Planalto vê com ceticismo ofensiva da oposição por instalação de CPI dos Atos

Planalto vê com ceticismo ofensiva da oposição por instalação de CPI dos Atos

Auxiliares de Lula aguardam lista de nomes que assinaram pedido de criação de comissão para definir estratégia

Porto Velho, RO -
Mesmo após a oposição anunciar ter apoio necessário para instalar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos de 8 de janeiro, articuladores políticos do Palácio do Planalto ainda veem com ceticismo a possibilidade de o colegiado sair do papel. 

Auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva dizem não haver qualquer estratégia definida sobre o tema e aguardam a lista de nomes dos parlamentares que assinaram o pedido de criação da comissão para definir os próximos passos.

Na noite de sexta-feira, o deputado federal André Fernandes (PL-CE) afirmou ter obtido a assinatura de 172 deputados e 32 senadores para seu requerimento de CPMI — número suficiente para que o pedido seja aprovado. Entre os nomes que ele diz ter assinado a lista estão o de integrantes do MDB e do União Brasil, duas siglas que fazem parte do governo.

Lula, porém, já disse ser contra a abertura de uma CPI no Congresso para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro destruíram as sedes dos Três Poderes. Para o presidente, o colegiado serviria apenas para "criar tumulto" e "dar palco" a bolsonaristas.

Como o requerimento de Fernandes ainda não foi protocolado, integrantes da base governista não descartam a possibilidade de tentar reverter parte dessas assinaturas no MDB e União Brasil, o que poderia inviabilizar a CPMI. Segundo integrantes das duas siglas, os parlamentares foram liberados para apoiar a comissão tanto na Câmara quanto no Senado.

Como os parlamentares estavam fora de Brasília após emendarem a folga Carnaval, o deputado José Guimarães (PT-CE) afirma que o assunto só deve ser discutido na próxima terça-feira.

— Vou tratar desse assunto na reunião dos líderes da base na terça-feira — disse ele ao GLOBO.

Articuladores de Lula no Congresso apostam que, apesar de o presidente se opor, a iniciativa representa mais desgaste aos bolsonaristas, alguns deles, como Fernandes, investigados sob suspeita de incentivar os atos golpistas.

― Com a CPMI, poderemos apurar com mais detalhes os três núcleos dos golpistas: o núcleo político, o núcleo militar e o núcleo econômico ― afirmou o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), vice-líder do governo no Congresso.

Para o deputado Alencar Santana (PT-SP), a CPMI é mais um instrumento para identificar e punir os golpistas que invadiram o Congresso, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF):

― Sabemos quem são os golpistas. Queremos que eles paguem, inclusive os parlamentares que instigaram e apoiaram (os atos).

Governistas ouvidos reservadamente avaliam, contudo, que o timing para instalação da CPMI não é o melhor, por acirrar mais a polarização entre petistas e bolsonaristas, sobretudo.

Instalação automática

O regimento do Congresso determina que a instauração da CPMI deve ser automática se o pedido tiver assinatura de pelo menos um terço dos deputados (171 de 513) e um terço dos senadores (27 de 81). Fernandes diz ter conseguido apoio de 172 deputados e de 32 senadores.

Mesmo com a determinação regimental, contudo, governistas acreditam haver margem para protelar seu início. A instalação depende da leitura do requerimento a ser feita pelo presidente do Congresso, função ocupada pelo senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG). O presidente do Senado tem o “poder de agenda”: ele não é obrigado a ler o requerimento de instalação e pode adiar a tarefa.

Nesse caso, os parlamentares podem recorrer ao STF requerendo a instalação da CPMI, o que não seria a primeira vez. Isso já ocorreu na CPI da Covid, quando o próprio Pacheco não leu o requerimento para instalar a comissão no Senado e, meses depois, foi obrigado a autorizá-la.

Outro caso ocorreu na CPI dos Bingos, quando o então presidente do Senado, José Sarney (MDB-AP), se recusou a nomear os membros, tarefa que coube a seu sucessor no comando da Casa, Renan Calheiros (MDB-AL).


Fonte: O GLOBO

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