Múcio defende militar na chefia do GSI e expõe divergência no governo sobre mudanças no órgão

Múcio defende militar na chefia do GSI e expõe divergência no governo sobre mudanças no órgão

Cappelli, ministro interino, recebeu missão de ‘renovar e oxigenar’ o gabinete, além de apresentar novo desenho institucional

Porto Velho, RO -
A declaração ontem do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, de que não é hora para mexer na estrutura do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), mantendo militares no comando da pasta, expõe uma divergência dentro do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o futuro do órgão. 

Uma ala do Executivo, que defende um civil à frente do GSI, tem aproveitado a crise criada com o pedido de demissão do general Gonçalves Dias para dar mais eco à proposta. O chefe interino do GSI, Ricardo Cappelli, disse ao GLOBO que recebeu a missão de “renovar e oxigenar” o órgão, além de apresentar um novo desenho institucional para reformulá-lo.

Indagado sobre o futuro da pasta, em Lisboa, Portugal, onde acompanha Lula, Múcio respondeu:

— Isso não cabe a mim. Cabe a quem está lá em cima (Lula). Mas eu acho que não se devia mexer nisso agora.

Na sequência, perguntado se devia manter um militar no comando, o ministro da Defesa afirmou:

— Tem que ter um sistema misto como sempre foi (militar e civil). Acabar não. Pode até mudar o nome, outra sigla, mas acabar com o GSI, não. Aquilo é instrumento de trabalho do presidente da República.

Levantamento

A chegada de Cappelli, após a turbulenta demissão de GDias na quinta-feira, é vista como um catalisador para as mudanças no GSI, tradicionalmente chefiado por militares.

— Temos dois focos centrais: avançar na oxigenação, na renovação do corpo funcional do Gabinete de Segurança Institucional e, ao mesmo tempo, apresentar ao presidente um levantamento das atribuições atuais e uma sugestão de desenho institucional e de funções que devem estar a cargo do GSI — afirmou o ministro interino.

Cappelli, no entanto, negou que a renovação de servidores e o novo organograma — que será proposto, a partir de um levantamento histórico das diferentes atribuições que o GSI já teve — signifiquem necessariamente uma desmilitarização do órgão.

— Não há isso. A questão da renovação é natural de qualquer início de governo, e o redesenho é uma discussão estratégica, já que o GSI teve diferentes papéis ao longo das décadas — disse.

As mudanças devem começar na semana que vem. Para Cappelli, a divulgação da íntegra dos vídeos gravados no Planalto em 8 de janeiro, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, livrará o ex-chefe do GSI de qualquer suspeita.

— Com a liberação das imagens vai ficar demonstrado que não há qualquer possibilidade de ilação com relação à conduta do general (Dias), que, inclusive, de forma muito honrosa, fez questão de se afastar das suas funções para que não houvesse dúvida sobre a lisura da conduta dele — afirmou.

Há uma discussão dentro da gestão petista sobre a extinção do GSI, como foi proposto pela equipe de transição. Político experiente que fez carreira em partidos de centro-direita, Múcio foi nomeado por Lula para comandar o Ministério da Defesa com o objetivo de tentar pacificar a relação dos militares com os petistas. Já o GSI foi esvaziado no início do ano e deverá agora, com a saída de Gonçalves Dias, ser reestruturado com possibilidade de perder o status de ministério.

Temor de nova crise

A ideia defendida por integrantes do governo é retirar a maior quantidade possível de militares atualmente lotada no GSI e transformá-lo em uma secretaria. Abaixo dessa nova estrutura, ficariam a Secretaria Extraordinária de Segurança Imediata do Presidente da República — responsável pela proteção do presidente, do vice, Geraldo Alckmin, e de seus familiares —, além da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que foi deslocada para a Casa Civil. Há temos de uma nova crise com a caserna.

Ontem, Múcio disse que qualquer crise atrapalha o governo, mas que é preciso olhar para a frente. Ele disse que GDias é um dos melhores amigos do Lula, mas reconheceu que há um incômodo com o GSI desde o 8 de janeiro.

— O GDias é um homem de bem, um dos melhores amigos do presidente. Desde o dia 8 de janeiro ficou uma coisa incômoda e acho que agora chegou num ponto que não dava mais para continuar. Tive com ele ontem, conversei com ele hoje e ele quer paz. Tem que ter um sistema misto como sempre foi e tocar para frente — afirmou o ministro da Defesa.


Fonte: O GLOBO

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