralista, e parte deles já deu demonstrações públicas de que não aprova a atuação do MST. As duas comissões deverão começar a funcionar na semana que vem.

Os 18 nomes já definidos pelas siglas — incluindo suplentes— têm um histórico de criminalização do MST. Indicados pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, Capitão Alden (BA) é autor de um projeto de lei que caracteriza como terrorismo a invasão armada de terras particulares, e Delegado Éder Mauro (PA) já defendeu o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996, no qual 19 sem-terra foram mortos pela polícia. Cotado para ser o relator, Ricardo Salles (SP) divulgou na campanha de 2018 panfleto com alusão a armas de fogo e pregando “tolerância zero” com o MST.

Mesmo partidos da base aliada, como o MDB, escolheram representantes com atuação oposicionista, no caso o deputado Alceu Moreira (RS). Ele também já atacou o movimento, que chamou de “grupo criminoso”. 

Com três indicações na Esplanada dos Ministérios, o União Brasil tem três vagas nessa CPI, todas preenchidas por deputados contrários ao governo. A bancada ruralista vai disponibilizar uma equipe com advogados e assessores legislativos para auxiliar os parlamentares.

Contraponto

Já na CPI dos Ataques Golpistas, que enfrentou inicialmente resistência do governo, a composição deve ser menos ameaçadora para o Planalto. Os partidos indicaram até o momento 16 dos 32 titulares e metade é da base aliada.

A oposição articulou a criação dessa CPI com o objetivo de emplacar a versão de que o governo Lula foi omisso durante os ataques às sedes dos três Poderes, em Brasília, em 8 de janeiro — exatamente a mesma acusação que foi feita a autoridades ligadas ao bolsonarismo. 

O Planalto tentou neutralizar o plano de instalação da comissão, temendo os desgastes ao governo e prejuízos à sua agenda legislativa. A divulgação de um vídeo no qual o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), Gonçalves Dias, aparece circulando entre os invasores do palácio e, aparentemente, não toma providências, deu tração à proposta de investigação parlamentar do episódio.

A CPI dos Ataques Golpistas, no entanto, perdeu fôlego antes mesmo de ser instalada. Essa comissão é mista, ou seja, formada por deputados e senadores. Seu presidente deve ser o deputado Arthur Maia (União-BA), considerado independente e aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O mais cotado para a relatoria é o senador Eduardo Braga (MDB-AM), após o presidente da Câmara pressionar contra a escolha do senador Renan Calheiros (MDB-AL), seu adversário político.

Ontem o líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), confirmou os parlamentares indicados pela federação liderada pelo partido para enfrentar a bancada bolsonarista na comissão que vai apurar as responsabilidades pelos ataques às instituições. 

Foram escolhidos Rubens Pereira Jr (PT-MA), Rogério Correia (PT-MG) e Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que serão titulares. Caberá a Arlindo Chinaglia (PT-SP), Carlos Veras (PT-PE) e Delegada Adriana Accorsi (PT-GO) a suplência.

Time bolsonarista

O PL também definiu os nomes que indicará para compor o colegiado. A legenda terá como titulares, André Fernandes (CE), autor do requerimento de criação da comissão, Eduardo Bolsonaro (SP) e Alexandre Ramagem (RJ). Nikolas Ferreira (MG), pastor Marco Feliciano (SP) e Felipe Barros (PR) serão suplentes.

Enquanto isso, o União Brasil, embora ocupe três ministério da gestão Lula, três vive uma crise com o governo por não entregar votos em pautas relevantes apreciadas pelo Congresso. A sigla definiu que Kim Kataguiri (SP) será o suplente de Arthur Maia (BA).

Integrante do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim é opositor do Planalto e protagonizou embates com o ministro da Justiça, Flávio Dino, durante depoimento à Comissão de Segurança da Câmara. Como suplente, ele terá direito à fala em sessões.

Às vésperas da instalação da CPI do MST, o movimento e o deputado Valmir Assunção (PT-BA) acusaram o ministro da Casa Civil, Rui Costa, de vetar ontem a participação dos sem-terra em um evento do governo federal com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Bahia. Em nota, a Casa Civil afirmou que Costa nega que tenha sido contrário à participação do MST.

O MST da Bahia publicou uma nota com críticas ao titular da Casa Civil. Segundo os sem-terra, ele estaria adotando uma postura refratária ao movimento que também teria sido sua marca, de acordo com eles, durante a gestão do governo estadual.


Fonte: O GLOBO

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