De Dalai Lama a Osho, o ‘guru do sexo’: relembre líderes espirituais que viraram alvo de denúncias por abuso

De Dalai Lama a Osho, o ‘guru do sexo’: relembre líderes espirituais que viraram alvo de denúncias por abuso

Polêmica com tibetano chama atenção para comportamentos abusivos em ambientes religiosos

Porto Velho, RO -
Líder do budismo tibetano, Dalai Lama, 87, ganhou repercussão internacional nesta semana após o vídeo em que ele pede que um menino “chupe” sua língua ter sido divulgado. Ele chegou a pedir desculpas, mas teve a imagem afetada. A situação reviveu as polêmicas em torno do religioso e fez com que outros casos de abuso envolvendo guias espirituais fossem relembrados.

De Osho a Sri Prem Baba, passando pelas centenas de escândalos de pedofilia na Igreja Católica, as denúncias de comportamentos abusivos em ambientes religiosos frequentemente vêm à tona. Desta vez, o décimo quarto Dalai Lama — que para muitos tibetanos é como um deus na terra —, foi acusado de pedofilia e teve o histórico de omissões em queixas de violência sexual revivido.

Osho, o ‘guru do sexo’

O líder espiritual Rajneesh Chandra Mohan Jain, mais conhecido como Osho (1931-1990), foi um defensor da meditação, celebração e criatividade. Entre os anos 70 e 80, seus discursos conseguiram mobilizar legiões de adeptos em um movimento internacional e que tinha, inclusive, “filiais” em diferentes países.

No entanto, o indiano também atraiu a ira de conservadores ao criticar a ortodoxia das religiões e ao pregar a liberdade sexual — fato que rendeu a ele o apelido de “guru do sexo”. Na época, ele dizia que o “orgasmo sexual oferece o primeiro vislumbre da meditação”. E, ao descbrir a causa da aids, determinou que seus discípulos fizessem o teste de HIV.

Osho foi um dos primeiros a recomendar o uso da camisinha e luvas de látex na hora do sexo — coisas que alimentaram os boatos de que ocorriam orgias em sua comunidade religiosa. Até hoje, o exame de aids é obrigatório para ir ao resort de meditação da Osho International, na Índia, e soropositivos não entram.

— Ele ganhou a alcunha de ‘guru do sexo’ em parte porque falava muito sobre sexo e orgasmos nas palestras, mas também porque todo mundo sabia que ele dormia com suas seguidoras — disse Hugh Milne, ex-guarda-costas de Osho, à rede britânica BBC.

João de Deus

Em 2018, a holandesa Zahira Lieneke Mous, à época aos 34 anos, fez uma denúncia pública: nas redes sociais, a coreógrafa disse ter sido abusada sexualmente por João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus. Após a repercussão de seu depoimento, mais de 400 mulheres também denunciaram o médium ao Ministério Público.

Os relatos revelaram um processo sistemático: as vítimas contaram que foram à Casa de Dom Inácio, o “hospital espiritual” mantido por ele em Abadiânia, em Goiás. As mulheres, que tinham entre 30 e 40 anos no momento do abuso, dizem que eram “escolhidas” pelo médium durante os atendimentos ao público — quando ele estaria incorporado por uma entidade espiritual.

Elas eram colocadas como últimas na fila de espera para um atendimento pessoal e, então, entravam no escritório que dava acesso à sala de cirurgia. Neste momento, ficavam no local apenas com João, que mantinha a porta trancada e as luzes apagadas. Ele as tocava nos seios e, em alguns casos, ordenava que as mulheres tocassem em seu pênis como parte de uma “limpeza espiritual”.

João de Deus foi preso em dezembro de 2018 e, em fevereiro deste ano, condenado a mais 48 anos e seis meses de prisão por crimes sexuais cometidos contra cinco vítimas entre 2015 e 2016. A decisão do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO) também determinou que ele indenize cada uma das vítimas em R$ 60 mil.

Sri Prem Baba

Ao buscar um sentido para a própria vida, em 1999 o paulistano Janderson Fernandes de Oliveira resolveu embarcar ao lado da mulher para a Índia. Segundo seu relato, ouvia vozes que lhe diziam que, ao completar 33 anos, deveria ir a Rishikesh, cidade indiana que é um dos berços da ioga e ponto de peregrinação.

Neste local sagrado, conheceu Sri Sachcha Baba Maharajji, um importante guru da linhagem hinduísta Saccha. Quatro anos mais tarde, ele próprio se tornou mestre: o Sri Prem Baba. Aos poucos, desenvolveu um método de autoconhecimento batizado de “o caminho do coração” — e que o rendeu milhares de seguidores, incluindo celebridades como Reynaldo Gianecchini e, entre políticos, Aécio Neves.

Em agosto de 2018, contudo, um grupo de 23 pessoas se reuniu com o mestre em uma casa em São Paulo. Naquela altura, já havia boatos sobre a conduta inapropriada do guru, que, na ocasião, tentou explicar o que tinha feito com duas seguidoras.

Elas estavam presentes e o encaravam enquanto ele admitia pela primeira vez que manteve práticas sexuais com duas das mulheres do grupo entre 2008 e 2010, ambas casadas com amigos íntimos do guia. Em seguida, as vítimas contaram que os “exercícios espirituais” propostos por ele se transformaram em relações físicas.

Após ouvir os depoimentos, Prem Baba olhou para o ex-marido de uma delas e disse: “preciso pedir perdão a você, cometi um erro moral”. Depois, disse que esses eram os únicos casos e voltou a pedir desculpas coletivas.

Igreja Católica e a pedofilia

As denúncias de violência sexual e pedofilia dentro da Igreja Católica são comuns e formam um cenário que eclodiu durante o papado de Bento XVI. Foi em seu pontificado, entre 2005 e 2013, que o Vaticano precisou assumir a responsabilidade por acusações feitas em diversas regiões do mundo.

Até então, diante das imputações, a Igreja contava com a ajuda de advogados e políticos para “abafar” as queixas. Entre elas, por exemplo, o caso do padre mexicano Marcial Maciel, fundador da congregação dos Legionários de Cristo.

A criação ocorreu em 1940 com o propósito de “aproximar” o ministério da Igreja dos mais jovens. Ao todo, porém, cerca de 175 menores de idade foram abusados sexualmente ao longo de quatro décadas.

Por isso, quando o pontífice assumiu seu mandato, uma das primeiras atitudes que tomou foi ordenar a aposentadoria de Maciel das atividades sacerdotais, em 2006. O acusado era considerado um “protegido” do predecessor de Bento XVI, o papa João Paulo II.


Fonte: O GLOBO

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