Com CPI do Golpismo controlada pelo governo, bolsonaristas jogam a toalha e miram MST

Com CPI do Golpismo controlada pelo governo, bolsonaristas jogam a toalha e miram MST

Cúpula do PL e aliados de Bolsonaro já admitem que oposição não terá poder real na comissão e disputará narrativa nas redes

Porto Velho, RO - Sem chances reais de protagonizar ou mesmo influenciar os rumos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre o 8 de janeiro, que deverá ser instalada na próxima terça-feira, dia 23, os bolsonaristas optaram por uma estrategia alternativa: apostarão todas as fichas nas redes sociais para disputar a narrativa da comissão enquanto, em paralelo, trabalham para desgastar o governo na CPI do MST, que abriu os trabalhos na última quarta-feira (17).

O roteiro foi estabelecido já no início da semana, quando ficou claro a Valdemar Costa Neto e seus aliados que o PL não teria nenhuma chance de ganhar as disputas internas da comissão.

Pela Câmara a legenda indicou Alexandre Ramagem (RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e aliado próximo do clã Bolsonaro, André Fernandes (CE) e Filipe Barros (PR). Entre os suplentes estão Eduardo Bolsonaro (SP) e Nikolas Ferreira (MG).

No Senado, o partido escalou Magno Malta (ES), que terá companhia de aliados como sua ex-assessora Damares Alves (Republicanos-DF) e Eduardo Girão (Novo-CE).

Esses parlamentares, bem ativos nas redes sociais, pretendem aproveitar todas as oportunidades possíveis de produzir vídeos e posts que viralizem a partir do plenário da comissão, buscando reforçar o discurso de que o governo Lula se empenhou em dominar a CPI porque tem algo a esconder.

A tese que os bolsonaristas pretendem vender ao público é a de que infiltrados, e não apoiadores do ex-presidente acampados por meses na porta de quarteis, promoveram os ataques às sedes dos três poderes – que houve negligência proposital do governo Lula na antecipação da invasão.

Diante da composição da CPMI e da materialidade dos fatos, os deputados sabem que as teorias não têm chances nem de emplacar na opinião pública e nem de constar no relatório final. Restou, portanto, usar o palco da CPI para falar para suas bolhas políticas e mobilizar a militância.

O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), aliado de Bolsonaro que não é membro da CPI mas tem influência na bancada evangélica, diz esperar que “muitas coisas” sejam reveladas sobre a tese de infiltrados, mas admite que, em menor número, a disputa da oposição se dará mesmo nas redes.

O parlamentar confirma ainda que o esforço se concentrará na CPI do MST, que terá como relator o deputado Ricardo Salles (PL-SP) e maioria oposicionista.

“Ainda mais após a ida do [Geraldo] Alckmin no evento do MST. Ficou ainda pior para o governo”, diz Sóstenes, em referência a uma visita do vice-presidente a uma feira do movimento em São Paulo.

Inicialmente articulada pela oposição logo após os ataques aos três poderes, a CPI mista do 8 de janeiro passou a ser apoiada pelo governo depois da divulgação de imagens de câmeras de segurança no Palácio do Planalto durante a invasão golpista.

Os registros, que levaram à demissão do ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, também expuseram a condescendência de militares lotados no órgão e remanescentes da gestão Jair Bolsonaro diante da ação dos golpistas.

A mudança de estratégia do Palácio do Planalto, que buscava evitar a qualquer custo a instalação de uma CPI temendo reflexos na pauta do Congresso, inverteu o jogo. O empenho do governo na articulação junto aos presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), blindou a comissão de uma composição de maioria oposicionista.

Além disso, tanto Lira quanto Pacheco manobraram para diminuir o número de cadeiras que seriam destinadas à oposição - cada Casa deve indicar 16 parlamentares. As duas vagas destinadas à minoria em comissões mistas, conforme o regimento do Congresso, passaram a ser contabilizadas na divisão geral por uma decisão da cúpula das Casas.

Com isso, Lira excluiu o Novo da distribuição de cadeiras da CPI mista alegando que, por não ter atingido a cláusula de barreira nas eleições de outubro, a legenda não tem direito à liderança partidária e, por isso, não deveria assumir a vaga da minoria. A jogada fez com que a cadeira do partido, que faz oposição a Lula, ficasse com a federação PT-PC do B-PV.

No Senado, por sua vez, Pacheco acatou a entrada da Rede no bloco formado por PT, PSD, PDT e PSB. O movimento da sigla, que tem apenas um senador, o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (AP), garantiu ao governo outra vaga a mais. Randolfe anunciou sua desfiliação da sigla na última quinta-feira (18), mas, como o requerimento da CPMI já foi lido por Pacheco, não há impacto na composição do colegiado.

Já na CPI do MST o xadrez político de Lira não concedeu ao Planalto a mesma vantagem. Com o estranhamento entre o governo e setores do agronegócio, o cenário político favoreceu a oposição, que teve condições para indicar até agora 13 dos 27 membros da comissão.

Além de Salles na relatoria, o colegiado será presidido pelo deputado bolsonarista tenente coronel Zucco (Republicanos-RS).


Fonte: O GLOBO

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