É fácil concordar que Estaduais duram mais do que deveriam. Difícil é minimizar efeito de seus resultados

É fácil concordar que Estaduais duram mais do que deveriam. Difícil é minimizar efeito de seus resultados

Por ora, ideal é recolher lições sobre os estágios de times em preparação, e não realizar um decreto sobre o futuro deles

Porto Velho, RO
- É um evento anual do calendário nacional: na reta final de Estaduais que duram mais do que deveriam, times grandes ainda em formação sofrem tropeços, criam-se turbulências exageradas e, em alguns casos, um fardo a ser carregado temporada adentro. Há momentos em que os torneios locais são fábricas de crises.

Há, no entanto, uma forma mais saudável de enxergar o fim de semana em que Fluminense, Corinthians e Atlético-MG foram surpreendidos por Volta Redonda, Ituano e Athletic, respectivamente. A temporada 2023 mexe com um dos aspectos mais frágeis do futebol brasileiro: a gestão de expectativas.

Pelo menos 70% dos clubes da Série A têm razões para acreditar em campanhas melhores e ambições maiores do que em 2022. A sensação vai dos mais ricos, com elencos fartos e a permanente cobrança por resultados, ao grupo que subiu da Série B: este é composto por quatro camisas de peso, impulsionadas por investimentos feitos por SAFs ou por recursos próprios, como o Grêmio de Luis Suárez. 

A rodada do fim de semana foi uma espécie de preparação: haverá decepções no caminho.

Por ora, o ideal é lançar um olhar racional para os resultados dos Estaduais. Recolher lições sobre os estágios de times em preparação, e não realizar um decreto sobre o futuro deles. 

O Fluminense é ótimo exemplo: tem uma base mantida e uma ideia clara, mas tropeçou num dos melhores trabalhos recentes de um time do interior do Rio de Janeiro. Ocorre que teve, em seu caminho, algo além do bom Volta Redonda. 

É curioso notar como a equipe de Fernando Diniz parece experimentar, em alguns jogos recentes, uma nova forma de atacar. Algo que, até aqui, ainda não flui tão naturalmente quanto o seu estilo habitual.

Aconteceu no primeiro tempo do Fla-Flu, e foi visto novamente no Sul Fluminense. Em boas passagens do jogo, Keno de um lado, e Arias do outro, eram usados abrindo o campo, mais próximos das linhas laterais, numa tentativa de abrir a defesa rival. 

Uma variação mais “posicional” do modelo mais característico de Diniz, em que a bola, e não o espaço ocupado por cada atleta, é a principal referência: costuma ser comum ver os dois “pontas” do Fluminense do mesmo lado, num time que aglomera em torno da bola para sobrecarregar um setor e trocar passes curtos. Nos últimos jogos, Diniz pareceu buscar distribuir seus atacantes em zonas do campo em alguns momentos.

Pode ser uma busca por variação contra alguns tipos de defesas que o Fluminense irá encontrar. Ou uma preocupação com rivais que têm contragolpes rápidos. O fato é que a análise dos jogos mostra que os Estaduais, por vezes, são campos de provas para times que, mesmo estruturados como o tricolor, correm atrás de novos caminhos. A sensação de equipes prontas para a temporada nem sempre é correta.

Em São Paulo, o Corinthians que caiu diante do Ituano fez um Campeonato Paulista que marcou os primeiros dois meses do primeiro trabalho da carreira de Fernando Lázaro. 

O time evoluiu muito com bola e, embora tenha dificuldades defensivas, reúne qualidade técnica que permite pensar num bom ano. O teto parecem ser as carências de elenco. Não é simples substituir Renato Augusto, tampouco achar peças de reposição no ataque.

Em Minas Gerais, a derrota do Atlético-MG com seu elenco robusto tem enorme influência da escalação de reservas e de um foco totalmente voltado para o jogo decisivo da Copa Libertadores.

O Brasil vive um paradoxo. É fácil concordar que os Estaduais deveriam ocupar menos espaço e menos relevância no calendário. O difícil é minimizar os efeitos dos resultados.

Palmeiras: Campeão em ajustes

Por falar em preparação, até o tão sólido Palmeiras ainda busca sua melhor versão em 2023. E passa por ajustes. Endrick ainda não exibiu todo o seu potencial: aos 16 anos, é natural. Após iniciar o ano com dois pontas, Abel Ferreira devolveu Rony ao centro do ataque e colocou um meia pelo lado direito. Mas Bruno Tabata ainda se mostra tímido, distante das soluções que Scarpa oferecia em 2022. Ainda assim, o Palmeiras deve continuar forte.

A irracionalidade no Botafogo

O Botafogo aguarda a partida contra o Brasiliense vivendo a mais irracional das preparações: transformar um jogo em prova de sobrevivência para um treinador. O trabalho de Luís Castro está próximo de completar um ano. 

Não é razoável que um jogo defina se o clube pretende ou não mantê-lo, muito menos num momento tão condicionado por desfalques. Dar paz a Castro é a forma mais fácil de o alvinegro melhorar seu rendimento.

Arsenal para ver e refletir

Os primeiros 45 minutos do Arsenal, no domingo, diante do Fulham, são para ver e rever. Uma exibição quase completa do time de Mikel Arteta: pressão para sufocar o adversário, capacidade de sair jogando quando o rival tentou pressionar, padrões claros para mover a bola, criatividade e gols.

A Premier League não está definida, mas o Arsenal tem algo mais do que os cinco pontos de vantagem sobre o City: tem o melhor futebol da Inglaterra.


Fonte: O GLOBO

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